Tropas russas se retiram rapidamente da região de Kiev e se concentram no Leste, diz Ucrânia

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Soldados ucranianos passam por uma ponte destruída na entrada de Irpin, perto de Kiev - Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

No Sul, Cruz Vermelha se prepara novamente para tentar retirar civis da cidade sitiada de Mariupol.


A Ucrânia afirmou neste sábado (2.abr) que as forças russas estão “se retirando rapidamente” da região de Kiev, no Norte do país, enquanto no Sudeste a Cruz Vermelha se prepara novamente para tentar retirar civis da cidade sitiada de Mariupol, no litoral do Mar de Azov.

Na semana passada, a Rússia anunciou que reduziria os ataques a Kiev e à cidade de Chernihiv, no Norte, para “facilitar as negociações” de cessar-fogo. Antes, Moscou havia afirmado que a “primeira fase” de sua operação militar estava concluída e que se concentraria em “libertar” as regiões separatistas pró-Moscou na região de Donbass, no Leste do país.

Neste sábado, o conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, confirmou que se observa uma “retirada rápida” dos russos do Norte. O governador da região de Chernihiv, Viacheslav Chaus, também confirmou que a cidade, devastada pelos combates nas últimas semanas, não sofreu novos ataques entre sexta a sábado à noite.

“Com a rápida retirada dos russos de Kiev e Chernihiv está bastante claro que a Rússia escolheu outra tática prioritária: retirar-se para o Leste e para o Sul, manter o controle de vastos territórios ocupados e ganhar uma base poderosa lá”, escreveu Podoliak no Telegram.

Ao que tudo indica, de fato a Rússia redirecionou suas forças da região ao redor de Kiev para o Leste da Ucrânia. Neste sábado, o governador da região de Luhansk, que é em grande parte controlada pelas forças separatistas pró-Moscou, disse que houve intensos combates durante a noite na cidade de Lysychansk e na cidade vizinha de Toshkivka, que deixaram 31 prédios danificados ou destruídos, a maioria residenciais.

Além de recuperar o controle da área em torno de Kiev, as tropas ucranianas avançavam em Kherson, no Sul, a única grande cidade que a Rússia conseguiu ocupar.

A situação é diferente no porto estratégico de Mariupol, no Mar de Azov, que está sitiado e onde as condições humanitárias são catastróficas. A cidade portuária é estratégica para Moscou:  tomá-la significa estabelecer um corredor terrestre entre a região de Donbass e a Península da Crimeia, no Mar Negro, anexada pelos russos em 2014.

Mariupol vem sendo alvo de constantes bombardeios russos, que deixaram pelo menos 5 mil civis mortos, de acordo com as autoridades locais. Outras 160 mil pessoas que permanecem na cidade sofrem com a escassez de alimentos, água e eletricidade.  O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou que lançaria outro esforço de retirada de moradores neste sábado, depois que uma segunda tentativa falhou na sexta-feira.

Em mensagem de vídeo, na manhã deste sábado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse ter conseguido resgatar 3.071 moradores da cidade na sexta.  Dezenas de ônibus transportando moradores chegaram a Zaporíjia, a 220 quilômetros de distância, na sexta-feira, segundo um jornalista da AFP no local.

— Choramos quando chegamos a esta área. Choramos quando vimos os soldados no posto de controle com emblemas ucranianos em seus braços — disse Olena, que carregava sua filhinha nos braços. — Minha casa foi destruída, eu vi em fotos. Nossa cidade não existe mais.

O secretário-geral adjunto da ONU para Assuntos Humanitários, o britânico Martin Griffiths, estará em Moscou no domingo para obter um “cessar-fogo humanitário” na Ucrânia. Segundo a ONU, mais de 4 milhões de refugiados fugiram do país desde a invasão russa, em 24 de fevereiro.

Enquanto isso, os EUA anunciaram, na noite de sexta-feira, uma novo pacote de ajuda militar de US$ 300 milhões à Ucrânia. Segundo o Departamento de Defesa, o novo pacote será destinado para “assistência de segurança”. A ajuda, somada ao US$ 1,6 bilhão já prometidos por Washington, inclui sistemas de foguetes guiados a laser, drones, munição, dispositivos de visão noturna, sistemas táticos de comunicação segura, suprimentos médicos e peças de reposição.

“Esta decisão ressalta o compromisso inabalável dos Estados Unidos com a soberania e integridade territorial da Ucrânia em apoio aos seus esforços heroicos para repelir a guerra da Rússia”, disse o porta-voz do Pentágono, John Kirby, em comunicado.

*Informações/O Globo