Ginecologista explica que o medicamento é usado em tratamentos de infecções vaginais, principalmente os de repetição. Ácido bórico ‘zera’ a flora vaginal, matando todas as bactérias (inclusive as boas).
Um produto que funciona como “mágica” e que pode “reequilibrar” o pH vaginal após a relação sexual e acabar com o “cheiro ruim” da vagina. É assim que os supositórios de ácido bórico viraram tendência (equivocada) no TikTok.
O termo “Boric acid suppositories” (supositórios de ácido bórico, em português) já teve mais de 100 milhões de visualizações na rede social. A ginecologista Lilian Fiorelli, especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia pela Universidade de São Paulo (USP), alerta para os riscos da prática.
Ácido bórico para tratar infecções
A mulher tem dentro da vagina um mundo de bactérias que fazem parte da proteção. O órgão feminino também tem uma função “autolimpante”, ou seja, não precisamos lavar a parte de dentro – a limpeza deve ser feita na vulva (a parte de fora).
Também vale lembrar que a vagina também tem cheiro. Como o pH vaginal é ácido, esse odor é normal. A mulher deve se preocupar se o cheiro for forte, como o odor de peixe podre, por exemplo. Isso pode indicar uma infecção e é hora de procurar ajuda.
E onde entra o ácido bórico? Ele é usado em tratamentos de infecções vaginais, principalmente na candidíase de repetição e vaginose de repetição. “Ele tem uma propriedade antifúngica, antibacteriana. Quando usado, é como se ele ‘zerasse’ a flora vaginal”, explica Fiorelli.
No entanto, segundo a ginecologista, o ácido bórico não é o tratamento número um escolhido para cuidar dessas infecções.
“O ácido bórico pode ser um dos tratamentos, mas não é o principal. Ele zera a flora vaginal. Outros tratamentos agem diretamente na causa da infecção, eles tratam a infecção e mantêm a flora vaginal saudável como sempre foi. Em alguns casos, principalmente nos mais recorrentes, de repetição, o ácido bórico vem como aliado no tratamento”, explica.
Lilian Fiorelli alerta que o uso inadvertido desse tipo de medicamento pode ser até prejudicial.
“Como ele zera a flora vaginal, ele vai matar as bactérias que causam o odor, mas também vai matar as bactérias boas que fazem parte da proteção. Isso aumenta a chance de a mulher persistir com a infecção. Ela vai tirar a proteção, fazendo com que novas infecções sejam instaladas. isso vira um processo sem fim”.
O ácido bórico é vendido no formato de óvulo (supositório) e em creme. Não é necessário ter uma receita médica para comprar.
Não é um tratamento para odor vaginal
Se a mulher está buscando no ácido bórico um possível “produto cosmético” para tratar o odor vaginal ou para mudar o “sabor” da vagina, ela está cometendo um erro.
“É preciso tomar muito cuidado com o que vemos na internet. O ácido bórico não é usado como tratamento cosmético e nem para o odor vaginal. Ele é usado como tratamento de infecções. Por isso, é preciso procurar um especialista e não usar qualquer coisa que aparece na internet”, alerta a ginecologista.
Caso haja um incômodo com o cheiro, a mulher possivelmente pode estar com alguma infecção.
“Se ela tem um odor ruim ao ponto de precisar usar o ácido bórico para melhorar, ela pode estar com infecção e precisa tratar adequadamente. E talvez esse tratamento não seja o ácido, talvez tenha outro mais específico para a infecção que ela está”, completa Lilian Fiorelli.
Sobre sabor, Lilian diz que é a vagina tem um pH normal de 4,2 e é normalmente ácida. O ácido bórico tem um pH entre 5 e 6, um pouco mais básico, por isso não é indicado usar de forma recorrente. “Isso muda o pH e traz mais problemas. Do ponto de vista do sabor, é difícil falar. Ele pode deixar a vagina menos ácida, mas não deixa mais doce, com gosto diferente.”.
“A vagina tem o odor característico, mas não é desagradável. É cheiro de vagina. Se eventualmente a mulher sente algum cheiro diferente, pode ser bactéria. Nós sabemos qual é o cheiro habitual, que não incomoda. Se ficar muito forte, pode ser alguma coisa e a mulher deve investigar”, finaliza a ginecologista.
*Com informações de Mariana Garcia/g1