Tia entra na Justiça por tutela dos trigêmeos de Parisi

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Crianças de 5 anos perderam os pais no intervalo de menos de seis meses e um tio materno os acolheu em Votuporanga/SP. Tia alega falta de representação legal dos meninos, além de exploração midiática da tragédia para arrecadar dinheiro.


A vida dos trigêmeos Pedro, Paulo e Felipe, de 5 anos, conhecidos nacionalmente como “gêmeos de Parisi”, por alusão ao município de origem, mesmo sendo naturais de Votuporanga/SP, ganha novo contorno após uma sequência de tragédias e mortes.

A família residia em Parisi/SP, até que em outubro de 2020, Renato o pai dos trigêmeos morreu, aos 36 anos, após sofrer um acidente de trânsito. Inclusive, a última publicação da mãe das crianças, Ana Paula, de 37 anos, nas redes sociais foi uma homenagem ao ex-marido, dias antes de falecer vítima de complicações da Covid-19 no mês passado. 

A pandemia ainda ceifou as vidas da avó materna e de uma tia das crianças no mesmo período em que tirou deles à mãe. 

Diante de tanto sofrimento, as crianças ficaram sob os cuidados do avô, em Parisi, até que algum tempo depois o tio materno Douglas Júnior Faria, de 27 anos, e família acolheu os pequenos em sua casa, em Votuporanga, no mesmo período em que o caso ganhou repercussão nacional por meio da imprensa. 

Uma vaquinha on-line foi criada com intento de arrecadar R$ 90 mil para ajudar a reconstruir as vidas de Pedro, Paulo e Felipe; com isso já havia arrecadado até ontem, pouco mais de R$ 236 mil. O valor é mais de 260% da meta inicial. 

Nesse curto período, sensibilizados pela história de vida das crianças, as pessoas abraçaram a causa e além do dinheiro para que o casal pudesse comprar um carro maior, em que coubesse a família toda, e construir um quarto com banheiro para as crianças; uma escola particular da cidade, Coopevo Dinâmica, doou três bolsas de estudos até o terceiro colegial, com materiais e uniformes inclusos. 

Porém, tal exposição na mídia e o afastamento do convívio familiar costumeiro incomodou a tia paterna Simone Santos Ferreira, moradora de Parisi, que sempre foi muito ligada às crianças requereu na Justiça a tutela delas, como uma forma de reconduzí-las ao lar. 

“As crianças sempre conviveram aqui comigo, e de repente o Douglas pegou as crianças e disse para mim que havia entrado com pedido de guarda e levou embora. Agora fica expondo as crianças de tal maneira que, eu não estou podendo nem ver as crianças. Combinei que ficar com os meninos no final de semana, mas não pude, porque eles tinham gravação. Aí, fica expondo as crianças com intuito financeiro e no momento, as crianças não precisam disso, eles precisam do afeto da família. Eles perderam praticamente a família inteira. Tudo bem a gente agradece muito as doações, as bolsas de escola, e a gente só tem a agradecer a solidariedade das pessoas. Mas ficar expondo as crianças assim é muito pesado”, explicou Simone. 

A tia, ainda explicou a reportagem que teria comentado com Douglas sobre a possibilidade de as crianças receberem acompanhamento psicológico para auxiliá-los e esclareceu: “Não tenho dúvidas de que ele seja um bom tio, que ama os meninos, mas precisamos manter a família unida, porque independente de quem fique com as crianças, elas vão precisar de todos”, concluiu Simone. 

O advogado Emerson Paulo Silva e Santos, que representa Simone, explicou ao Diário de Votuporanga que requereu na Justiça a tutela provisória das crianças e apontou como motivos a falta de representação legal das crianças pelo tio, que teria tirado Pedro, Paulo e Felipe do convívio familiar, alterando bruscamente a realidade dos meninos; além da exploração midiática da tragédia vivida pelas crianças para fins arrecadatórios. 

Silva e Santos ainda esclareceu que pediu à Justiça a tutela definitiva para que os meninos voltem para Parisi, além do congelamento dos recursos doados até que saia decisão sobre o futuro das crianças: “É importante preservar essas crianças, levá-las para um ambiente favorável, seguro, para que elas se sintam amparadas e protegidas”, explicou o advogado. 

Questionado, sobre o andamento do processo, Dr. Emerson Paulo Silva e Santos, salientou que pediu urgência ao caso e que o Ministério Público orientou por um estudo social para analisar o modo de vida dos trigêmeos tanto com Douglas, quanto com Simone. Contudo, até o momento, a Justiça ainda não emitiu decisão sobre o pedido liminar de tutela. 

Procurado pela reportagem, Douglas Júnior Faria, comentou sobre as acusações e ponderou: “Não creio que seja necessário tudo isso, brigar por meio da imprensa, dos jornais, isso sim é ruim. Tudo aqui está sendo pensado e planejado na tentativa de dar aos meninos um futuro melhor, com conforto, educação, amor e noção de família. Não sei porque isso agora, antes estava combinado que ela poderia buscar eles aos finais de semana, mas agora quer a guarda total? As crianças ganharam bolsas de estudo em uma escola muito boa, vai ser muito bom pra eles, para o futuro deles”. 

Douglas ainda comentou a acusação de que está explorando a imagem dos trigêmeos: “Eu jamais faria isso, a situação acabou nos colocando na imprensa. Veio um repórter e conversou comigo, depois outro também pediu para falar e através disso boas coisas vieram para as crianças, tenho que agradecer o que fizeram por elas, sozinho eu não conseguiria. Hoje graças à Deus, as pessoas doaram e permitiram que eles possam ter uma vida melhor e isso para mim é o suficiente (…) Não quero brigar na Justiça, isso me deixa triste, nunca passou pela minha cabeça abandoná-los e vou dar meu melhor para ajudar; eles têm pela frente mais 14, 15 anos para se tornarem adultos responsáveis e eu quero cuidar deles enquanto puder”.