Postagem afirmava que duas pessoas teriam morrido após serem imunizadas com a CoronaVac – o que não é verdade; Maurício Lacerda Nogueira é virologista e professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto e responsável por coordenar a terceira fase dos testes clínicos da vacina.
Indignado com o comentário de um internauta que afirmou que duas pessoas morreram depois de receber a primeira dose da CoronaVac, o médico virologista e professor Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Funfarme), Maurício Lacerda Nogueira, ganhou repercussão nas redes sociais ao rebater a fake news com palavrão.
A forma direta com que Maurício desmentiu o internauta viralizou, rendendo memes e repercutindo nacionalmente. “Teu cu”, respondeu o profissional, que foi responsável por coordenar a terceira fase dos testes clínicos da vacina em Rio Preto.
A CoronaVac foi a primeira vacina aplicada no Brasil. Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, a vacina obteve, por unanimidade, autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso emergencial no dia 17 de janeiro.
Uma página de humor até chegou a publicar uma imagem em que é possível ver a forma como o comentário foi respondido ao lado do extenso currículo do médico.
Maurício relatou em entrevista, que estava almoçando com o objetivo de esfriar a cabeça entre uma reunião e outra, quando entrou nas redes sociais e viu o comentário do internauta em uma reportagem sobre o início da aplicação da CoronaVac.
“Perdi a paciência. Chega uma hora que você cansa de discutir. De forma nenhuma achava que isso repercutiria. Pensei que o assunto estivesse encerrado, mas não controlamos as redes sociais. As coisas saem do seu domínio.”
“Aquele comentário é uma frustração do que está acontecendo há anos. O Umberto Eco escreveu que a internet deu voz aos idiotas. As pessoas têm utilizado a internet com uma voracidade impressionante”, complementou.
O virologista possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais e doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Além disso, Maurício é pós-doutorando no National Institute of Allergy and Infectious Diseases (2000 a 2004) e obteve o título de Livre Docente em Virologia. Atualmente, ele é professor Adjunto da Faculdade de Medicina de Rio Preto, mas também atua no Hospital de Base, mais especificamente na Unidade de Biologia Molecular.
Para ele, o Brasil vive, desde o ano passado, duas pandemias, o que deixa a situação ainda mais complicada e preocupante, principalmente porque as pessoas preferem acreditar naquilo que não condiz com a verdade.
“Vivemos a pandemia do coronavírus e a da fake news. O problema da fake news no Brasil é que ela é amplificada pelo Presidente da República. É a fake news da cloroquina, fake news da ivermectina e fake news da vacina. Isso é muito difícil para as pessoas que querem trabalhar de forma séria”, disse.
Maurício alegou que o problema é que as pessoas, atualmente, não conseguem debater um assunto com embasamento. “O debate parte do pressuposto que você tenha uma formação e que você entenda o que está debatendo. Se não for assim, não é debate, é conversa de boteco. Então, se você vai debater, é necessário que você respeite o conhecimento prévio daquele com quem você está debatendo. Não vou mais debater”, afirma.
“O que você fala atualmente tem o mesmo valor do que o ‘tiozão do WhatsApp’. As pessoas têm uma necessidade subconsciente de ter um feedback positivo. Portanto, preferem acreditar em uma coisa que te diz que ‘isso é uma gripezinha e tem um remédio que rapidinho vamos resolver’ do que um cientista falar que é ‘uma doença grave, com alta mortalidade”, completou.
Por fim, o virologista explicou que o comentário, em si, foi uma forma de demonstrar indignação diante de tudo que está vivenciando como pesquisador desde o início da pandemia.
“Não quis defender a CoronaVac, embora o assunto fosse esse. Quis defender o método científico e a ciência como mola propulsora da sociedade. Isso nos tirou da idade média. Nós vamos voltar para a idade média?”, ressaltou.
*Com informações g1 e TV TEM