Sei que dizer que não sabemos nada sobre o amanhã, sobre o futuro, é ser óbvio demais, mas uma vez ouvi que o óbvio também precisa ser dito, e em alguns casos repetido com frequência, quantas coisas óbvias para nós, mas não tão óbvias para os outros, e vice versa, e mesmo as coisas mais óbvias para nós, ouvi-las várias vezes cria um aspecto de convencimento.
O próximo dia, a próxima hora, até o próximo minuto é incerto, acontece que isso não pode destruir uma virtude nossa, a paciência.
Como estamos dominados pelo imediatismo, e a tecnologia ajuda muito nisso, ela trouxe rapidez. Uma rapidez que traz o remoto para perto, deixando claro aqui, que remoto é o distante, mas não são todos os remotos que nós temos controle.
Chegar em frente de casa, apertar um botão, e o portão abre, mesmo sem estar perto, e nem tocando; não quero mais aquele canal da tevê, aperto um botão, o canal muda, são controles da distância, acontece que a tecnologia nos faz imaginar que podemos ter o controle de toda distância, controlar o que está longe, mas não né?
Quando generalizamos a ideia do controle do distante, e penso que amanhã ou o ano que vem também é um distante, automaticamente e inconscientemente tento controla-lo.
Aliás não existe nada mais distante que o tempo, que o futuro, que o próximo instante, porque eles não existem, veja bem, não existe nada mais distante do que o que ainda não existe.
Então chance zero de um controle ao tempo remoto, seja ele passado ou futuro.
Tudo hoje nos convida a ir com muita pressa, o mundo é apressado, sem paciência, quer o controle do perto e do remoto, e quando isso não acontece, e é comum que não aconteça, perdemos a paciência.
Estamos sem paciência, nossas reações mostram isso, no trânsito, no trabalho, dentro de casa, sonhamos com o controle total das coisas, aliás até de pessoas.
Essa impaciência acaba nos levando a dois caminhos: Ou você se controla, conta até três, e se precisar até 30, e vai adquirindo paciência, como num condicionamento físico. Quanto mais paciência, mais você se treina e se torna uma pessoa paciente, do contrário vai adoecer e se tornar um paciente. Mas aquele que precisa de cuidados, os cuidados médicos para sua saúde.
Nessa viagem pela estrada da vida, enganamos a nós mesmos, é impressionante como que em toda viagem nosso objetivo é chegar, isso gera impaciência, e essa impaciência gera a incapacidade de observar a paisagem pela janela do ônibus do tempo, nos falta a percepção que o sentido da viagem é viajar, e não simplesmente chegar, aliás com relação a viagem da vida qual seria a chegada… Ahnn?
Aceleramos demais, e nessa pressa colocamos em risco nossa vida e a dos outros, porque somos de alguma forma motorista da vida dos outros também.
Que tal olhar em nossa volta e descobrir qual nossa realidade inadiável, hoje?
Que tal ter a percepção e enxergar o que a vida está pedindo hoje, e não o que os outros estão nos pedindo, não as expectativas ousadas demais dos outros sobre nós.
Existe uma passagem bíblica interessantíssima nas escrituras, no livro do Eclesiastes, que fala sobre o tempo.
Veja, uma lição escrita há aproximadamente 2.500 anos, ou seja, 500 anos antes de Cristo, e tão atual, e ainda tem gente que acha a Bíblia um livro velho, e ele diz assim:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz…”
Então a nós cabe a paciência da espera, para que o efeito mágico do tempo, faça as dificuldades e obstáculos que hoje são reais serem irreais amanhã.
Penso que a gente sofre mais com problemas imaginários do que reais.
Qual a porcentagem das coisas que você se preocupou, se estressou no limite, e realmente aconteceu?
Existem momentos que penso em Deus dando risada dos nossos planos, sabe aquela expressão: “Sabe de nada inocente”, acho que Deus fala muitas vezes para nós durante o dia, nós é que não ouvimos.
Santo Agostinho disse: “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência.” Pura verdade e penso que a maior busca do homem deve ser por sabedoria, que é bem diferente de conhecimento, existem muitos analfabetos sábios.
A natureza é mestra em ensinar, veja seu ritmo, veja como cresce uma semente, tudo tem seu tempo, o segredo da natureza é a paciência.
Tenha uma certeza, a paciência não tem uma aparência heroica, sei disso, mas consegue muito mais que a força.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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