SOBRIEDADE JÁ

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai

SER IGREJA, OU IR NA IGREJA?

Na infância lembro de ter ouvido muito, de que se tinha que ir à igreja, pais e professores davam esse conselho.

O que pra mim, era muito fácil, só atravessar a rua, morava muito perto, e eu gostava muito da música de lá.

Acontece que hoje, por ter ido à igreja, descobri que não basta ir à igreja, precisava ser igreja.

Aí o itinerário já é outro, um trajeto mais longo, tem que se atravessar as ruas do preconceito, da dificuldade de se relacionar, das decepções com líderes, mas principalmente preencher o vácuo das dúvidas com a fé.

É isso o perfeito, no ser igreja, a fé!

Mesmo tendo muitas perguntas, e nem todas as respostas, continuar sendo, e não só estar num templo.

E que fique claro, você não consegue ser igreja, sem ir à igreja.

É PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE ONTEM

Não é novidade pra ninguém, o quanto gosto de música.

E particularmente sou muito ligado nas letras das músicas.

Talvez aí uma dificuldade com muitas músicas de hoje.

Tem uma do Legião Urbana que o refrão diz: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã…”

Pois é, tem toda uma lógica aí. A de que o amor chega a ser inconsequente com o futuro, mas eu penso que é mais difícil amar as pessoas porque existiu o ontem.

Porque foi nesse ontem, que as pessoas nos magoaram, nos decepcionaram.

Ninguém deixou de amar alguém por causa do amanhã, mas muitos amores foram rompidos por causa do ontem.

E aí, se nosso passado não passar, pelo filtro do perdão. Esse passado não passa, e fica impossível dizer: “Eu amo as pessoas apesar do ontem.”

DA COLA DE SAPATEIRO AO K4

Alguns de vocês tem me sugerido falar aqui sobre o avanço do consumo de drogas. Vou colocar hoje duas situações interessantes:

– O uso de drogas não é algo novo no mundo, antes de Cristo existem relatos de consumo de alucinógenos, principalmente em rituais místicos, religiosos. Mas o boom do consumo se deu mesmo, quando a droga se tornou uma mercadoria, sendo vendida para dar e lucro.

– Outro aspecto interessante é o efeito causado hoje, nos anos 90 a drogas de entrada para adolescentes e até crianças era a cola de sapateiro, e tinha um porque, a cola inibia a fome, lembro de cenas de crianças na Praça da Sé, usando cola por não ter o que comer.

Hoje as drogas estão voltadas para o prazer, e aí para suprir essa fome coletiva que o modernismo trouxe, o prazer a todo custo.

VERDADE, A MAIOR CARIDADE…

Sei que o pensamento positivo, a convicção, são armas interessantes, mas a convicção cega acaba sendo a inimiga da verdade.

Quem já não ouviu: “O pior cego é aquele que não quer ver.”

Concordo e acho que o pior surdo é aquele que não quer escutar. Que não quer escutar a verdade.

Sinceramente, penso que a maior caridade que podemos fazer a alguém é lhe dizer a verdade.

Se você mata a fome hoje, amanhã ela terá fome novamente, agora a verdade é pra sempre.

Nem toda verdade é agradável, mas nem todo o agradável é verdadeiro.

Parece que existem ouvidos cheios de filtros, outros onde a verdade entra por um e sai pelo outro.

Cuidado com a suposta “caridade” do seu silêncio.

Silêncios normalmente carregam um estoque enorme de verdades, que nem sempre estamos dispostos a dizer.

NÃO SEI BEM O QUE QUERO, MAS SEI BEM O QUE NÃO QUERO…

A não ser que seja algo que a gente já teve e foi bom, querer demasiadamente alguma coisa pode ser uma precipitação.

Agora, ter a convicção de que não quer mais, que não quer viver algo que já viveu, e não deu certo é sabedoria.

Focar cegamente nos sonhos pode ser uma irresponsabilidade, mas não querer mais os pesadelos é um acerto.

Por isso, até aceito a posição de quem não tem certeza absoluta de tudo que quer, mas tem certeza de tudo que não quer mais.

E ajuda muito uma lista de “não querer”, para se chegar onde quer.

Olhar a cicatriz como lição de quem já viveu aquela dor, como quem já pisou naquele chão, e não quer voltar mais, é não ter a insanidade, ir se procurar, justamente no lugar onde se perdeu.

Por Carlinhos Marques

Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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