Polícia apura fura-fila de vacinação contra Covid-19 em Votuporanga com ao menos 135 suspeitos

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Ao Diário de Votuporanga, o delegado responsável pelo caso, Dr. Marco Aurélio da Silva Tirapelli, explicou que o prazo de conclusão do inquérito é de 30 dias, mas que devido à complexidade deve pedir prorrogação.


A Polícia Civil continua trabalhando no inquérito que busca elucidar supostas ações de fura-fila na vacinação contra a Covid-19 em Votuporanga/SP. Procedimento investigatório que está sob comando do Delegado de Polícia, Dr. Marco Aurélio da Silva Tirapelli, foi instaurado em virtude de um ofício do prefeito Jorge Seba (PSDB) e de requerimento solicitado pelo advogado Hery Katwinkell.

Ao Diário de Votuporanga, o delegado explicou que o inquérito segue colhendo informações: “Foram solicitadas algumas informações junto a Secretaria Municipal de Saúde, a Santa Casa e ao advogado que requereu o inquérito. Ao mesmo tempo que recebi também alguns advogados representando ou até mesmo as próprias pessoas citadas na lista, e que supostamente, receberam a vacina de forma irregular. Estamos apurando de forma independente e rigorosa, tendo consciência da importância do procedimento”, comentou Tirapelli. 

Perguntado sobre as pessoas procuraram a Delegacia de Polícia, o responsável pelo inquérito explicou que a procura foi espontânea: “Algumas pessoas nos procuraram de forma espontânea e esclareceram que tomaram a vacina, em muito dos casos, como cuidadores de idosos, e desta forma juntei a documentação”, explica. 

O delegado salientou que procura uma listagem oficial de imunizados junto a Secretaria da Saúde para que possa ocorrer um cruzamento de informações com a lista repassada por Katwinkell: “Quero consignar a independência desta investigação, assim como a confiança nas autoridades sanitárias, pois são eles que estão na linha de frente do enfrentamento à Covid. Esse trabalho é para entregar uma resposta a comunidade, a sociedade precisa ter respondido seus questionamentos, principalmente em um momento delicado como este”, afirmou. 

“Todos esses episódios acabaram suscitando uma repercussão bastante negativa, um mal-estar na sociedade, por exemplo, o caso no noticiado pela imprensa e nas redes sociais como vacina de vento, então nesse inquérito temos a responsabilidade de apurar realmente o que houve. São duas vertentes, estamos apurando além das infrações de normas sanitárias, delito de peculato, porque essa vacina tem um valor econômico. Precisamos saber se houve desvio [das doses], se houve compra, venda ou qualquer tipo de negociação a ponto de privilegiar certas pessoas em troca de vantagens… e por isso, estamos apurando o delito o peculato”, explicou Tirapelli. 

Questionado sobre possíveis apurações em paralelo ao inquérito, o delegado afirmou que tem ciência do procedimento instaurado pela Procuradoria Geral do Município que abriu sindicância administrativa para apurar responsabilidades entre os servidores; além do Ministério Público do Estado que repassou informações sobre o caso. 

“A Secretaria da Saúde tem sido bastante solícita às nossas solicitações de informações, essa colaboração é muito importante para o bom andamento dos trabalhos. Inclusive, estão corrigindo alguns erros quanto à publicidade da listagem, por exemplo, com relação a idade que diverge do nome, para que possamos ter acesso a lista retificada, correta, oficial. É vital para a investigação uma lista oficial para que possamos trabalhar em cima dela”, explicou o delegado.  

Tirapelli aproveitou para explicar as dificuldades de conduzir um inquérito tão robusto, em período de pandemia e adiantou que deve solicitar prorrogação no prazo de conclusão do procedimento: “O prazo de conclusão do inquérito é de 30 dias, mas tendo em vista, a complexidade dos fatos e a quantidade de pessoas a serem averiguadas, além da pandemia dificultar a coleta de depoimentos, possivelmente pediremos a prorrogação desse prazo. Porém, ainda é cedo para saber quanto tempo à mais, se 15 ou 30 dias. Vamos continuar o trabalho e próximo do fechamento a gente vê o que falta fazer e decide o que solicitar. Geralmente, o Poder Judiciário e o Ministério Público ciente das dificuldades já autorizam essa extensão de prazo para que seja feito um trabalho eficiente”, comentou Tirapelli.  

Ainda falando sobre a complexidade do caso, o delegado foi categórico ao afirmar que a lista inicial contém 135 nomes, mas que não está restrito a ela, podendo apurar qualquer suspeita: “Estamos trabalhando com 135 nomes que tinha na lista, mas vamos além, em busca de respostas à sociedade. Quero dar a essa investigação um aspecto mais amplo, no sentido de verificar essa listagem oficial dentro do regulamento do plano nacional de imunização que foi quem operacionalizou a vacinação contra a Covid. Sempre de maneira isenta e responsável, conforme determina a lei”. 

Tirapelli tocou num questionamento importante e a muito, sem resposta clara e evidente: “É importante entender os critérios e regulamento que balizaram e balizam o processo de vacinação. Por isso é importante ter muito cuidado, pelo que tenho observado, principalmente no que tange ao entendimento dos cuidadores [cuidadores de idosos]. A primeira orientação do Ministério da Saúde apontava que os cuidadores podiam ser imunizados, mas cuidadores são aqueles contratados para aquela função ou pode ser um familiar, uma pessoa da própria família? No começo, com base no que temos coletado, aconteceu isso. De pessoas que levavam seu pai, avô para vacinar e na triagem perguntavam ‘quem que cuida dele’? Aí a pessoa falava que quem cuidava era da própria família, pois não tinham condições financeiras para contratar alguém e dessa forma diversas pessoas teriam sido vacinadas por esse critério. Depois, houve uma modificação na orientação, no critério objetivo, onde cuidadores são profissionais contratos e tudo mais. Mas ainda estamos investigando, levantando essas respostas e em breve traremos à comunidade”, concluiu o Delegado de Polícia.