Pintor da Mente, Mestre dos Sonhos 

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

“O professor é o pintor da mente, e a sala de aula, sua tela em branco.” 

Por quantas vezes, na solidão do fim de tarde, depois que o último aluno cruzou o portão da escola, nós, professores, ficamos encarando aquela sala agora vazia? As carteiras desalinhadas, o quadro com restos de giz ou marcas de canetão, a poeira que flutua nos raios de sol entrando pela janela. Para muitos, esse cenário pode parecer desolador. Para nós, é a prova viva de que a arte aconteceu.

Ser professor no Brasil é assumir um pincel invisível e pintar sonhos em uma tela que, às vezes, chega amassada, rasgada ou cheia de manchas. Ainda assim, é nossa missão preparar as cores, misturar paciência com criatividade, e transformar cada dia de aula em um quadro digno de aplausos. Nem sempre temos as tintas certas ou o tempo que gostaríamos, mas, como bons artistas, improvisamos. 

Antes de falar sobre otimismo e esperança, precisamos encarar a realidade, porque ela é dura. E todos sabemos disso. Salários baixos, falta de recursos, turmas lotadas, violência dentro e fora da escola, burocracia sufocante. Nós, professores, convivemos diariamente com esses desafios, como pintores trabalhando em um galpão com o teto cheio de goteiras, onde o desafio é enfrentar as tempestades no ateliê da educação. 

Mas aqui vai o primeiro recado para você que está começando agora: as tempestades não duram para sempre. E, mesmo na chuva, é possível criar algo bonito. 

Lembro-me de uma história que aconteceu no meu terceiro ano como professor. Uma aluna que chegava todos os dias à escola com o uniforme amarrotado e uma tristeza nos olhos que rasgava o coração. Ela não falava muito, mal escrevia, e sua frequência era irregular. Porém, em uma atividade simples, pedi que os alunos desenhassem algo que os fazia felizes. Aline desenhou um sol amarelo gigante. Quando perguntei por quê, ela respondeu: “Porque é a única coisa que vejo da minha janela que parece sorrir pra mim.” Foi ali que percebi que, mesmo diante de realidades duras, temos a chance de iluminar vidas. 

Ser professor é aprender a celebrar pequenas vitórias, é todos os dias superar a si mesmo valorizando as pequenas conquistas. Talvez você não veja a mudança completa na vida de seus alunos, mas isso não significa que não plantou algo poderoso. Cada palavra que ensinamos, cada desafio que ajudamos um aluno a superar, é uma pincelada que pode transformar o quadro. 

Tive um aluno, que estava prestes a desistir da escola e acreditem, no 5º ano. “Pra quê estudar, professor? Meu pai não estudou e ganha mais do que o prefeito.” Eu não tinha uma resposta pronta, mas resolvi contar minha própria história. Disse a ele que quando terminei o ensino médio e escolhi ser professor foi por acreditar que o conhecimento é o que nos liberta. O menino não virou o aluno mais dedicado do mundo da noite para o dia, mas continuou na escola. No fim do ano, ele me entregou um bilhete: “Obrigado por não desistir de mim. Agora eu também não vou desistir.” 

Esses momentos são a prova de que nosso trabalho, por mais invisível que pareça, tem impacto. Como pintores, talvez nunca vejamos a exposição final, mas sabemos que cada traço importa. 

Você já reparou como a sala de aula tem o poder de transformar? Ali, um aluno que chegou desmotivado pode descobrir um talento. Ali, uma criança que vive em um lar sem livros pode ouvir pela primeira vez o encanto de uma história bem contada. Ali, amizades nascem, sonhos se desenham e futuros ganham forma. 

A sala de aula é o lugar onde mentes se expandem e onde podemos oferecer algo que nenhum outro ambiente pode: a experiência de aprender. E aprender não é só memorizar ou seguir regras; é questionar, imaginar, criar. Sempre digo que somos artistas, mas também alquimistas, porque transformamos curiosidade em conhecimento. 

Mas não adianta dizer que ser professor é viver em um paraíso do conhecimento, onde tudo dá certo. Por muitas vezes eu pensei em desistir, e essa mensagem agora é para vocês que pensam em desistir. 

Se você é um professor que, neste momento, pensa em desistir, eu entendo. Sério, entendo mesmo. Já pensei também. Tive dias em que chorei no banheiro da escola, me sentindo impotente diante de uma realidade que parecia não mudar. Mas hoje, depois de anos na profissão, percebo que cada um desses momentos me fortaleceu. A resistência é parte da nossa arte. 

Não se esqueça de que você é mais do que um professor; você é um pintor da mente. Cada aluno que passa pela sua sala carrega algo de você, mesmo que seja uma lembrança pequena ou um conselho que ele não seguirá de imediato. Persistir é um ato de coragem, e você não está sozinho. Há milhares de professores lutando as mesmas batalhas, enfrentando os mesmos medos e construindo os mesmos sonhos. Agora se você está ingressando agora na carreira de ser professor, digo a você, que acabou de assumir a profissão mais linda do mundo, porém com muitos desafios para superar. Provavelmente está cheio de dúvidas e inseguranças. Isso é normal. Eu diria que é essencial. A insegurança nos torna humanos, e o desejo de melhorar é o que nos faz crescer. 

Então, não tente ser perfeito. O perfeito é frio, distante, inalcançável. Seja você mesmo: humano, falho, apaixonado. Mostre aos seus alunos que errar é parte do processo. Ensine-os a tentarem de novo, e eles também ensinarão isso a você. Prepare-se para aprender tanto quanto ensina, porque a sala de aula é um lugar de trocas constantes. 

Você vai ouvir que ser professor no Brasil é inglório, que é um desperdício. Não acredite nisso. Ser professor é, antes de tudo, um ato de resistência. Cada aluno que sai da sua sala levando um pouco mais de esperança é a prova de que seu trabalho importa. 

Vamos pintar o futuro juntos, a frase que me fez escrever esse texto é muito poderosa: “O professor é o pintor da mente, e a sala de aula, sua tela em branco.” Ela me lembra que, todos os dias, temos a chance de recomeçar. Cada aula é uma nova pintura. Algumas serão borrados, outras ficarão lindas. Mas todas terão significado, porque é no ato de pintar que reside a verdadeira arte da educação. 

O professor não carrega apenas pincéis. Ele traz cores que mudam vidas: o azul da empatia, que acalma e acolhe; o vermelho da paixão, que inspira e move; o amarelo da criatividade, que ilumina caminhos inesperados. Ele mistura essas cores de forma única, criando nuances que refletem a singularidade de cada aluno. Às vezes, a mão pode tremer, e uma linha sair torta. Mas, mesmo nesses momentos, há beleza no esforço, porque é no imperfeito que se encontram as maiores lições de humanidade. 

A sala de aula é mais que uma tela, para esse professor ela é o lugar onde sonhos são esboçados e futuros começam a ganhar forma. A cada palavra, gesto ou olhar, o professor deixa marcas invisíveis, como pinceladas de amor e conhecimento que permanecerão nos corações de seus alunos. Alguns perceberão essas marcas imediatamente, enquanto outros só entenderão seu impacto anos depois, quando olharem para suas vidas e reconhecerem as cores que os ajudaram a enxergar o mundo de maneira diferente. 

E quando o professor se afasta da tela, sabe que nunca será possível ver o quadro final. Um verdadeiro paradoxo da educação, pintar com a certeza de que o resultado não será visto por inteiro, mas acreditar profundamente que o esforço vale a pena. Porque educar é um ato de fé. É acreditar no invisível, no potencial, no que ainda não foi pintado. 

Assim, seguimos, pinceladas após pinceladas, dia após dia, aula após aula, deixando nossas cores no futuro. E quando a luz incidir sobre essas telas, revelando a obra-prima que ajudamos a criar, saberemos que fomos mais que professores, fomos artistas do amanhã.

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