Em uma carta emocionante, Wanderleia Aparecida Gualdi enalteceu o trabalho dos profissionais.
“Obrigada por ser exemplo de como ajudar o próximo. Obrigada por me fazer ver o que é compaixão. Obrigada pela forma de transmitir esperança no momento em que tudo parece desaparecer, seja com um sorriso, um olhar ou com um aperto de mãos. Obrigada pela dedicação e profissionalismo, por fazer a diferença em momentos tão difíceis”. Com esse trecho de uma carta emocionante, os profissionais de Enfermagem da Santa Casa de Votuporanga foram homenageados por uma paciente, recebendo reconhecimento e toda a gratidão de Wanderleia Aparecida Gualdi.
Wanderleia precisou de atendimento em maio, após encaminhamento da Santa Casa de sua cidade, Macaubal. Fez uma cirurgia e logo recebeu alta. Porém, teve que retornar ao Hospital para outros procedimentos. “Durante o tempo que fiquei internada, pude perceber o quanto a Santa Casa de Votuporanga zela pela vida do paciente, proporcionando um lugar de acolhimento e tratamento digno a todos que estão no leito, passando desde a equipe de limpeza, alimentação, enfermeiros e médicos”, disse.
O agradecimento especial foi direcionado para os profissionais de enfermagem da Ala B. “Mas, em particular, o que mais me emocionou foi testemunhar o empenho e dedicação da equipe de enfermagem no dia a dia. A intensidade de tudo que fazem para ajudar e cuidar dos pacientes”, complementou.
A paciente esteve na Instituição no domingo (23.jul) para agradecer pessoalmente as equipes, com a carta e um mimo. “Foi um gesto de gratidão, não só pela minha vida, mas sim pelo trabalho louvável que a equipe de enfermagem faz, em especial a Ala B que foi onde fiquei”, afirmou.
Renata Rálio, supervisora de Enfermagem das Alas A e B, agradeceu a iniciativa. “Cuidamos de vários pacientes, sempre com o nosso melhor. E cada um para nós é único e especial. Wanderleia foi além. Trouxe palavras inspiradoras, incentivadoras. Trouxe alegria. Agradecemos a visita, vê-la recuperada e feliz é, sem dúvida, nosso maior presente”, finalizou.
Confira a carta na íntegra:
A equipe de enfermagem da ALA B (Santa Casa de Votuporanga)
Nos dias de hoje naturalmente o ser humano ficar imerso na sua rotina. Diante do trabalho, afazeres de casa, filhos, escola e família o tempo acaba se tornando escasso, pois sempre estará em falta em alguma área de nossas vidas. A sensação é que a semana passa em um piscar de olhos e mal dá tempo de descansar que tudo está recomeçando.
Sou uma pessoa que gosta de rotina, gosto dos horários pré-estabelecidos, de saber exatamente o que fazer naquele momento e depois. Tenho a impressão que assim tudo está sob controle, no caminho certo. Mas alguns dias atrás experimentei o oposto de tudo isso. Repentinamente fui tirada da rotina do meu dia e fui inserida no meio de uma rotina a qual não fazia parte dos meus planos. Na verdade, nenhum ser humano gostaria de ser inserido nesse ambiente, não que seja um lugar ruim, mas o motivo para estar ali não é o melhor. Uma rotina que roda de 12 e 12 horas. Horários pré- estabelecidos, para que tudo o que acontecer ali seja o suficiente para preservar a vida. Troca de turno, monitoramento dos pacientes, visita dos médicos, café da manhã, banho, remédios, almoço, remédios, chá da tarde, exames, averiguação dos pacientes, remédios, troca de turno, jantar, monitoramento dos pacientes, remédios, chá da noite, silêncio, remédios, mais silêncio, troca de turno. E isso se repete dia após dia, talvez uma interferência no horário para ajudar alguém com dores, mas na maioria dos dias essa é a rotina de um hospital.
Depois de um tempo deitada, é inevitável não decorar horários, nomes, rostos e se habituar a rotina. Você encara as mesmas cores sem variação. Tem dias que a esperança é perceptível e em outros dias não se faz presente.
Era um dia latente de esperança e o que restava era deixar o tempo passar. Mas lembro do exato momento que deixei de enxergar e passei a ver o significado de compaixão. Quase no fim de um turno, o olhar e a expressão de cansaço, mas tirando forças de algum lugar para ir ajudar alguém, mesmo que era o fim do seu horário de trabalho e isso significava ir para casa, ainda era um momento de ajudar alguém que continuaria ali internado. E dentro de segundos lembrei da Parábola do Bom Samaritano.
A história de um homem que seguindo seu caminho é roubado, espancado e deixado para morrer, as pessoas que naturalmente deveriam se importar simplesmente o ignoraram. Mas alguém se aproxima e o olha diferente. Um olhar movido de compaixão, nutrindo um dos sentimentos mais nobre do ser humano, a vontade de ajudar a aliviar a dor do outro. Já era fim do dia, com certeza o samaritano estava caminhando para ir para casa, mas pacientemente trata das feridas como se fosse suas, retira o homem do chão e leva para um lugar digno para ser cuidado.
Durante a pandemia passei a admirar os profissionais da saúde. Diante de uma guerra vocês não recuaram. Não consigo imaginar o turbilhão de sentimentos em volto desse período, aonde a orientação era o isolamento para a população, vocês precisavam se aproximar e encarar o desconhecido perigo de frente. Podemos dizer que estar nessa posição é o risco assumido diante da escolha da profissão, talvez impresso em contrato e pronunciado em um juramento.
Sei que existem inúmeros profissionais da saúde, mas nesse momento estou falando em especial aos profissionais da enfermagem. Teoricamente a responsabilidade da enfermagem é promoção, prevenção e recuperação da saúde dos pacientes. É a verdade que muitos enxergam, mas vamos além, é necessário ver a profundidade da dedicação e do empenho, o mover da compaixão.
Tem inúmeros requisitos que não fazem parte do contrato de trabalho, como por exemplo, a gentileza na forma de tratar o outro tornando o momento mais humano, a forma educada e paciente de explicar aquilo que tanto tem roubado a paz dos que esperam notícias, a dor de se colocar no lugar do outro que está aflito fisicamente e emocionalmente.
Tudo isso torna extremamente valioso o que fazem, entretanto o que mais me tocou no dia a dia de vocês é o reflexo de todas essas ações, pode ser que muitas vezes fica encoberto aos olhos, por isso a necessidade de ver e não só enxergar, é preciso romper o superficial. O bom samaritano fez isso por aquele homem, ele rompeu o espaço entre a sensação de estar perdido e de encontrar esperança. Ele acendeu uma faísca que incendia. Esperança de vida, esperança que existem pessoas que se importam, esperança que faz a diferença e salva, que incendia uma vida. Jesus é o bom samaritano e fez isso! Ele rompeu o espaço e veio preencher nossas vidas de esperança enquanto estávamos perdidos na estrada. Movido de compaixão Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e dores e nos deu vida. Por causa Dele temos paz, esperança e amor todos os dias.
Obrigada por ser exemplo de como ajudar o próximo. Obrigada por me fazer ver o que é compaixão. Obrigada pela forma de transmitir esperança no momento em que tudo parece desaparecer, seja com um sorriso, um olhar ou com um aperto de mãos. Obrigada pela dedicação e profissionalismo, por fazer a diferença em momentos tão difíceis. Que Deus abençoe e proteja cada um, que o Senhor proporcione sabedoria, paciência, saúde, força e que derrame amor, graça e misericórdia todos dias.
“Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou perto do homem e, vendo-o, compadeceu-se dele. E aproximando-se, fez curativos nos ferimentos dele, aplicando- lhes óleo e vinho. Depois, colocou aquele homem sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele.” Lucas 10: 33-34.