Em um discurso eivado de indignação e emoção, o vereador que é conhecido por apontar problemas na prestação do serviço, foi à tribuna onde fez um desabafo sobre o caso que culminou na morte de sua irmã. A Prefeitura de Votuporanga, em nota, “reiterou seu compromisso com a transparência, a ética profissional e a constante qualificação dos serviços prestados.”
Jorge Honorio
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A 38ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Votuporanga/SP, desta segunda-feira (27.out), ficou marcada por um discurso eivado de indignação e emoção, proferido pelo vereador Osmair Ferrari (PL), já conhecido por apontar problemas na Saúde, detonar de vez a gestão da pasta, traçando um paralelo com o caso envolvendo a morte de sua irmã, na madrugada deste domingo (26).
“Vou pegar um gancho na fala do vereador Abdala, ele estava falando da Secretaria da nossa Saúde Pública. A nossa saúde pública está uma vergonha! Está um absurdo a nossa saúde, infelizmente. Uma pasta, de todos os secretários que passaram de lá, trabalhavam, dava retorno para nós vereadores, atendia a população, mas infelizmente, essa gestão está deixando a desejar. Vou lembrar aqui alguns vereadores que vêm da outra administração. Me lembro muito bem, em janeiro, logo que o prefeito Jorge assumiu, ele veio aqui nessa Casa, no plenarinho, ou foi no aqui no plenário da Câmara, e disse: ‘vereadores, eu tenho meus secretários, mas o secretário que não condiz com o salário, que não trabalhar com a população, nós vamos trocar, porque tem que atender os senhores vereadores, tem que atender a população.’ Porque nós vereadores, estamos aqui como caixa de ressonância da sociedade. Nós não estamos aqui para brincar, não”, afirmou Osmair Ferrari.
“Ficam só fazendo fake news, essa é a verdade. Desculpa o meu desabafo, presidente, mas a gente tem que falar. Aqui, ó, uma indicação minha, eu fiz em janeiro desse ano. Até hoje, a secretária não veio falar comigo, o prefeito não veio falar comigo, e é de suma importância para o município, a instalação de uma farmácia lá na UPA. Porque os postinhos fecham às 5h da tarde, 6h, e no domingo o hospital às 22h. Então eu propus aqui, inclusive, eu copiei, porque quando a coisa é boa, a gente tem que copiar, de Ourinhos. O prefeito de Ourinhos era vereador na época, ele fez a indicação para o prefeito, o prefeito não fez, ele saiu candidato ganhou, e logo em janeiro já implantou essa farmácia na UPA, lá de Ourinhos. A população já tem que sair da UPA com o remédio na mão. Se é sábado, domingo, feriado, à noite, como é que faz? Os postinhos entregam lá no Mini-Hospital, agora aqui na UPA, não. Pega um final de semana prolongado, Carnaval, Natal, Ano Novo, enfim, só vai pegar daí dois, três dias. A pessoa que tem dinheiro pode ir até uma farmácia e comprar. E o que não tem?”, questionou o parlamentar.
“Como disse aqui o nosso colega Marcão Braz, sobre a UBS do Pacaembu, outra novela. Já vai para dois anos. Já vamos para dois anos que o prédio está pronto, está lá abandonado. Aí este vereador fez uma denúncia aqui nesta Casa, dizendo que lá ia ser depósito de vacina e medicamentos, e era verdade. Esse que é o problema, era verdade. Inclusive foi assinado aqui pelos 15 vereadores, está aqui o ofício assinado, e agradeço aos 15 vereadores na oportunidade, que nós assinamos pedindo para que isso não acontecesse. Daí 10, 15 dias foi feita uma reunião no gabinete, com a turma da base, e o prefeito anunciou que ia ser inaugurado em agosto. E cadê a UBS do Pacaembu? Cadê? Segundo o Marcão Braz, e eu confio em vossa excelência [dirigindo-se ao vereador], não foi o prefeito que disse, segundo o vereador Marcão Braz, sai em janeiro. Esperamos, antes tarde do que nunca. Que saia essa UBS o mais rápido possível, que também está se tornando uma vergonha. Por isso que a população nos cobra.”
“A população também está nos cobrando muito sobre as ambulâncias. Estou aqui, olha, a Prefeitura, a Câmara aprova empréstimos de R$ 13 milhões para a frota. Sabemos que aqui é para máquinas, carros, outras coisas, tratores, enfim. E também para algumas ambulâncias. Mas cadê essas ambulâncias? Está tudo sucateado. Quebra na pista. Tiraram a maioria das que estava aqui, foi uma denúncia que eu fiz junto ao gabinete, solicitei, porque estava com uma vergonha isso aqui. A sociedade vinha aqui agendar ambulância, tinha que passar no meio daquelas ambulâncias todas quebradas. Aí fica difícil para o servidor, porque eu gosto de falar o seguinte, o problema é gestão. O servidor não tem culpa de nada. Desde o serviço geral aos médicos. Não tem culpa, porque ele não faz gestão. É de cima para baixo”, afirmou o parlamentar, defendendo os servidores públicos municipais.
Em seguida, Osmair Ferrari cita uma reportagem do Diário, que retrata a locação de serviços de ambulância no município: “Eu não concordo com isso aqui. Ambulâncias, R$ 312 mil de ambulâncias alugadas? É brincadeira! Alugar ambulância por R$ 300 mil? Compra duas ambulâncias aí, não aquelas furgão que eu sei que é um pouco mais caro, mas alugar por R$ 300 mil, por 12 meses?”, volta questionar.
E em seguida, emenda: “Então esperamos que essas ambulâncias aí cheguem o mais rápido possível. Lógico, assim como os outros maquinários, esses R$ 13 milhões, que já foram aprovados, recentemente veio aqui para jogar no orçamento. Já aprovou, então esperamos que esses automóveis cheguem o mais rápido possível para estar dando auxílio à nossa população.”
“Vou falar sobre o caso da minha irmã aqui. Uma vergonha, não é porque é minha irmã, não. Infelizmente, ela faleceu ontem. Mas isso acontece todos os dias e todas as horas. Com todos os vereadores que estão aqui, com a população. Ela passou mal no sábado. Ligava no SAMU, eu tenho um pouco de experiência, eu dizia: ‘olha, vem aqui urgente’, ela estava agonizando. Eu falava para o atendente do SAMU, ‘vem até com o médico, já tem que ir urgente para Santa Casa’. ‘Ela está sofrendo aqui’. Era por volta de quatro horas. Está tudo aqui no meu celular”, relembrou o vereador.
“Ah, agora não pode, está atendendo uma outra ocorrência. Aí eu disse, então manda outra ambulância. Aí ele que estava não sei onde. E eu falei, meu amigo, e desliguei o telefone na cara do rapaz. Então, liguei no 193, no Corpo de Bombeiros, caiu lá em Bauru, sei lá onde. Outro absurdo. Você liga aqui no 190 e cai em Rio Preto. Você precisa de uma emergência até cair em Rio Preto. Os atendentes, as vezes, não sabem onde é Votuporanga, as ruas de Votuporanga. Foi o caso que aconteceu no 193. Liguei aqui na Promoção Social 3422-1181, no qual eu trabalhei muitos anos ali, como secretário, e atendia todo mundo igual, com respeito, com dignidade. E é isso que está faltando? Um absurdo com a sociedade. Eu estou me colocando no lugar das pessoas? Que é um absurdo”, bradou no ponto mais indignado do desabafo.
“Os meninos do SAMU foram lá. Receptivos. Não estou criticando eles. Volto a dizer, é gestão. É gestão. Isso é uma vergonha o que nós estamos passando em Votuporanga. Uma vergonha. Liguei para o prefeito, mandei áudio. Está ali, olha. Ele não me respondeu. Liguei para o Giora [Alexandre Giora – secretário de Governo], ele me atendeu na hora, mas eu estava um pouco alterado, até pela situação da minha irmã. Liguei de novo no SAMU, 20 minutos depois, e nada de SAMU. Chegou o SAMU, falou até que não ia levar lá na UPA, porque se levar lá na UPA, acontece com todo mundo. Todas as reclamações que nós temos aqui, tanto na UPA como no Mini-Hospital tem o tal do CROSS [Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde], outro absurdo. Infelizmente, tanto é verdade que ela estava passando, muito mal, e não era por falta de carro, carro a tinha lá de monte, eu e meus irmãos, mas ela precisava de uma ambulância, ela precisava de oxigênio, e horas depois ela veio falecer”, afirmou Osmair Ferrari.
“Esse é o absurdo [afirma erguendo uma folha de sulfite contendo um pedido de exame]. Ela [se referindo a irmã] faz tratamento aqui nessa UBS da Vila América. Ela não tem convênio. Eu tenho convênio porque nós temos convênio com a Prefeitura, Câmara, já minha esposa não tem, minha esposa é SUS também. Eu tenho por que já desconta aqui do salário de vereador. Mas eu estou me colocando no lugar das pessoas que não tem. Ela passou pelo postinho no dia 28 de fevereiro de 2025, olha aqui a letra da caneta da médica, não vou citar o nome da médica por questão de ética, até porque a médica fez tudo certo. Solicitou com prioridade. Está pedindo urgência. Sabe para quando marcaram? Dia 11 de novembro, ela morreu ontem.”
“Inclusive, nesse tempo nós pagamos uma consulta particular, também não vou citar o nome do médico, muito bom por sinal, o Daniel David me ajudou muito, Daniel, muito obrigado, minha família agradece o seu apoio lá na Santa Casa. Volto a repetir, o servidor da Saúde, da UPA, do SAMU, da Santa Casa, eles não têm culpa, o problema é gestão”, emendou.
Em seguida, o Osmair Ferrari segue traz à tona outro caso envolvendo vereadores na Casa de Leis: “Então, é uma situação que eu estou passando aqui para vocês verem, isso acontece lá, como acontece aqui conosco. Tem vereador aqui, também não vou falar o nome por ética, se ele quiser eu dou até a aparte para ele. Que a mãe morreu também por falta de atendimento há dois, três anos. Ele é vereador atual. Ele sabe também, ele sentiu na pele o que eu estou falando. Portanto, presidente, desculpe o meu desabafo. Mas eu não poderia deixar de falar. Agora vem falar que a nossa saúde está boa? Tem aqui, ó, sete itens, eu estou falando, mas cada vereador aqui pode vir aqui e falar por horas.”
“‘Ah, mas tem as demandas’. Eu sei que tem as demandas, mas atenda as pessoas com respeito. E vou dizer mais, para me finalizar, que meu tempo já passou, e agradeço, é um desabafo. As meninas da UBS, são xingadas pela população. Por quê? Porque elas não têm retaguarda. E elas não têm culpa. Eu sou um dos vereadores que mais venho aqui nessa tribuna, solicitar para que contrate os agentes de saúde. Está aí nas filas, presidente, primeiro, segundo, terceiro colocado em concurso público de 2022, e não é chamado. É brincadeira?”, relembrou um pedido antigo de convocação para os aprovados em concursos da Saúde.
“Recentemente fizemos uma reunião aqui, e vou torcer porque o Dr. Leandro que foi lá para a Administração, e ele participou aqui das reuniões. As agentes bucais ganham 20% de insalubridade, isso é um absurdo. Falei com os coveiros lá no velório da minha irmã, eles ganham 20%. Eles fazem exumação de cadáver, tem que ser 40%, o máximo. Como é que um coveiro, não se fala mais coveiro é assistente técnico, eles têm lá o cargo deles, mas não é isso, eu não estou menosprezando função nenhuma, pelo contrário, a questão é como é que um coveiro pode ganhar 20% de insalubridade? Isso é um crime! É desumano”, afirmou Osmair Ferrari.
O vereador concluiu afirmando que sua fala era desejo também da população: “Eu acho que muitos dos senhores vereadores queriam estar falando o que eu estou falando aqui. A população queria estar falando o que eu estou falando aqui, entendeu. Eu sou um vereador, eu estou aqui há sete mandatos. Foi uma das únicas vezes que eu me exaltei, presidente, porque eu tenho equilíbrio, continuo com equilíbrio, porque eu não estou aqui xingando ninguém. Mas eu tenho que vir aqui e falar a verdade. Se o prefeito não tomar posição dessa parte da gestão municipal na área da Saúde, ele está arrebentado.”
O discurso em tom de desabafo do vereador contrastou com o silêncio total e raro que tomou conta do Plenário ‘Dr. Octavio Viscardi’, após deixar a tribuna, Osmair Ferrari recebeu a intervenção do presidente da Casa, vereador Daniel David, visivelmente consternado com a situação.
“Queria complementar e dizer que a Secretaria da Saúde, hoje com a gestão da Ivonete Félix, ela tem dois braços ali, que é assessor de gestão estratégico e inovação. De estratégia e inovação não tem nada, nenhuma dessas duas assessoras dela, até porque não atendem vereador ali na Secretaria. E eu quero cumprimentar a Sueli Friosi, ex-vereadora dessa Casa, que tem dado um atendimento muito bom para os vereadores aqui. É a única que tem falado, e tem ordem ali dentro, pelo que eu já escutei falar, que essas duas assessoras não é para atender e não atendem vereador mesmo. Tanto se você ligar para as duas, se precisar eu falo o nome, mas vou falar o cargo, assessor de gestão de estratégia e inovação, não tem estratégia nenhuma e inova em nada, está sempre do mesmo jeito. Ainda bem que a Sueli foi lá e está fazendo um bom trabalho, e se a gente liga para ela, ela responde e resolve o problema na mesma hora para nós aqui. Realmente é decepcionante”, afirmou Daniel David.
Já de sua cadeira, Osmair Ferrari pede a palavra para uma última ponderação sobre o assunto: “Para finalizar, presidente, hoje estive aqui no UBS, cumprimentei as meninas. Porque a minha irmã sempre dizia que elas eram prestativas. E coloquei já a consulta à disposição, no caso o exame que é um ultrassom, logicamente para outra pessoa estar fazendo, porque da mesma forma que a minha irmã precisava, logicamente pode ter outra pessoa precisando.”
Ao voltar a palavra, Daniel David tece um último comentário: “Só para complementar, Osmair, o que me deixa mais indignado é que você mostra o problema. Então, nós, apontamos o problema, porque o vereador aqui é um para-raio, porque as pessoas vêm reclamar as coisas, nós passamos, mas mesmo você mostrando ali que está o problema, o problema não é resolvido. Isso que é pior ainda.”
O assunto voltou a tribuna nos últimos instantes da sessão, por meio do vereador Marcão Braz (PP): “Eu gostaria que amanhã nós todos vereadores, juntos, propuséssemos requerimentos: o primeiro, com permissão do vereador Osmair, se assim ele desejar, esse contato dele com o SAMU, porque nós precisamos averiguar o que aconteceu. Porque é muito grave, uma denúncia muito séria. Ainda mais sabendo que o SAMU é regulado pela OSS [Organização Social de Saúde] pela Santa Casa, então precisamos averiguar essa situação número 1.”
O que diz a Secretaria Municipal da Saúde de Votuporanga?
Procurada pelo Diário, a Secretaria Municipal da Saúde de Votuporanga respondeu, por meio de nota, “que apura todos os detalhes do registro da chamada realizada ao SAMU. Todas as ligações são gravadas e passam por avaliação técnica, de modo a verificar integralmente as condutas adotadas pela equipe de atendimento.
O SAMU segue protocolos padronizados em âmbito nacional e orienta os cidadãos, durante as chamadas, sobre os procedimentos a serem adotados. A Central de Regulação realiza perguntas específicas para coletar informações essenciais, que permitem o envio da viatura mais adequada conforme a gravidade e o tipo de ocorrência, observando rigorosamente as normas de regulação.
A paciente vinha sendo acompanhada pela Rede Básica de Atenção à Saúde e, paralelamente, recebia atendimento pela Atenção Especializada em São José do Rio Preto, tendo passado por diversas consultas previamente agendadas com especialistas.
Sobre o agendamento do referido exame, em 18 de setembro a Unidade de Saúde entrou em contato para informar a data de realização do procedimento no dia 24 de setembro, no entanto, a paciente se encontrava internada no HB e, por isso, o exame foi reagendado para novembro.
A Secretaria reitera seu compromisso com a transparência, a ética profissional e a constante qualificação dos serviços prestados à população votuporanguense.”





