Na sala de aula somos pequenas formigas com grandes sonhos

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

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Acordei naquela manhã com uma energia estranha. Era o final do terceiro bimestre, provas para corrigir, cadernetas para organizar, relatórios para fazer e enquanto olhava pela janela do ônibus a caminho do trabalho, a luz do sol se espremia entre as folhas das árvores, criando um espetáculo que me levava a algumas reflexões. No entanto, sabia que, assim como aquele sol radiante, a realidade da sala de aula poderia ser muito diferente. Para muitos alunos, o dia era apenas mais um. Para mim, era uma nova oportunidade. Mas a pergunta que sempre me perseguia era: até quando essa luta valeria a pena?

Entrei na sala com um sorriso, mas logo me deparei com as expressões entediadas de alguns alunos. Eles estavam mais preocupados com dancinhas daquelas redes sociais do que com o que estava prestes a ser ensinado. Olhei para eles e me lembrei de uma formiga. Sim, a formiga! Um pequeno ser que, com seu tamanho insignificante, tem a força de um gigante. As formigas não desistem, e, acreditem, essa comparação me ajuda a enfrentar os desafios diários.

Lembro-me de um dos alunos com um olhar de desdém, sabe aquela criança que desde o início do ano, está ali somente de corpo presente, mas a mente longe. Tentei de tudo: diálogos, jogos, projetos que poderiam despertar seu interesse. Mas cada tentativa era como se estivesse tentando atravessar um rio a nado sem saber se haveria uma margem do outro lado. Na verdade, muitas vezes a margem parecia distante, quase inatingível.

A falta de interesse dos alunos é uma constante na nossa profissão. Há dias em que você se pergunta se o esforço vale a pena. Em um mundo tão cheio de distrações, como conseguir que eles se importem com o que você está dizendo? A educação não é só transmitir conhecimento; é uma conexão, uma troca. E eu estava lá, dando minha voz ao vento.

Para ajudar temos que lidar com a falta de apoio dos políticos que devem cuidar da estrutura e materiais que usamos, e as coisas não melhoram quando olhamos para a estrutura da escola. Na verdade, muitas vezes se tornam mais desafiadoras. O suporte que deveríamos ter parece uma miragem em um deserto de burocracia. Tive uma experiência emblemática uma vez que solicitei alguns recursos tecnológicos para deixar as aulas mais atrativas. Com um sorriso, a pessoa me disse que o orçamento estava comprometido e que, para este ano, não teríamos novos materiais.

Um peso caía sobre mim. Era mais uma vez a sensação de que estávamos nadando contra a correnteza. Sai daquela conversa sentindo que a luta não era apenas minha, mas de todos nós, professores. Fiquei pensando em como me sentia como uma formiga tentando mover um pedaço de açúcar que parecia muito maior do que eu. Mas, assim como a formiga, não posso desistir.

Isso sem pensar na indiferença da sociedade, a falta de reconhecimento é outro desafio que muitos professores enfrentam. Às vezes, ouvimos comentários como “Você trabalha ou só dá aulas” ou “Por que não busca um emprego melhor?”. Essas palavras cortam como facas. O que muitos não entendem é que, por trás de cada aula, há um professor que se dedica, que sonha em fazer a diferença.

Lembro de uma vez, em uma conversa na sala dos professores, falando sobre uma conquista de um aluno, recebi risadas e comentários sarcásticos. Aquilo me machucou. Naquele momento, percebi que muitos ainda não enxergavam o valor do nosso trabalho. Mas, em vez de me abater, resolvi usar isso como combustível. Afinal, cada sorriso de um aluno, cada momento em que eles se importam, vale muito mais do que qualquer reconhecimento externo.

E assim, o bimestre foi avançando. Meu expediente foi acabando e, ao voltar da escola, passei em frente a um formigueiro. Olhei para aquelas pequenas criaturas trabalhando em equipe, cada uma com sua tarefa, todas voltadas para um objetivo comum. Pensei em como, assim como elas, nós, professores, trabalhamos incansavelmente, muitas vezes sem que os outros percebam.

Decidi que, a partir daquele dia, faria algo diferente. Planejei uma aula que seria fora da escola, onde o tema seria meios de comunicação, fomos visitar uma rádio. Quando cheguei com os alunos, percebi a diferença no ar. O sol brilhava, e o riso deles ecoava pelo espaço. Os alunos estavam mais atentos, mais engajados. Cada pergunta, cada resposta, me fazia lembrar que ainda havia esperança.

Aquele dia foi espetacular. Os alunos participaram, interagiram, e eu vi crianças que há muito tempo estavam apenas existindo, ganhando espaço, aqueles que costumavam ser tão distantes, levantando a mão para compartilhar suas ideias. A conexão estava ali, e era palpável. Lembrei-me da formiga que, mesmo diante de um desafio, continua buscando a solução. O que eu queria era que meus alunos vissem que o aprendizado pode ser divertido, que eles também têm um papel nesse processo.

Ao longo do bimestre, fui percebendo que não estava sozinho. Outros professores também lutavam, cada um à sua maneira, buscando novas formas de engajar os alunos. Criamos um grupo de apoio e trocamos experiências, isso me fez lembrar de outra característica das formigas: elas se ajudam. Essa colaboração nos fez perceber que juntos somos mais fortes. E eu, que antes me sentia sozinho em minha luta, agora estava cercado por colegas que compartilhavam o mesmo objetivo. Essa rede de apoio se tornou essencial. Com isso, encontramos novas formas de motivar nossos alunos e promover o aprendizado, aquele que tem um significado e proporciona experiências inesquecíveis.

A conquista e o reconhecimento vêm com o passar do tempo, algumas mudanças começarão a surgir. Logo vão perceber a mobilização dos professores e decidiram investir em novas ferramentas e materiais. Não foi uma revolução, mas aos poucos, as coisas começaram a mudar e quando percebermos estaremos em outro nível de conquistas.

Esse reconhecimento, ainda que tímido, me fez perceber que a luta vale a pena. Ao olharmos para trás e percebermos o quanto conseguimos conquistar juntos, fica claro que cada gota de suor e cada minuto dedicado a nossos alunos é um investimento no futuro deles e no nosso.

Às vezes, me pergunto se essa luta é apenas minha ou se é um reflexo do que muitos professores sentem. O que nos motiva a continuar? O que faz com que, mesmo diante de tantos obstáculos, ainda acreditemos na educação? A resposta, para mim, é simples: o impacto que causamos na vida dos alunos.

É como um jogo de dominó: cada ensinamento pode gerar um efeito em cadeia. Quando um aluno se destaca, quando um deles realiza um sonho, eu sei que fiz parte daquela história. A sensação de ver uma criança que passou por mim se formando na universidade, por exemplo, é indescritível. É como se, ao longo dos anos, tivéssemos carregado um pouco do peso uns dos outros.

E assim, com cada desafio superado, percebo que a resiliência é uma marca registrada da nossa profissão. Cada dia é um novo obstáculo, mas também uma nova chance. Em cada batalha, assim como as formigas que nunca desistem, encontramos força para continuar.

Sim, os dias difíceis existem, mas as pequenas vitórias são o que nos alimenta. Aquele olhar de interesse, aquele riso genuíno, a participação em sala de aula, tudo isso nos dá esperança. Nossas lutas diárias são sementes que plantamos para um futuro melhor.

Concluindo essa reflexão, deixo a vocês uma frase que espero que ecoe em suas mentes: “Como as formigas, seguimos firmes na luta, um passo de cada vez, construindo um legado que vai além da sala de aula.”

É assim que seguimos, com coragem e esperança, porque, no final das contas, somos todos vencedores nessa jornada chamada educação. Vamos em frente, juntos, como um exército de formigas, sempre em busca do nosso doce objetivo: o futuro de nossos alunos.

Até o próximo texto seguindo firmes com a força de uma formiga.

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