Na batida terapêutica 

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Apresentação da Banda Sintonia Especial, em janeiro do ano passado, com o professor e músico Samuel Silas de Oliveira - Foto: Arquivo Pessoal 

Após o falecimento, em 2020, do músico e professor Ailton Rosa Assis, popularmente conhecido como Borboleta, a Apae de Votuporanga careceu de um profissional que pudesse prosseguir com o trabalho de musicalização na associação. Samuel Silas de Oliveira foi o sucessor e, atualmente, proporciona momentos singulares aos mais de 180 atendidos.


@leidiane_vicente

A música acompanha a existência da humanidade desde a pré-história. Um possível início seria há 50 mil anos, com os povos originários, que começaram a desenvolver ações sonoras baseadas na observação dos fenômenos da natureza. 

Utilizada como forma de comunicação e expressão artística, transcende barreiras culturais, religiosas, ritualísticas, geracionais e linguísticas.  

A música vai muito além da própria capacidade de traduzir os efeitos que provoca, tanto psicologicamente quanto fisicamente nas pessoas. Emociona, inspira, motiva, diverte e, dentre coisas mais, ensina. 

Há, aproximadamente, cinco anos, o músico e professor Samuel Silas de Oliveira, preserva momentos lúdicos para mais de 180 alunos, de diversas faixas etárias, na Apae Votuporanga (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). 

“Os instrumentos musicais utilizados são dos mais variados possíveis, pois cada pessoa possui uma particularidade e, em cima disso, eu busco estimular ela para uma boa desenvoltura, não só musical, mas também humana”, explica Samuel sobre a abordagem e escolha de cada equipamento. 

A Apae é o maior movimento filantrópico do Brasil no atendimento a pessoas com deficiência intelectual, múltipla e autismo. Oferecendo serviços de educação, saúde, assistência social e programas de inclusão, o objetivo da associação é promover a atenção integral aos atendidos, sem nenhum tipo de distinção. 

Segundo o professor, a música utilizada como ferramenta de conexão entre sonoridade e instrumento, pode chegar a regiões do cérebro onde outras atividades não alcançam significativamente. 

“No trabalhado com os atendidos, a música estimula a superação de criação e até socialização, pois não é uma atividade forçada, muito pelo contrário. Ela desenvolve questões cognitivas, intelectuais e até culturais de uma maneira muito natural. Os alunos sentem uma certa realização participando das atividades musicais”, elucida Samuel no que concerne a relevância da interação. 

Baseada na conquista da confiança e afetividade, a metodologia da aula proporcionada pelo músico leva em conta particularidades, conhecimentos e limites de cada aluno. “Por incrível que pareça a música é a última ferramenta usada”, aponta ele.  

Além das aulas de música para a Apae de Votuporanga e Poloni, Samuel também ensina no Recanto Tia Marlene e em mais duas escolas para turmas infantis – Foto: Milena Lima

No início do processo de ensinamento e aprendizagem, o professor começa a despertar nos atendidos as potencialidades de cada um de maneira espontânea e tênue, sem qualquer tipo de imposição ou pressão. 

“O que posso dizer é que para aplicar qualquer contexto que seja, antes, eu faço um trabalho de conquista com cada atendido. A partir disso, a musicalidade e os outros aspectos surgem bem feitos e com muita alegria, amor e, principalmente, com naturalidade. Dessa forma, o tempo de aula é bem variável, mas não pode ser nada que esgote e cause a exaustão e o mal estar neles”, descreve Samuel se referindo a gentileza da pedagogia utilizada.  

Manipular a música como ferramenta terapêutica brinda com uma linguagem universal que extrapola as barreiras da comunicação tradicional. Esse recurso permite que pessoas com deficiência expressem emoções, aprimorem a coordenação motora, desenvolvam autonomia, ampliem a criatividade e estabeleçam habilidades sociais de maneira envolvente e inclusiva. 

A abrangência e generosidade da melodia transformam a realidade dos atendidos da Apae Votuporanga todas as sextas-feiras, das 8h às 11h e, na parte da tarde, das 13h às 16h. Lá, eles contam com bumbo, surdo, caixa de guerra, bateria, guitarra, violão, teclado, percussão e outros mais. 

Sem contraindicação, a música está para os instrumentos musicais assim como as pessoas estão inseridas em histórias. Não há limites para onde a sonoridade pode estar e a quem pode escutar. 

 “Sim, pois tudo que nos rodeia é musical. Desde o nosso corpo a tudo ao redor são sons dos mais variados possíveis, então posso dizer que a música é para todos e está presente no tudo e no nada que possamos experimentar”, reconhece Samuel acerca da grandiosidade e potência musical.