Moradores e ambientalistas reclamam de excesso de podas de árvores em Votuporanga

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Poda drástica de uma Pataca, possivelmente uma das únicas da espécie no município

Em um breve giro por bairros da cidade é possível localizar diversas árvores ‘mutiladas’ por podas agressivas.


Um aspecto que contribui para a beleza de uma cidade é a grande arborização do município. Mas, nas últimas semanas, o panorama ambiental de Votuporanga tem passado por problemas, uma grande quantidade de podas de árvores está sendo registrada por moradores de diversos bairros, e tem causado revolta na população e em organizações de proteção ambiental.

Registro das 08 árvores que foram arrancadas em frente ao antigo estádio Plínio Marin para a “construção de calçada” segundo informações de funcionários que trabalhavam no local

A árvore da espécie sibipiruna, também conhecida como sebipira, é uma árvore de grande porte, nativa do Brasil e é muito usada para arborização em várias cidades brasileiras, pelo menos 08 árvores da espécie foram arrancadas em frente ao antigo campo da Votuporanguense segundo denúncias de moradores.

A árvore é um bem público, pessoas alegam que estavam belíssimas, deixava o local ainda mais bonito e ali estavam por 50 anos pelo menos. Elas não apresentavam nenhum risco para ninguém, suas copas estavam bonitas e é normal que nessa época de inverno elas soltem muitas folhas, mas nada que atrapalhe a vida de ninguém. O que fizeram sem duvida foi um desrespeito com a natureza!

Mas que tipo de política ambiental é essa que permite tanto descaso com a natureza? Verifica-se que essa política não chama muito a atenção, pois a preocupação maior encontra-se voltada para as questões de lucratividade financeira e com isso estão esquecendo-se do primordial; a qualidade de vida do ser humano que depende não apenas de uma boa alimentação, mas principalmente do ambiente natural que propicia ar puro, ainda mais se tratando da zona urbana marcada por inúmeras situações de poluição ambiental.

Foto que registra podas em frente ao Recanto Tia Marlene

A arborização é essencial a qualquer planejamento urbano e tem funções importantíssimas como: propiciar sombra, purificar o ar, atrair aves, diminuir a poluição sonora, constituir fator estético e paisagístico, diminuir o impacto das chuvas, contribuir para o balanço hídrico, valorizar a qualidade de vida local, assim como economicamente as propriedades ao entorno.

O jornal Diário de Votuporanga conversou com o Engenheiro Civil Milton Cesar de Brito e também com o geógrafo, pedagogo e Coordenador do Projeto Maritaca Abílio Calille Junior que falaram sobre o problema, acompanhe:

(Milton Cesar de Brito, Engenheiro Civil)

DV: Como entender a política ambiental em se tratando de meio ambiente e ecologia em nosso município?

“Em Votuporanga SP,  por exemplo, percebo que há uma publicidade do acerca do assunto plantio de árvores. Inclusive, existe no site do órgão ambiental o “PLACAR DA ÁRVORE”  onde é possível verificar a quantidade de árvores que são plantadas nessa cidade. Porém, é notório verificar que ao mesmo tempo que são plantadas muitas árvores, outras em fase adulta são derrubadas sem ao mínimo apresentarem motivos convincentes. Não há dificuldade alguma em conseguir autorização para derrubar árvore, existe caso que o proprietário requisitou a derrubada de árvore perto da praça São Bento e disse que iria plantar outra muda no local, isso aconteceu, porém, com o passar do tempo, caiu no esquecimento e o proprietário simplesmente tirou as mudas plantadas e acabou de impermeabilizar o local na calçada, enfim, são muitas as histórias de árvores adultas, gozando de perfeita saúde sendo sacrificadas sem dó nem piedade. Naturalmente, toda muda plantada requer manutenção pelo menos até que a árvore entre na fase da juventude. Em contrapartida, percebe-se que isso não acontece, por exemplo, há algum tempo movi uma ação voluntária e solitária, depois fui convidado a participar junto com moradores do bairro Eulália com a participação da Polícia Ambiental em nome da Tenente Sarah e com participação da Unifev para reflorestar a margem da represa da Saev, visando assim a possível recuperação da mata ciliar, mas imaginei que haveria uma preocupação da Saev em fazer a manutenção das mudas, tendo em vista que o órgão forneceu muitas das mudas e que existe água suficiente para regar, mas não é o que aconteceu, naquele local é difícil até a roçagem, ao mudar a Administração eu tive contato com o Secretário Wartão e consegui que o mesmo fizesse a roçagem, o qual agradeço, pois o mato estava muito alto sufocando as mudas, neste local há relatos de queimadas terríveis porque o mato fica alto e nessa época de seca acaba se transformando em combustível de fácil combustão. Felizmente, existem várias ações Voluntárias e Solitárias, porém, há muita dificuldade para manutenção, tornando assim muito sacrificante e desmotivante. Exemplo disso foi que na ocasião consegui uma equipe de Paramotor para jogar sementes na mata além de me embrenhar na mata para jogar sementes, muitas pessoas sabendo de minhas ações me doaram sementes, mudas e até me ajudaram nos eventos, porém, neste ano a escassez da chuva foi inesperada, minhas ações foram todas em vão. Fico pensando quando o ser humano irá se importar com o meio ambiente, há uma busca incessante do bem estar, mas a derrubada de árvores, o descarte de lixo irregular, a falta de limpeza pública tudo isso já mostra sinais prejudiciais àqueles que buscam tanto pelo conforto, haja vista as doenças como leishmaniose, dengue e outras doenças causadas por enchentes devido ao excesso de impermeabilização do solo, falta de drenagem como jardins, plantios de árvores de calçada e muitas outras. Diversas desculpas são utilizadas para sacrificar árvores constantemente, até a acessibilidade é utilizada para tanto, mas a calçada não pode ser aumentada porque os veículos poluidores têm mais atenção, o incentivo ao trânsito é muito mais importante do que uma sombra em uma cidade com temperaturas extremas, ou uma simples  renovação do ar que respiramos. E assim caminha a humanidade.”

“Vivo com a esperança de que a política ambiental seja repensada e espero que futuras gerações não sofram ainda mais com as atitudes que presenciamos constantemente, enquanto isso continuo sempre plantando, fazendo mudas em casa e promovendo feiras de troca de mudas e sementes que já se encontra na 6ª edição”.

(Abílio Calille Junior- Geografo, Pedagogo pós graduado em Educação Ambiental e Coordenador do Projeto Maritaca de educação ambiental)

“Em 1854, o Chefe Seattle escreveu o primeiro manifesto a favor da natureza e uma coisa que até hoje não aprendemos é que: O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo. Quando se faz uma poda drástica ou se suprime uma árvore você não está acabando somente com as árvores, mas está provocando muitas outras coisas, como aumento de temperatura, piora da qualidade do ar na cidade, deixando a cidade mais feia, tirando abrigo dos pássaros, alimentos e muitas outras coisas. Além de falta de bom senso para quem acha muito mais fácil usar a moto serra que o cérebro, outras coisas também influenciam no que estamos vendo na cidade, o maníaco da moto serra voltou com tudo, basta dar uma volta na cidade e você verá o tanto de árvores com podas drásticas, um dos motivos é o total desmantelamento do setor de meio ambiente da Saev, quando ex prefeito Dado saiu e teve que demitir por ordem do juiz todos os cargos de confiança as pessoas responsáveis pelo meio ambiente foram dispensadas e a nova administração ainda não pode recontratar já que os cargos foram extintos, isso causa uma falta de fiscalização enorme então as pessoas usam desse buraco negro e cortam muitas vezes sem nem pedir autorização. Sendo bem didático, as árvores nos proporcionam vários  benefícios, podemos citar: bem-estar psicológico, efeito estético, sombra para os pedestres e veículos, proteção contra o vento, diminuição da poluição sonora, redução do impacto da água de chuva, auxílio na diminuição da temperatura e preservação da fauna silvestre. Eu creio que só mudando a mentalidade das pessoas e que teremos uma mudança nessa área,  a cidade é grande o número de fiscais irrisórios, então na maioria das vezes você só percebe quando está feito, às vezes quando você toma uma atitude antes do corte às pessoas de bom senso recuam e deixam as árvores em paz, exemplo disso são os 2 oitis da Santa Casa que seriam suprimidos e depois que caiu nas redes sociais só fizeram a poda drástica, mas deixaram as árvores e o exemplo mais atual são as árvores da rua Mato Grosso que seriam suprimidas mas como também o fato caiu nas redes sociais, antes disso e seu “Zé do Porecatu” mostrando bom senso e sabedoria mudou de ideia e resolveu deixá-las onde sempre estiveram, por outro lado as várias árvores que existiam em frente ao velho Plinio Marin foram arrancadas sem dó nem piedade, para se fazer uma nova calçada, árvores que já estavam lá a varias décadas. Eu me incomodo muito com isso porque faz mais de 18 anos que luto pelas árvores em Votuporanga, plantamos mais de 30 mil mudas com crianças, ensinamos o valor das árvores e aí vem os marmanjos e derrubam, mesmo assim nossa luta não é pessoal contra qualquer pessoa, não tem nada de política e sim uma luta pela qualidade de vida da cidade,  pelo bem geral de nosso município, no papel somos bem resguardados existe lei que pune e multa quem faz isso, só não existe quem fiscalize para que isso saia do papel e se torne realidade, eu torço pra que esse dia aconteça e que nós amantes da natureza poderemos dormir em paz…meu recado é DEIXEM NOSSAS ÁRVORES EM PAZ!”

Desta forma, como reitera Rita Padoin em sua obra: “Somos parte dessa bela e incrível natureza. Somos a própria natureza. Portanto, preservar é a nossa responsabilidade.”

A natureza não tem cópia, portanto preserve a original.

Por: Andrea Anciaes