Animal, que ronda a propriedade, cada vez se aproxima mais da casa à busca de alimentação (galinhas). Família pede que a Polícia Ambiental o leve para outra área; Corporação diz que zona rural é o habitat natural do bicho e que a família é que deve se adaptar a sua presença.
Danilo Liévana de Camargo
Uma família que reside em um sítio no munícipio de Votuporanga, a aproximadamente 40 dias vive um drama de conviver com um lobo-guará que se acostumou com o local e não vai mais embora.
A família formada por um casal, duas filhas e um sobrinho residem há 20 anos na propriedade agrícola que fica a 7 quilômetros de Votuporanga, próximo ao Áquila Clube de Tiro e da Antiga sede da APAE, na estrada do Motel Status.
Uma das filhas, Maria José Sartoreli, tem 36 e que é cadeirante, conta que no início de agosto seu pai havia acabado de tirar leite e foi levar as vacas para o pasto. Quando chegou na porteira para sair na estrada os animais se assustaram e recuaram, o que resultou num encontro com o homem que caiu, mas sem gravidade. “Depois daquele dia as vacas nunca mais desceram para o pasto, que fica perto de um brejo”. Passado uns dias, Maria José diz que seu pai conduzia as criações e elas pararam assustadas, “Meu pai só viu um vulto passando rápido e não conseguiu identificar o que seria”.
Conversando com um vizinho da propriedade, Maria José disse que ele havia notado um animal pelas redondezas e acreditava ser um lobo-guará.
Hoje, sábado (7/9) meu sobrinho conseguiu filmar, ele havia acabado de pegar uma galinha em nosso quintal. Em uma das fotos o lobo aparece com a ave na boca. “Hoje tivemos a falta de duas galinhas e o que nos assusta é que o galinheiro fica muito próximo da nossa casa”, teme Maria José.
Entre as fotos existem algumas de uma árvore que teve lascas arrancadas de maneira estranha. Maria José conta que seu paí afirmou que nunca tinha visto algo parecido e que só foi notar depois que o lobo rondava próximo da sede da propriedade. “Já fazia algum tempo que a gente ouvia um barulho estranho, parecia um cachorro uivando”, ilustra Maria José.
A moradora conta que acionou a Policia Ambiental para que recolhesse o animal, mas segundo ela, existem outros. “Eles orientaram para tentarmos espantá-los com barulhos, mas eu moro ao lado do Clube de Tiro e ali o que não faltam são barulhos, parece que os lobos não tem medo. Estou apavorada porque a cada dia eles se aproximam mais próximos da minha casa. Existem dias que meus cachorros latem a noite inteira”, alerta.
A Policia Ambiental orientou que a família tranque as aves antes do anoitecer e que outra opção seria parar de criar galinhas por um tempo até que os lobos se afastem. Maria José contou que recebeu uma mensagem de texto via WhatsApp da Ambiental e nela consta: “Bom dia, com relação a esse lobo ele está no habitat natural dele e infelizmente o senhor é quem vai ter que tomar medidas para restringir o acesso dele ao seu quintal ou fazer uma cerca mais alta com espaçamento mais estreito ou cercar com alambrado, colocar fios de choque ou ainda criar suas galinhas fechadas em viveiros”, esclarece o oficial e ainda lança a ideia, “vocês poderiam alimentá-los!”
Maria José disse que cerca com choque tem pela propriedade inteira e que não resolve. “O habitat dele é no mato e não no meu quintal. Estou com medo, ele pode atacar minha família, eu e minha mãe somos cadeirantes!”, disse apavorada.
A Policia Ambiental orientou a família que essa espécie de animal não ataca as pessoas e que só está indo próximo à residência exclusivamente por causa das aves. “Se vocês não têm condições de fazer as mudanças entorno do quintal, infelizmente a opção será parar de criar galinhas, o habitat deles é área rural e não especificamente onde existem matas. Tente parar de criar as aves pelo menos por um período, que as vezes eles migram para outra região”, orientou o oficial da Policia Ambiental em mensagem de texto.
Naria José conta que gosta de sair de casa no final da tarde para passear de cadeiras de rodas pela estrada, mas já não o faz mais porque tem medo dos animais. Ela insiste para que a Polícia Ambiental leve o (s) lobo (s) para outro local.
A ficha do bicho: Lobo-Guará
O lobo-guará é o maior canídeo da América do Sul. Sua família inclui os cães, lobos e raposas. Seu nome científico (Chrysocyon brachyurus) significa cachorro vermelho de cauda curta. O próprio nome popular, Guará, de origem tupi-guarani, remete ao seu tom avermelhado de pelagem.
Características
Grande parte da pelagem dos lobos-guarás é laranja-avermelhada. Suas pernas são pretas e longas, a garganta e a ponta da cauda são brancas e a crina preta. Possuem excelente olfato e audição. As orelhas bem compridas, desproporcionais ao tamanho da cabeça, amplificam os sons e ajudam a localizar as presas.
É um animal alto e esguio, com os maiores machos alcançando até um metro de altura nos ombros e máximo de 40 kg e podem viver de 12 a 15 anos.
Hábitos
Ao contrário de outras espécies de lobo que vivem em matilha, o lobo-guará é um animal de hábito solitário. É avistado, normalmente, em grandes campos nos fins de tardes e durante as noites.
São animais tímidos, preferindo manter distância de populações humanas, mas devido a degradação do hábitat que vivem, acabam se aproximando de residências em busca de alimentos.
Alimentação
O lobo-guará é um animal onívoro, podendo se alimentar tanto de plantas, quanto de animais. Suas presas variam desde roedores, tatus, aves, lagartos, cobras, artrópodes e vários frutos. Um dos principais alimentos do lobo-guará é a lobeira (Solanum lycocarpum), uma fruta é típica do Cerrado. Ao se alimentar da lobeira, o lobo-guará ajuda a dispersar as sementes da frutinha em suas fezes.
Reprodução
Por ser um animal solitário, os encontros entre macho e fêmeas ocorrem apenas em períodos reprodutivos, entre abril e junho. Os nascimentos dos filhotes ocorrem entre junho e setembro e a gestação dura de 56 a 67 dias.
Em cada ninhada podem nascer de um a sete filhotes, que nessa fase possuem a pelagem escura. Eles permanecem com a mãe por cerca de sete semanas.
Ameaças
Mundialmente reconhecidos como ameaçados de extinção, os lobos vêm sofrendo bastante com ações humanas. O desmatamento é um dos principais problemas enfrentados pela espécie, reduzindo sua área de vida e forçando-os a migrar para outros locais, principalmente em busca de alimento.
Por estarmos expandindo cada vez mais as cidades, e invadindo o espaço natural da espécie, os lobos podem ocasionalmente predar animais domésticos (como galinhas e patos), causando uma série de conflitos com humanos, que podem levar até ao abate do indivíduo. Devido ao desconhecimento da população, acabam sendo vistos como grandes e perigoso predadores.
Pelo fato de ter uma área de vida grande (que pode chegar a mais de 100 km²) o lobo frequentemente cruza estradas, somado ao fato de que os lobos podem se alimentar de carcaças de animais nas beiras das estradas, é muito comum o atropelamento desses animais.
O Lobo Guará é agressivo?
Muita gente pensa que os lobos-guará são implacáveis comedores de galinhas. Há até mesmo quem acredite que esses animais atacam as pessoas. Entra-se nesse momento em um assunto delicado. Os lobos-guará não atacam seres humanos. De temperamento tímido e arredio, apenas rosnam quando acuados e ameaçam avançar para proteger seus filhotes. Esses canídeos podem desenvolver um relacionamento amistoso com seres humanos, como acontece em uma estação da Companhia Elétrica de Minas Gerais (Cemig). Nesse lugar, todas as noites, os funcionários recebem visitas de uma fêmea de lobo-guará e a presenteiam com petiscos.