Labirinto educacional: como guiar nossos alunos para a esperança

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, escritor e professor

Nosso sistema educacional é um labirinto sem saída, onde os alunos perdem a esperança antes de encontrar o caminho.

A frase que abre este texto, expressa uma realidade muitas vezes silenciada nos corredores das escolas e nas salas de aula. Como professor com mais de uma década de experiência, já vivi os altos e baixos dessa profissão, testemunhei o quanto o sistema educacional, em muitas situações, falha em acolher as necessidades reais dos alunos, e também a dor de ver tantos jovens desistindo de acreditar que a educação pode ser um caminho de transformação.

Entretanto, ao longo dessa trajetória, aprendi a olhar para as dificuldades com outra perspectiva: a da resiliência e da busca constante por soluções. A educação, com todas as suas limitações e desafios, pode, sim, ser um caminho de transformação – não apenas para os alunos, mas também para nós, educadores. Por isso, é necessário refletir profundamente sobre o que significa estar no interior desse “labirinto” e como podemos, com pequenos gestos, contribuir para ajudar nossos estudantes a encontrar a saída.

O conceito de “labirinto” é uma metáfora perfeita para a realidade do sistema educacional que vivenciamos. O labirinto é confuso, cheio de entraves, bifurcações e, muitas vezes, sem uma direção clara. Muitas vezes, é difícil para os alunos perceberem que existe, de fato, uma saída. Quando entramos em uma sala de aula, encontramos um cenário cheio de desafios: desde as condições físicas das escolas até os problemas de violência e falta de recursos. Esses fatores, muitas vezes invisíveis, afetam diretamente o desempenho dos alunos, tornando o ambiente escolar um lugar mais difícil de habitar.

Não podemos ignorar também que o currículo que impomos aos nossos estudantes, muitas vezes, não dialoga com a realidade deles. Passamos a maior parte do tempo exigindo que se adaptem a um modelo de ensino padronizado, em que o foco está, muitas vezes, no conteúdo e não nas necessidades individuais de cada aluno. Um modelo que, infelizmente, se baseia em exames, notas e resultados quantitativos, deixando de lado o aprendizado verdadeiro, o que realmente importa: a formação de seres humanos críticos, criativos e capazes de sonhar com um futuro melhor.

Nesse sentido, nossos alunos se veem presos nesse labirinto. E, quando não conseguem seguir as regras desse sistema, se tornam invisíveis. Perdem a esperança. E, se não conseguimos como educadores perceber que o labirinto pode ser desconstruído e que podemos ajudá-los a encontrar uma saída, corremos o risco de perder muitas gerações.

É um verdadeiro desafio ensinar neste labirinto, sou professor e durante dezesseis anos, vi muitos colegas e estudantes se sentirem esmagados pelo peso de um sistema que, em vez de abrir portas, fecha-as. Vi jovens brilhantes que, por não se encaixarem no formato tradicional de ensino, desistiram de seus sonhos antes mesmo de tentarem alcançá-los. E, muitas vezes, esses jovens não são os “problemáticos” ou os “desinteressados”; são aqueles que não têm as condições ideais para aprender, aqueles que, apesar de toda a sua inteligência e criatividade, não conseguem navegar nesse sistema que, muitas vezes, não oferece suporte para suas reais necessidades.

O mais complicado de ensinar no labirinto da educação é que, como educadores, somos muitas vezes desprovidos de ferramentas para ajudar nossos alunos. Fomos formados para seguir certos métodos de ensino, muitos dos quais não se encaixam nas diversas realidades que encontramos em nossas salas de aula. E quando tentamos ser criativos, muitas vezes nos esbarramos em um sistema que exige que sigamos roteiros rígidos, que não deixam espaço para a flexibilidade necessária para cada grupo de alunos.

Eu, como professor, senti muitas vezes que o sistema educacional, em sua estrutura rígida, me forçava a ser algo que eu não queria e por muitas vezes me tornei um transmissor de conteúdos, e não um facilitador do aprendizado. Mas, mesmo assim, decidi resistir. Resistir ao que me era imposto, resistir à ideia de que a educação poderia ser uma via única e sem alternativas. Sabia que, se não me reinventar, não teria conseguido mais me conectar com meus alunos.

Acreditei e ainda acredito que a esperança é a chave para a saída. É impossível negar que o sistema educacional, como ele é estruturado, está longe de ser perfeito. Mas, é preciso reconhecer também que há elementos dentro desse labirinto que podem ser a chave para encontrar a saída. E essa chave tem nome: esperança.

A esperança é, antes de tudo, um movimento interno, algo que todos nós precisamos cultivar. Não podemos ensinar aquilo que não temos, afinal só podemos dar aquilo que temos. Por isso, minha primeira lição como educador foi acreditar que a mudança era possível – que, mesmo dentro do sistema que nos impõe tantas dificuldades, podíamos buscar formas de ajudar nossos alunos a acreditarem em seu potencial. Afinal, o que são as aulas se não um exercício de esperança diária?

Nossos alunos não podem sair do labirinto se não acreditarem que a saída é possível. E como podemos ajudar nossos alunos a manter a esperança acesa, mesmo quando o sistema parece estar contra eles? A resposta, me parece, está em nosso papel como educadores. Nós somos os guias, os faróis que podem iluminar o caminho de nossos estudantes. Mesmo que o sistema seja lento para mudar, mesmo que as condições não sejam as ideais, nós temos o poder de influenciar diretamente as vidas de nossos alunos.

E só conseguimos isso com a força da resiliência. A resiliência é a segunda chave fundamental que encontrei em minha jornada como educador. Sem ela, seria impossível enfrentar tantos obstáculos que o sistema educacional nos impõe. A resiliência não se trata de suportar passivamente as dificuldades, mas de aprender com elas e transformá-las em combustível para seguir em frente.

Ao longo dos anos, vi muitos colegas se afastando da profissão, sucumbindo ao cansaço, à desilusão e à falta de reconhecimento. Alguns abandonaram o sonho de transformar vidas, porque acreditaram que suas forças já tinham se esgotado. Mas, para aqueles que permanecem, a resiliência é um dos maiores presentes. Saber que, por mais difícil que seja o caminho, sempre há algo que podemos fazer para fazer a diferença na vida de um aluno.

Quando pensei em abandonar a profissão, acreditem, eu já pensei em deixar de ser professor,  uma das coisas que me motivou a continuar e seguir em frente foi o simples gesto de um aluno. Às vezes, não são os grandes resultados ou as vitórias nas avaliações que nos movem, mas uma palavra de um aluno, um sorriso, o reconhecimento de que nossa presença faz a diferença. Foi essa resiliência de continuar, de acreditar que cada aula, por mais difícil que fosse, poderia ser um ponto de inflexão na vida de um estudante, que me manteve no caminho.

Não há como negar que nosso sistema educacional precisa de mudanças profundas. As desigualdades sociais, as dificuldades estruturais e o foco excessivo na padronização dos conhecimentos são apenas alguns dos muitos desafios. Porém, se esperamos que as mudanças venham de fora, ficaremos à espera por muito tempo.

A verdadeira transformação começa dentro de cada um de nós, professores. Temos o poder de, dentro das nossas salas de aula, fazer a diferença. Podemos ensinar com a alma, não apenas com os livros. Podemos construir um ambiente acolhedor, onde os alunos se sintam seguros para explorar suas potencialidades. Podemos lutar para que o conteúdo não seja um fardo, mas uma oportunidade de descoberta e crescimento. Cada ato de cuidado, cada atenção dada a um aluno, cada gesto de acolhimento, são as sementes que plantamos para que nossos estudantes possam, um dia, sair do labirinto da educação e enxergar um futuro melhor.

A frase que abre este texto talvez ressoe com muitas realidades, mas também nos oferece um ponto de partida: “Nosso sistema educacional é um labirinto sem saída, onde os alunos perdem a esperança antes de encontrar o caminho.” É possível que o labirinto parece não ter fim, mas, com nossa ação, podemos ajudar a desenhar novos caminhos. A esperança e a resiliência são as maiores ferramentas que temos. Podemos não mudar o sistema sozinho, mas podemos ser a diferença na vida de nossos alunos.

Nosso trabalho é transformar o labirinto em um espaço de oportunidades, lutar pela esperança, não desistir de nossos estudantes, não desistir de nós mesmos. A educação é, antes de tudo, uma jornada. E, como professores, temos o privilégio de ser companheiros de viagem. Ao ajudarmos nossos alunos a encontrar o caminho, também estamos nos encontrando no processo. A educação é, sempre, uma via de mão dupla. E, por mais que o caminho pareça tortuoso, ele sempre pode nos levar a lugares inesperados e transformadores.

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