Dependendo de modalidade e instituição financeira, juro do rotativo pode ultrapassar os 1220% ao ano.
Se você digitar “juros do cartão de crédito” no Reclame Aqui vai encontrar uma enxurrada de reclamações sobre dívidas que se tornaram quase impagáveis em função das altas taxas cobradas pelos bancos por atrasos nas faturas.
“Estou desempregada e possuo uma fatura de cartão em aberto. As minhas compras não chegam a R$ 2 mil e a fatura hoje está em R$ 5.123,15. Chegaram a me oferecer parcelamentos, que no final totalizam R$ 17.131,68. Eles dizem que infelizmente não têm outra opção a me oferecer. Quero pagar minha dívida, mas de forma JUSTA”, afirmou uma consumidora, que mora em Cascavel/PR.
Relatos como esse são comuns, por isso o uso do cartão de crédito deve ser levado a sério. De acordo com os dados mais recentes do Banco Central, relativos a janeiro de 2023, as instituições financeiras estão cobrando em média 411,5% de juros ao ano (14,5% ao mês) na modalidade de “crédito rotativo” – quando o consumidor não paga o total da fatura e acumula débitos para o mês seguinte.
No relatório de taxa de juros do BC, a Lecca é a instituição que aparece com o juro mais alto do rotativo, de 1.224,37% ao ano (24,02% ao mês). O menor percentual registrado na seleção foi a do Zema, de 7,78% ao ano (0,63% ao mês).
Já os grandes bancos privados e públicos ficam próximos à média: Itaú cobra 370,45% ao ano (13,77% ao mês), Bradesco 396,87% ao ano (14,29% ao mês), Santander 376,98% ao ano (13,90% ao mês) e Banco do Brasil, 452,13% ao ano (15,30% ao mês).
“Muitas pessoas acreditam que basta pagar o valor mínimo da fatura para não ter problemas, mas essa é uma ilusão perigosa. Quando se paga apenas o mínimo, os juros e encargos são adicionados ao saldo devedor e vão se acumulando cada vez mais”, explica Carol Stange, educadora em finanças pessoais.
Por determinação da Resolução nº 4.549/2017 do BC, o crédito rotativo só pode ser aplicado até o vencimento da fatura seguinte, ou seja, por um mês. Depois, caso o consumidor não consiga pagar o valor integral acrescido dos juros do rotativo, a instituição financeira é obrigada a oferecer ao cliente outra modalidade de empréstimo para quitar os débitos, com juros mais vantajosos.
Uma das modalidades oferecidas é o crédito parcelado, crédito pessoal ou demais categorias, com taxas menores em comparação ao rotativo, mas que ainda podem multiplicar em muitas vezes o valor inicial devido.
Em média, os bancos cobram 182,1% ao ano no crédito parcelado, o que significa algo em torno de 9% ao mês. “O descontrole financeiro acaba nascendo no cartão de crédito porque é um dinheiro que você usa agora, mas o pagamento é futuro”, aponta Bruno Mori, planejador financeiro CFP e sócio fundador da consultoria Sarfin.
Essa também é a visão de Lenon Rissardi, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. “É um recurso para utilizar de maneira organizada. Se o crédito ultrapassar o valor que a pessoa tem disponível para pagar a conta, terá que arcar com juros altíssimos”, diz.
Veja 5 dicas essenciais para não se enrolar com o cartão de crédito e evitar dívidas:
1 – O crédito não é uma extensão do seu salário
O primeiro grande conselho para quem quer usar o cartão de crédito de forma consciente é não pensar no limite do cartão como uma extensão do próprio salário. Lembre-se que no final do mês você deve conseguir pagar o valor integral da fatura para não lidar com juros exorbitantes.
“Quando se tem um cartão de crédito à disposição, é fácil cair na tentação de comprar mais do que se pode pagar. O resultado? Uma fatura que cresce cada vez mais, juros e encargos que se acumulam e uma bola de neve que só aumenta”, afirma Stange.
Tudo que gastar no cartão deve ser considerado como um pedaço da renda que foi utilizado. “O cartão de crédito passa a ideia de que a pessoa não está gastando tanto, pois está diluído em parcelas”, diz Rissardi, da GT Capital.
2 – Pague sempre o valor integral
Não pagar o valor integral da fatura tem potencial para fazer sua dívida explodir em juros. É importante que o consumidor coloque no papel os próprios gastos mensais para não ser pego de surpresa por uma parcela do cartão de crédito muito mais alta do que a renda mensal.
“A não identificação correta de gastos ao longo do mês pode levar a um estouro de orçamento e não pagamento da fatura no valor total, que vai levar a um rotativo ou aos juros do cartão de crédito, que são muito altos”, afirma Mori, da Sarfin.
3 – Concentre gastos recorrentes
Outra dica importante é utilizar o cartão de crédito para concentrar gastos recorrentes, como compras no supermercado, combustível, farmácia, streamings e todos os custos que não costumam variar muito de um mês para o outro.
“Concentra a data de pagamento destas despesas em dia específico. Para isso, precisa saber o quanto se gasta em média nos itens recorrentes”, afirma Rissardi, da GT Capital. Um bom método para não correr o risco de gastar mais do que é possível pagar, é estipular um teto para os gastos recorrentes no cartão de crédito.
4 – Saiba quando ter mais de um cartão
Ter mais de um cartão de crédito não é uma prática necessariamente errada, mas exige bastante controle financeiro para o consumidor não se enrolar. Com planejamento, existem vários benefícios e ter mais de um cartão, como poder separar os gastos em categorias.
“O consumidor também pode escolher pagar com o cartão que ofereça as melhores condições de pagamento para cada tipo de compra. Por exemplo, um cartão pode oferecer um programa de milhas aéreas que é interessante para quem viaja muito, enquanto outro cartão pode ter um programa de descontos em restaurantes que é mais vantajoso para quem gosta de comer fora”, diz a educadora financeira.
Essa também é a visão de Rissardi. “Não vejo problema em ter mais de um cartão desde que a pessoa tente isenção de tarifas para não pagar tantas taxas e também não pense que só porque tem mais cartões tem mais dinheiro para gastar”, afirma.
5 – Critérios para escolher um bom cartão de crédito
A escolha do cartão de crédito pode fazer a diferença para o consumidor. Stange aponta que antes de adquirir um cartão, é preciso identificar quais são as taxas de juros cobradas por aquela instituição (anuidade, juros de rotativo, multas e tarifas).
Depois, analise os benefícios e programas de recompensa oferecidos por aquele produto e certifique-se de que o limite de crédito é compatível com sua realidade financeira. Não adianta ter um limite de R$ 20 mil, se você tem renda de R$ 3 mil ao mês. Pode ser perigoso e acarretar gastos maiores do que a capacidade de pagamento.
Por último, a reputação do emissor do cartão é outro ponto importante. “Lembre-se de sempre ler com atenção os termos e condições do cartão antes de solicitar essa ferramenta financeira”, afirma a educadora financeira.
Mori, da Sarfin, reforça o ponto de transparência e segurança. “O importante é ter fácil acesso à informação de quanto foi utilizado e quanto falta usar de limite”, diz. “Ter alertas de segurança e entender como a operadora age em situações de furtos ou fraudes são outro ponto essencial, muito mais relevantes que os itens que são apelos de venda.”
Ter a possibilidade de resolver problemas de forma facilitada é um diferencial, segundo Rissardi. “Verificar também quais podem isentar a anuidade, por exemplo, além de optar por um cartão em que possa ter o atendimento próximo de um gerente ou assessor.”
*Com informações do einvestidor.estadao