EUA pressionam Rússia para trocar jogadora de basquete por traficante de armas

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Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken - Foto: Reprodução

Ex-fuzileiro naval americano, que está preso na Rússia, também foi pedido pelos EUA.


O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou nesta sexta-feira (29.jul), com o chanceler russo, Serguei Lavrov, e aumentou a pressão para que Moscou aceite uma troca de presos: a estrela do basquete Brittney Griner e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, americanos presos na Rússia, pelo traficante de armas Viktor Bout, vivido no cinema pelo ator Nicolas Cage no filme O Senhor das Armas, de 2005, que está trancafiado em uma prisão de Illinois.

Blinken confirmou o diálogo com Lavrov, mas não deu detalhes sobre a receptividade da proposta. Antes da conversa, o chanceler russo disse que estava “aberto para negociar”. “Pedi que Lavrov considerasse a proposta”, disse Blinken. “Não vou falar sobre a resposta e não posso dizer se acho que as coisas são mais ou menos prováveis.”

Na versão da conversa divulgada pelo Kremlin, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que, ao falar sobre uma possível troca de presos, Lavrov sugeriu a Blinken retornar ao procedimento conhecido como “diplomacia silenciosa”, para evitar especulações.

De fato, a ideia parece ter sido seguida à risca pelo governo russo. Questionado sobre o assunto, Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, se esquivou de perguntas sobre o tema. “Sabemos que este tipo de assunto é discutido sem revelar qualquer informação à imprensa. Geralmente, as pessoas ficam sabendo sobre o assunto quando o acordo já foi selado”, disse.

Acidente

Griner, de 31 anos, é uma estrela do basquete americano. Em 2014, foi campeã da WNBA, a liga americana feminina, pelo Phoenix Mercury, e bicampeã olímpica pelos EUA, nos Jogos do Rio, em 2016, e de Tóquio, em 2021.

No dia 17 de fevereiro – antes da invasão russa da Ucrânia -, ela desembarcou em Moscou para disputar o campeonato russo de basquete pelo UMMC Ekaterinburg. É comum que jogadoras americanas participem de outras ligas durante a intertemporada da WNBA, para complementar os salários, bem mais baixos do que os pagos na liga masculina, a NBA.

Funcionários da alfândega do aeroporto de Moscou descobriram dentro de sua bagagem cartuchos de cigarros eletrônicos com óleo de haxixe – que é ilegal na Rússia. No julgamento, Griner se declarou culpada e disse que embalou acidentalmente uma pequena quantidade da substância, usada sob orientação médica para controle da dor causada por lesões. Agora, ela pode pegar até 10 anos de prisão.

O outro americano envolvido nas negociações é Paul Whelan, ex-executivo da Marinha e de segurança corporativa. Ele foi detido em 2018 em um hotel de Moscou, onde estava hospedado para o casamento de um amigo. Em 2020, um tribunal russo o condenou a 16 anos de prisão por espionagem, acusação que ele nega.

Para o Departamento de Estado dos EUA, Whelan e Griner estão “detidos injustamente”. Para resolver o problema, que vem atormentando o presidente americano, Joe Biden, a Casa Branca parece disposta a pagar um preço alto: abrir mão de Bout, um dos maiores traficantes de armas do mundo.

‘Senhor das armas’

Bout, hoje com 55 anos, nasceu no Tajiquistão e fez carreira no Exército soviético. Especialista em línguas, fala russo, português, inglês, francês, árabe e farsi, tornou-se um oficial da Força Aérea, onde descobriu sua verdadeira vocação: o tráfico de armas.

Após o colapso da União Soviética, com equipamentos militares e um arsenal escorrendo pelo mercado negro, Bout construiu um império logístico, entregando armamento para gente da pior espécie, rebeldes, militantes e terroristas – incluindo Al-Qaeda, Taleban e milícias de Ruanda.

Depois de escapar de várias armadilhas americanas, durante duas décadas, Bout foi preso em Bangcoc, na Tailândia, em 2008, quando aceitou se encontrar com agentes disfarçados da DEA (agência antidrogas dos EUA), que diziam ser representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Extraditado para os EUA, ele foi condenado a 25 anos de prisão.

*Com informações do Estadão