EUA dizem que há mais de 6 mil crianças ucranianas em campos russos

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Um memorial improvisado dedicado a crianças mortas, feridas, deportadas e desaparecidas na guerra da Ucrânia, na embaixada russa em Berlim - Foto: Odd Andersen/AFP/06/02/2023

Centros se destinariam à educação patriótica e militar pró-Rússia.


Um relatório do Laboratório de Pesquisa Humanitária da Universidade de Yale, financiado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, revelou nesta quarta-feira (15.fev), que pelo menos 6 mil crianças da Ucrânia frequentaram campos de “reeducação” russos no ano passado. Muitas foram mantidas lá por semanas, ou meses, além da data programada de retorno.

Moscou também acelerou a adoção e criação de crianças da Ucrânia por famílias russas, no que poderia constituir um crime de guerra, segundo o relatório. Além disso, o texto afirma que o número de crianças enviadas para os acampamentos é “provavelmente significativamente maior” do que as 6 mil confirmadas.

Desde o início da guerra, há quase um ano, crianças ucranianas de até quatro meses foram levadas para 43 campos em toda a Rússia, inclusive na Crimeia e na Sibéria, para “educação patriótica e militar pró-Rússia”, disse o relatório.

Em pelo menos dois dos acampamentos, a data de retorno das crianças foi adiada por semanas. Em outros dois outros acampamentos, o retorno de algumas crianças foi adiado indefinidamente.

As crianças também receberam treinamento com armas de fogo, embora Nathaniel Raymond, um pesquisador de Yale que supervisionou o relatório, tenha dito que não havia evidências de que elas estavam sendo enviadas de volta ao seu país para lutar pelo Kremlin.

“Evidências crescentes das ações da Rússia expõem os objetivos do Kremlin de negar e suprimir a identidade, a história e a cultura da Ucrânia”, disse o Departamento de Estado americano em um comunicado. “Os impactos devastadores da guerra [do presidente Vladimir] Putin sobre as crianças da Ucrânia serão sentidos por gerações.”

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, disse a repórteres que o relatório “detalha os esforços sistemáticos e de todo o governo da Rússia para realocar permanentemente milhares de crianças ucranianas para áreas sob controle do governo russo”.

“Em muitos casos, a Rússia pretendia retirar temporariamente as crianças da Ucrânia sob o disfarce de um acampamento de verão gratuito, apenas para depois se recusar a devolver as crianças e cortar todo contato com suas famílias”, afirmou Price.

O relatório pede que um órgão neutro tivesse acesso aos campos e que a Rússia interrompesse imediatamente a adoção de crianças ucranianas. O relatório disse que os assessores de Putin estiveram intimamente envolvidos na operação, especialmente Maria Lvova-Belova, a comissária presidencial para os direitos das crianças.

Segundo a pesquisa de Yale, 350 crianças foram adotadas por famílias russas e que mais de 1 mil estavam aguardando processos de adoção.

A embaixada da Rússia em Washington respondeu às conclusões do relatório no Telegram, dizendo: “A Rússia aceitou crianças que foram forçadas a fugir com suas famílias do bombardeio” e “fazemos o possível para manter menores de idade com suas famílias e, em casos de ausência ou morte de pais e parentes – para transferir órfãos sob tutela”.

O relatório disse que alguns pais foram pressionados a dar consentimento para mandar seus filhos para a Rússia, às vezes na esperança de que eles ficassem a salvo da guerra e voltassem depois. Outros, disse o relatório, “são enviados com o consentimento de seus pais por um período acordado de dias ou semanas e devolvidos a seus pais conforme programado originalmente”.

A demora no retorno das crianças tem justificativas variadas. Um funcionário do campo de Medvezhonok disse a um menino da Ucrânia que sua volta era condicional: as crianças seriam devolvidas apenas se a Rússia recapturasse a cidade de Izium, disse o relatório. Outro menino foi informado de que não voltaria para casa devido a suas “visões pró-ucranianas”. Alguns pais foram informados de que seus filhos só serão liberados se vierem buscá-los.

Ir da Ucrânia para a Rússia é difícil e caro, e homens entre 18 e 60 anos são proibidos de deixar o país, o que significa que apenas as mães das crianças poderiam fazer a viagem. Um dos campos, por exemplo, está localizado no Oblast de Magadan, a cerca de 6.230 km da Ucrânia – três vezes mais perto dos Estados Unidos do que da fronteira ucraniana.

Recentemente, Kiev alegou que mais de 14.700 crianças foram deportadas para a Rússia, onde algumas foram exploradas sexualmente.

*Com informações da veja