Dra. Camila Conti orientou os pais e deu dicas na hora de inserir mais opções de alimentos.
Rejeição às frutas e aos vegetais, rara sensação de fome, ingestão somente de alguns alimentos, comer pouco ou devagar, e muita, mas muita distração são alguns dos comportamentos mais frequentes das crianças à mesa. Líder absoluto de reclamações nos consultórios pediátricos, a falta de apetite dos pequenos é uma das coisas que mais preocupa os pais.
Pesquisas mostram que um terço das crianças são classificadas como picky eaters (crianças seletivas, em português). Entre elas, 63% fazem de tudo para evitar o momento de se alimentar, enquanto que 90% consomem guloseimas ao longo do dia, comprometendo o apetite na hora da refeição principal. A ingestão inadequada de nutrientes durante a infância pode influenciar os desenvolvimentos físico e intelectual por toda a vida.
Por isso, o SanSaúde conversou com a endocrinologista Dra. Camila Conti que deu dicas para os familiares. Em primeiro lugar, Dra. Camila frisou que é preciso avaliar se de fato há falta de apetite, e qual a expectativa dos pais em relação à quantidade de comida que a criança ingere. “No período entre dois e quatro a cinco anos, é comum a diminuição do apetite, o que é fisiológica, ou seja, normal. Isso porque no primeiro ano de vida, ela cresce de modo acelerado. Depois desse período, a velocidade de crescimento diminui e, com isso, o apetite e o ganho de peso acompanhando”, disse.
A especialista ressaltou que o mais importante do que a quantidade é a qualidade. “Muitas vezes, o pequeno come pouca quantidade (pelo menos para expectativa dos pais), mas que ingerem alimentos diversificados, com frutas, legumes, arroz, feijão e evitam industrializados, bebidas açucaradas, evoluindo muito bem”, complementou.
Distração nas refeições
A endocrinologista fez alerta quanto às crianças assistirem televisão e celulares durante as refeições. “O momento da alimentação não deve ter nenhuma distração. Elas precisam entender que aquele momento é para alimentação. Aprender a identificar os alimentos, descobrir texturas e sabores. Além de que, o uso de telas aumenta o risco deles comerem mais do que é necessário, elevando as chances de ganho de peso excessivo e obesidade (claro, aliado a outros hábitos inadequados)”, frisou.
Novos alimentos
Pra inserir os novos alimentos, a profissional disse que eles devem ser ofertados. “Parece óbvio, mas muitas famílias não diversificam os alimentos, por inúmeras questões. A regra é: persistência. A criança precisa recusar o alimento por 10 vezes antes de dizermos que ela definitivamente não gosta. Pode- se utilizar técnicas de preparo diferente como saladas de frutas, preparações como tortas ou bolos saudáveis, pratos lúdicos, com personagens, sempre não desistindo e sim persistindo”, afirmou.
Esse alimento não! Esse sim!
E o que fazer se o pequeno optar por outro alimento? Dra. Camila também orientou nestes casos. “Criança, quando de fato, está com fome, dificilmente vai fazer birra para comer em si. O que pode acontecer é ela optar por outro alimento que a interesse mais. Isso é muito comum acontecer com leite: deixa de almoçar ou jantar para mamar. Neste ponto em específico, é bom ter cuidado! Especialmente para os menores de dois anos, pois acaba aumentando o risco de anemia. Nesta situação, novamente é ter paciência e evitar fazer a troca”, enfatizou.
Outra dica é não oferecer mamadeira e nem outros lanches próximos da refeição, pra que não atrapalhe o apetite. “Uma refeição completa deve conter os três grupos alimentares: carboidrato, proteína e vegetais. Por exemplo, um sanduíche com duas fatias de pão, frango grelhado e salada (alface, tomate, cenoura) pode substituir eventualmente um prato de comida tradicional. Quando você troca por leite, fica completamente desbalanceada”, destacou.
Estimulantes de apetite
Os estimulantes de apetite não são indicados (salvo raríssimas exceções, quando a criança está gravemente enferma e precisa ganhar peso). “São medicações diversas que, na sua maioria, apresentam como efeito colateral o aumento de apetite. Não são isentas de efeitos adversos, como agitação neuropsicomotora, por exemplo. Outra questão é: será que um remédio que abre apetite, vai fazer seu filho comer mais frutas, arroz, feijão?”, questionou.
Dra. Camila enfatizou que o ideal é com paciência ir estimulando, mantendo uma rotina e evitando os alimentos que possam atrapalhar esse processo. “A grande maioria dos casos exige mesmo mudanças de hábito familiar da casa inteira. Educa-se pelo exemplo!”, concluiu.