Ato solidário de A.M.P.P., de 62 anos, emociona Votuporanga. Órgãos foram captados na Santa Casa e transportados por avião da FAB.
Na tarde do dia 7 de julho, a Santa Casa de Votuporanga viveu um dos momentos mais comoventes de sua história. Por meio da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), em parceria com a Organização de Procura de Órgãos de São José do Rio Preto (OPO-SJRP), foi realizada a captação de córneas, rins e fígado do doador A.M.P.P., de 62 anos.
O gesto de generosidade vai beneficiar cinco pessoas — e contou com um detalhe simbólico e emocionante: os órgãos foram transportados por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), fazendo com que A.M.P.P., piloto há mais de 30 anos, estivesse em um último voo, um cheio de esperanças.
A doação de órgãos é um ato silencioso, mas transformador. E em meio à dor da perda, a família do piloto A.M.P.P., decidiu transformar o luto em esperança. A vontade de doar já era um desejo antigo do próprio doador, como contou sua esposa, R.P.
“Sempre foi um desejo dele fazer a doação de órgãos, a gente sempre comentava aqui em casa. Ele falava que, quando partisse, se possível, gostaria de ajudar outras pessoas”, disse, emocionada. “Toda a família consentiu, foi uma decisão tomada em conjunto. Ele era uma pessoa muito boa! Tenho certeza de que ele ficaria feliz em saber que ajudou alguém, mesmo depois da morte.”
Além de respeitar essa vontade, a decisão foi também um tributo à sua trajetória de vida. “Eu só tenho a agradecer a ele, tinha um caráter, uma índole maravilhosa. Ele sempre vai estar nos nossos corações”, afirmou. “Espero que ele esteja lá em cima, fazendo o que mais amava: voando.”
A logística da captação envolveu diversas equipes da Santa Casa — Emergência, UTI, Centro Cirúrgico, CIHDOTT e Administração —, com o apoio da Central de Transplantes. Para que os órgãos chegassem rapidamente aos receptores, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) foi mobilizado para o transporte, garantindo agilidade e segurança no trajeto. O símbolo do voo ganhou ainda mais significado, ao carregar em seus compartimentos a continuidade da vida proporcionada por um piloto apaixonado pelos céus.
A escolha dos receptores segue critérios definidos pela Central Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, com base em compatibilidade, tempo de espera e condição clínica. A identidade dos receptores é mantida em sigilo, e não há contato entre as famílias.
A enfermeira Fernanda Medeiros, da CIHDOTT, destaca que toda doação só acontece com o aval da família. “A legislação brasileira determina que a autorização familiar é indispensável. Por isso, é tão importante conversar sobre esse desejo em vida. Essa decisão, tomada com amor, pode mudar destinos inteiros”, afirmou.
Ela reforça ainda o impacto de cada ato de generosidade. “Cada órgão doado é uma nova esperança. E nossa missão é garantir que essa solidariedade se concretize da forma mais humana e respeitosa possível.”
Mais de 65 mil pessoas aguardam por um transplante no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. A maioria, por rins, córneas e fígado. A doação feita pela família de A.M.P.P. contribui diretamente para diminuir essa fila e leva, a cinco pacientes e suas famílias, a chance de recomeçar.
Na história da Santa Casa de Votuporanga, esse gesto ficará marcado como um exemplo de empatia, generosidade e amor ao próximo. E nos céus, talvez, um novo voo tenha começado — desta vez, guiado por alguém que, mesmo em silêncio, continua salvando vidas.