Diretor afastado no São Paulo lidera 40 conselheiros e já foi réu por lavagem em outro escândalo 

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Douglas Schwartzmann e Julio Casares em foto de 2015 — Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC

Douglas Schwartzmann aparece em áudio sobre venda ilegal de camarote no Morumbis; em 2022, foi absolvido após manifestação do clube, já sob gestão de Julio Casares, em processo penal.


Afastado do cargo de diretor adjunto das categorias de base nesta segunda-feira, Douglas Schwartzmann é considerado uma força política dentro do São Paulo. O empresário é um dos líderes do Movimento São Paulo, que reúne cerca de 40 conselheiros e é da base de sustentação do presidente Julio Casares.

Schwartzmann pediu licença da função depois que uma gravação em que aparece admitindo um esquema ilegal de venda de camarotes no São Paulo foi publicada pelo ge.

Na conversa, que inclui também a diretora feminina, cultural e de eventos do São Paulo, Mara Casares – ex-esposa do atual presidente –, Schwartzmann pressiona a empresária Rita de Cassia Adriana Prado a desistir de uma ação judicial que poderia expor o acordo “clandestino”, segundo palavras do dirigente, na cessão de um camarote do Morumbis em show da cantora Shakira.

O Movimento São Paulo é um dos três principais grupos de conselheiros do clube, com cerca de 15% das 260 cadeiras do colegiado – os outros são o Participação, de Julio Casares, com cerca de 50 integrantes, e o Legião, do ex-diretor de futebol Carlos Belmonte, com algo em torno de 40.

O grupo também comanda a Diretoria Geral do Clube Social, com Antonio Donizeti Gonçalves, o Dedé – um cargo relevante no São Paulo, que tem um sistema político mais fechado. Lá, os sócios escolhem 100 conselheiros a cada três anos – outros 160 são vitalícios – e são esses 260 que votam para o presidente da diretoria.

Absolvido de acusação de lavagem de dinheiro

Douglas Schwartzmann foi um dos protagonistas do caso que levou à renúncia do ex-presidente do São Paulo Carlos Miguel Aidar, em 2015. No auge da crise daquele ano, o empresário é citado numa conversa gravada pelo então vice-presidente de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, com Aidar. 

Em determinado momento, Guerreiro questiona Aidar sobre uma hamburgueria que teria feito acordos com clubes rivais, mas que não conseguia finalizar um contrato com o São Paulo por que “Douglas pediu 15%”. Em resposta, o ex-presidente afirmou que “o Douglas tá pedindo comissão em tudo. Ele veio aqui e descaradamente”. 

Em seguida, explica que mantinha Schwartzmann na diretoria, apesar dos supostos pedidos de comissão, por questões políticas: “Ataíde, eu tô com o seguinte problema, bem. Se eu mandar o Douglas embora, vai o Dedé junto. Você não percebe que eu tô acuado? Completamente acuado?” 

Schwartzmann, que é empresário do ramo têxtil, é citado como o responsável por levar ao clube um intermediário do contrato com a Under Armour, que produziu material esportivo para o clube até 2017. 

Os acordos teriam gerado o pagamento de comissões ilegais a dirigentes do São Paulo. Schwartzmann foi denunciado e tornado réu por lavagem de dinheiro em 2021. 

Em 2022, porém, ele foi absolvido sumariante – antes do julgamento. Pesou na decisão da Justiça uma manifestação do São Paulo, já sob a gestão de Julio Casares. 

Ao tribunal, o clube afirmou que pagamentos feitos a um escritório de advocacia, investigado pelo caso, eram lícitos. O São Paulo reconheceu “o direito do escritório contratado em receber os honorários e informando que os pagou, conforme a decisão judicial. Informou, por fim, não ter ocorrido qualquer furto”. A suposta vítima alegou não ter sido alvo de um crime, o que enterrou o processo. 

A relação entre Julio Casares e Schwartzmann é de amizade, segundo relatos de pessoas que os conhecem. Casares foi chefe de Schwartzmann enquanto ocupou a vice-presidência de Marketing e Comunicação na gestão de Aidar. Foi Schwartzman, então diretor de comunicação, quem sucedeu o atual presidente quando, em 2015, Casares se tornou vice-presidente geral. 

O Movimento São Paulo fez parte da chamada “coalização” durante a campanha de Julio Casares para as eleições de 2020, quando derrotou Roberto Natel – foram 155 votos a 78. 

Em 2021, no primeiro mandato de Casares, Schwartzmann foi secretário-geral do clube, mas pediu afastamento ao ser denunciado pelo Ministério Público. A absolvição, no ano seguinte, abriu caminho para que ele retornasse à direção tricolor. 

Três anos depois, com sua base de apoio ainda mais sedimentada após a conquista da Copa do Brasil, Casares foi reeleito – num pleito em que era candidato único e em que recebeu 194 votos. 

As suspeitas sobre Schwartzmann geram uma fissura no apoio a Casares, que já vinha enfrentando mais resistência no Conselho – como no projeto de criação de um fundo para cessão de direitos de jogadores da base. 

A próxima eleição no São Paulo está prevista para o final de 2026. Márcio Carlomagno, atual superintendente do clube, era visto como quem receberia apoio de Casares, mas ele é citado no áudio publicado pelo ge como quem cedeu o camarote a Mara Casares. 

Schwartzmann afirmou, em nota, que foi “solicitado pela Mara para auxiliar na resolução de um problema envolvendo uma conhecida dela, relacionado à superação de um impasse sobre a cessão de um camarote e a um processo judicial contra o São Paulo Futebol Clube. No intuito exclusivo de ajudar, utilizei expressões inadequadas e indiquei pessoas indevidamente, circunstâncias que não refletem a realidade dos fatos”. 

Nesta terça-feira, o presidente Julio Casares encaminhou ao Conselho Deliberativo um pedido para que o caso seja investigado pela Comissão de Ética do São Paulo. 

*Com informações do ge