Município vizinho à Votuporanga/SP é a cidade brasileira com a maior taxa de mortes pelo coronavírus em relação ao número de habitantes. Parisi/SP esbarra em uma acalorada disputa política e na descrença de moradores na doença, o que dificulta o combate a pandemia.
A pandemia em decorrência do novo coronavírus causou um verdadeiros caos na concepção de ordem natural da população mundial, porém à situação tende a piorar significativamente quando combinada com a descrença sobre o perigo da doença e disputas políticas.
De acordo com matéria do jornal Diário da Região, essas barreiras são enfrentadas por municípios menores da região Noroeste Paulista no combate à disseminação da Covid-19 e que custam vidas diariamente.
Parisi/SP, localizada a 13km de Votuporanga/SP, é um retrato dessa tragédia provocada pelo coronavírus. Município detém a maior taxa de mortes pela doença a cada 100 mil habitantes do Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde.
De acordo com o jornal, nas ruas, não é difícil encontrar moradores sem máscaras. Alguns, ao serem questionados, dizem que a doença é “coisa da oposição”. “Nós temos uma resistência muito grande em relação ao uso de máscara e, principalmente, quanto ao isolamento social”, afirma a secretária de Saúde de Parisi, Marli Donizete da Silva.
Na cidade, porém, há quem já se conscientizou sobre os perigos do vírus – que apenas nos últimos 30 dias ceifou a vida de 5 moradores da cidade.
“Evito sair de casa, não ando de ônibus. Só ando de carro com a minha filha. Teve várias pessoas que morreram. A gente fica preocupada”, diz a pensionista Eunice dos Santos, de 73 anos.
Em março, a rotina dos parisianos mudou da noite para o dia. Pacientes que até então conseguiam leitos nos hospitais da região [em Votuporanga, por exemplo] tiveram que esperar. O colapso de saúde havia chegado. “(Março) Para nós foi muito assustador”, diz a secretária de Saúde.
Na corrida contra o tempo, a Unidade de Saúde da Família (USF), acostumada a atender apenas pacientes para exames preventivos, teve que virar um pronto atendimento para Covid-19. “Nós reorganizamos a estrutura da unidade. Dividimos em uma parte só Covid e outra normal. E montamos uma sala de urgência e emergência com dois leitos pra dar um suporte básico de início. Chegamos a ficar dois dias com pacientes aguardando vagas, infelizmente, alguns não aquentaram”, explica Marli.
Como forma de conscientizar a população sobre o perigo da doença, o rotineiro silêncio das noites de Parisi foi interrompido em 18 de março, quando ambulâncias foram colocadas nas ruas com as sirenes ligadas e um carro de som pedia para a população ficar em casa. “Vamos evitar aglomerações”. Era uma forma da Prefeitura tentar chamar a atenção da população para a doença que parecia distante, mas que chegou com força.
“Fizemos um mapeamento, o local em que as pessoas são mais idosas teve menor número de contágio, já onde estão as pessoas mais jovens, que trabalham fora, normalmente em Votuporanga, cresceu o número de contaminados”, apontou a gestora da Saúde.
Emancipada em 1991, Parisi funciona como uma espécie de cidade dormitório. Quem não atua na Prefeitura ou no comércio local vai todo dia para Votuporanga para trabalhar. Nos poucos estabelecimentos comerciais de tradição familiar, o movimento é fraco e o que já estava difícil ficou ainda pior.
“As vendas estão meio devagar por conta da pandemia. As pessoas estão com medo de sair de casa. ‘Tá complicado, mas estamos tocando”, conta Jonnathan Breno dos Santos, de 23 anos, que cuida de uma mercearia na frente da praça da matriz.
Ainda segundo o jornal Diário da Região, os próprios parisianos notam o clima diferente do município. As missas foram suspensas e o costume de quase toda a cidade se mobilizar nos enterros há mais de um ano não acontece mais. “Recentemente, tivemos a morte de mãe, tia e avó. A mãe deixou trigêmeos órfãos. É muito triste, porque conhecemos quem morreu”, diz a dona de casa Annye Sales de Oliveira, de 43 anos.
Na cidade, onde todo mundo se conhece, praticamente todos os moradores sabem de alguém que foi contaminado. “Minha mulher pegou Covid-19. Agora não saio de casa, só por necessidade”, afirma o aposentado Eugênio Trombela, de 84 anos.
Com 16 mortes e 300 casos positivos, Parisi enfrenta um outro problema. Assim como as demais cidades da região, a vacinação caminha a passos curtos. Com 2.161 habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade é uma das que recebe o menor número de imunizantes do Estado. O que atrasa ainda mais o combate da pandemia. “Apesar de apontar esse número de habitantes, já passamos dos 3 mil moradores cadastrados na USF”, reforça a secretaria.
Sobre Parisi ser a cidade brasileira com a maior taxa de mortes pela Covid-19 proporcionalmente a cada 100 mil habitantes do Brasil, o procurador jurídico do município, Everton Guimarães, contesta. “A nossa população está 50% maior. Nós temos bairros novos. Essa defasagem, somada ao fato de um evento pontual – em que vários se
contaminaram em marco -, atrapalha. Dado matemático não pode ser calculado friamente como vem acontecendo.
*Com informações do Diário da Região/Rone Carvalho