Pesquisadores brasileiros buscam entender que que forma o vírus afeta a fertilidade masculina. A recomendação, porém, é que todos os homens que em algum momento testaram positivo para a covid-19 façam acompanhamento médico periódico, com urologista ou andrologista, mesmo depois do fim dos sintomas clássicos da doença.
Estudo publicados recentemente mostram que a covid-19 também afeta os testículos e pode prejudicar a produção de espermatozoides e hormônios. Pesquisadores brasileiros buscam entender por que o vírus também afeta a fertilidade masculina.
Um grupo de especialistas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) acompanhou 26 pacientes que testaram positivo para covid-19 e, depois de submetê-los a exames de ultrassom, percebeu que mais da metade apresentava inflamação grave no epidídimo (estrutura que armazena os espermatozóides). Os resultados do estudo, apoiados pela FAPESP, foram publicados na revista científica Andrology.
Os efeitos do vírus para a fertilidade, porém, não são tão explícitos. “Ao contrário de uma infecção bacteriana clássica ou por outros vírus, como o da caxumba, que causa inchaço e dor nos testículos em um terço dos acometidos, a epididimite causada pelo novo coronavírus é indolor e não é possível de ser diagnosticada por apalpamento [exame físico] ou a olho nu”, explica o andrologista Jorge Hallak, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e um dos autores do estudo.
Por isso mesmo, a recomendação é que todos os homens que em algum momento testaram positivo para a covid-19 façam acompanhamento médico periódico, com urologista ou andrologista, mesmo depois do fim dos sintomas clássicos da doença. “Esses indivíduos devem ser acompanhados por um a dois anos após a infecção, pelo menos, pois ainda não sabemos como a doença evolui”, aponta.
Outro estudo conduzido pelo mesmo grupo de pesquisadores, também apoiado pela FAPESP, mostrou que o SARS-CoV-2 “invade” as células do testículo e provocam lesões que podem prejudicar a produção hormonal.
Foram analisadas amostras de tecidos testiculares de 11 homens (com idade entre 32 e 88 anos), que morreram no Hospital das Clínicas, de São Paulo/SP, em decorrência de quadros graves de covid-19.
“O que nos chamou a atenção de imediato nesses pacientes que morreram em decorrência da COVID-19 foi a diminuição drástica da espermatogênese. Mesmo os mais jovens, em idade fértil, praticamente não tinham espermatozoides”, conta Amaro Nunes Duarte Neto, infectologista e patologista da FM-USP e do Instituto Adolfo Lutz e coordenador do estudo.
Segundo o pesquisador, uma das hipóteses é a de que o vírus atingem os vasos dos testículos, diminuem a presença de oxigênio na região e criam fibroses que atrapalham a passagem dos espermatozoides pelos túbulos seminíferos. A covid-19 também leva à perda de células de Leydig, que produzem testosterona.
“As funções dos testículos de produzir espermatozoides e hormônios sexuais masculinos são independentes, mas há uma interconexão entre elas. Se a produção de hormônios pelas células de Leydig estiver prejudicada, a fertilidade também será diminuída”, afirma Duarte Neto.
A falta de testosterona pode levar à perda muscular, cansaço, irritabilidade e ganho de peso. Todos esses sinais podem ser facilmente confundidos com os efeitos de longo prazo da covid-19. “Uma parte importante desse quadro clínico seguramente está relacionada a uma baixa função testicular. Mas isso ainda não tem sido abordado porque os pacientes não têm dor e não se costuma dosar os hormônios e nem fazer análise dos espermatozoides após eles se recuperarem da COVID-19”, alerta Hallak.
Ainda não se sabe se essas lesões testiculares podem ser revertidas e quanto tempo demoraria para isso acontecer. “Esses indivíduos podem ter problemas de infertilidade e alterações hormonais no futuro e não saberem que isso pode ter sido causado pela infecção pela COVID-19, porque apresentaram sintomas leves ou foram assintomáticos”, diz.
*Informações/revistacrescer