Por Antoninho Rapassi –
Foi por sugestão do meu amigo Sérgio Carra que, em 1982, fui conhecer Pedro Maziero na região do bairro Caxambú, então periferia rural da cidade de Jundiaí. O motivo da indicação era para que eu viesse a conhecer os produtos derivados das uvas de várias cepas, que o Pedro Maziero produzia ainda sem a participação do seu filho Clemente Maziero, uma criança que se revelou cheia de aptidões. E a relação dos diferentes vinhos que ele elaborava era grande, como grande o seu talento, a saúde e o prazer de fazer sempre o melhor. Especificamente, fui conhecer o destilado da casca da uva, uma bebida que muito aprecio e é conhecida pelo nome de grapa. Palavra que deriva de “grappe” e que significa uva. Na Itália a “grappa” é uma bebida especialmente famosa. Já em Portugal ela é conhecida pelo nome de “Bagaceira” e desta forma continua a variação de denominações, mundo afora como é o caso do Pisco fabricado no Peru e no Chile.
Pedro Maziero ao lado das brasas ardentes do pequeno destilador de cobre transformava as fermentadas cascas esmagadas das uvas na preciosa grapa, bebida cristalina, perfumada e jovial com uma graduação alcoólica na faixa de 40% do volume. Quantas vezes presenciei aquela sua irremediável paciência para conseguir o destilado que trazia embutido o aroma característico da uva utilizada.
Eis a grande diferença entre as grapas: existem as industrializadas e as grapas artesanais. As artesanais fazem a diferença quando as papilas gustativas dos apreciadores destacam a sutileza e o realçado sabor da bebida, que o calor das brasas não queimou.
Quando fui visitar a minha filha Fabíola que morava em Verona no norte da Itália, levei uma boa quantidade da grapa Maziero, certo de que iria fazer sucesso. A viagem se estendeu da segunda metade de novembro até o final de janeiro de 1995, portanto um período de frio intenso e de neve. Com temperaturas dessa ordem, o consumo da grapa torna-se obrigatório, desde o momento em que se levanta da cama. Acertei em cheio. Os novos amigos que lá fiz, apreciadores do saboroso destilado ficaram admirados pela qualidade da grapa jundiaiense.
Em toda a década dos anos 80 visitei assiduamente o meu amigo Pedro Maziero e comprei enorme quantidade dos seus produtos vinícolas, que foram consumidos festivamente no restaurante do meu hotel em Americana. Quanto à grapa, esta sustentou a minha vida atribulada, impedindo que gripes me derrubassem ou me pusessem na cama. Receitei para várias pessoas famosas o uso medicinal da grapa, com resultados imediatos para o restabelecimento do bem-estar e da alegria de viver. Muitas histórias tenho para contar desse amigo que eu visitava, a fim de abastecer-me na fraternidade de sua amizade e na saudável manutenção das atividades mercantis. As instalações modestas construídas nos anos 20 e 30 do século passado cederam lugar para uma arquitetura moderna. Hoje o prédio que abriga toda a Adega, é uma construção imponente, funcional e bonita. Quem a visita se vê recompensado após percorrer todas as estradas e competir com um trânsito intenso e pesado da mega região sudeste, que concentra o maior e mais poderoso parque industrial de todo o Brasil.
Mas, qual foi o acontecimento que determinou a espetacular transformação das instalações da Adega Maziero? Foi a hospedagem do Papa Bento XVI no Mosteiro de São Bento no mês de maio de 2007, quando os monges tiveram a oportunidade de servir a Sua Santidade não só o vinho canônico, mas outros vinhos que agradaram o Sumo Pontífice, de origem alemã. E como se sabe, os alemães gostam dos vinhos brancos, sendo que possivelmente os monges serviram o Moscato suave Maziero ao Papa. E o milagre se fez!
A imprensa espalhou a boa notícia e o povo quis beber o vinho elogiado por Bento XVI. Deu-se assim, a transformação da Adega Maziero que aí está para provar que o vinho é a única obra de arte que se pode beber.
18 de Outubro de 2021