Contos Esparsos – Grandes nomes da história de Votuporanga

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Família SATO - ícone na fotografia em Votuporanga

Por Antoninho Rapassi

Tenho um precioso envelope tamanho ofício, de papel kraft, onde amealhei muitas fotografias que eternizam momentos da minha história pessoal, bem como a da cidade que me serviu de palco cenográfico onde ensaiei as primeiras atividades na minha juventude. E, qual agulha no palheiro, o tal envelope não é localizado. É o tributo que pago e sofro em função das mudanças que foram determinadas pelo meu espírito irrequieto e aventureiro. Mas, hei de achá-lo! E quando isso acontecer minha primeira providência será a de divulgar todo o conteúdo magnífico.

Porém, desde agora pretendo ir adiantando aquilo que, mais tarde as fotografias confirmarão. Por exemplo: o Luizinho Sato meu fotógrafo preferido sempre dizia que, de pequeno bastava ele, e as fotos me encantavam pelo flagrante que revelavam, bem como pelo seu tamanho. Quero destacar primeiramente aquela em que o industrial e meu amigo Carlos Ferrari, com seus pés sobre uma cadeira e com os braços levantados descerra um quadro onde aparece a foto oficial do presidente Juscelino Kubitschek, sob os olhares atentos de uma seleta plateia composta pelo então prefeito municipal, Capitão Leônidas Pereira de Almeida, pelo diretor da Escola Técnica de Comércio “Cruzeiro do Sul”, professor Cícero Barbosa Lima Jr., professores: Benedicto Silva, Walter Muller e um menino filho do sr. Lourival Guena. Evidentemente eu também lá estou na foto, pois havia sido, juntamente com o Toninho Lourenço, Agostinho Sartin, Joaquim Lourenço e Alicério Roberto os idealizadores da inauguração da Biblioteca que ostentava o nome do presidente JK.

Naquele momento, poucos dias antes da inauguração da nova capital do Brasil, que se deu em 21 de Abril de 1960, eu não tinha ainda condições de julgar a grandeza de espírito do homem que acumulava tantas virtudes, como era o caso do Professor Cícero Barbosa Lima Jr. E explico:

Professor Cícero Barbosa Lima Jr.

Em Março daquele ano, fui eleito presidente do grêmio da Escola de Comércio, mas desde Dezembro de 1959 eu me reunia com um grupo de amigos que muito ajudaram e me estimularam a encaminhar projetos que visavam enaltecer a figura expressiva de JK. Antevendo a minha vitória, assim que se iniciassem as aulas no mês de Março, nós nos reuníamos diariamente nas férias para deixar pronto tudo o que seria inaugurado em Abril. Foi por isso que conseguimos ter o quadro presidencial e fazer acontecer a inauguração da biblioteca. No entanto, o mais ousado dos nossos projetos foi a confecção da placa de marmorite que exibia as colunas do Palácio da Alvorada que serviu de tema patriótico para comemorarmos em Votuporanga, o que aconteceu em Brasília naquele 21de Abril de 1960. E aqui é que está a perola da qual só mais tarde fui tomar conhecimento da sua riqueza: o Professor Cícero eu o comparo com o Professor Aristarco, diretor e mentor pedagógico do internato “O Ateneu”, tão magistralmente descrito por Raul Pompéia nesta sua obra prima.

O Professor Cícero Barbosa Lima Jr., em sua versão de homem público era filiado à UDN, partido político que àquela época reunia a elite intelectual do Brasil. E bota elite intelectual nisso! Eles faziam oposição cerrada contra o presidente Juscelino em todo o território nacional. Se observarmos a fisionomia do nosso Aristarco, ou melhor, a fisionomia do professor Cícero nas fotografias onde ele aparece sempre que foi convidado para emprestar seu prestígio pessoal às ações dos seus alunos, verão que sua fisionomia está bem longe de ser aquela cara risonha de amigo feliz. E eu que o convidava para os eventos dentro do seu próprio colégio, nunca senti nenhuma demonstração de desconforto ou de qualquer inconveniência. Ele hoje me faz compará-lo com Voltaire, um dos mais importantes filósofos do Iluminismo e inspirador da Revolução Francesa. Voltaire disse a célebre frase: “Não concordo com nenhuma palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-las.”

O professor Cícero não concordava com nenhuma das minhas rotineiras homenagens ao então presidente da República que fascinou a minha geração, ao mostrar com que grandeza de sentimentos, determinação de trabalho e com fé inquebrantável tínhamos que ter em mente os grandes destinos do Brasil, mas ele o professor Cícero, como educador mostrava-se acima de qualquer rivalidade política, dando o seu exemplo pessoal e nos ensinando a respeitar a liberdade das opiniões alheias.

(continua)

16 de Outubro de 2021