Com 140 cães, Abrigo dos Focinhos pode fechar em Votuporanga 

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Com 140 cães, Abrigo dos Focinhos pode fechar em Votuporanga – Foto: Reprodução

Sem receber recursos públicos, entidade que existe há 6 anos enfrenta graves dificuldades financeiras e pode deixar de existir, forçando a entrega dos animais ao Poder Público.


Atualmente com 140 cães, o Abrigo dos Focinhos, um dos principais abrigos para animais de Votuporanga/SP, enfrenta uma crise sem precedentes e pode deixar de existir nas próximas semanas. Mergulhada em uma dívida de R$ 25 mil, a entidade que existe há 6 anos, em uma chácara, pode forçar a responsável, e uma das principais vozes na defesa da causa animal, Sandra Valéria Curti, a encerrar o projeto e acionar o Ministério Público para que direcione os animais, agora, por ela acolhidos.

Em entrevista ao Diário, nesta terça-feira (29.ago), a sempre altiva Sandra, agora, abatida e com a saúde debilitada, contou com emoção o drama enfrentado por ela, que vê o sonho de um abrigo organizado, acabar.

“Não comecei hoje, estou nessa luta há mais de 15 anos, dediquei minha vida a causa animal. Antes era na minha casa, e ninguém tinha mais cachorrinhos em casa do que eu, depois vim para cá. Quando comecei aqui, há mais de 6 anos, mais pessoas se importavam, e com ajuda, construímos barracões, e seguimos no trabalho de acolhimento, resgate, castração, doação responsável. Tudo com amor e para ajudar os animais”, contou.

A protetora fala com paixão e tristeza: “Aqui vivem cachorrinhos de todos os tipos, de todas as idades, inclusive com deficiências, tem esse que é paraplégico e queriam eutanasiar [sacrificar], tem cegos, tem essa cadelinha que é surda e maltratavam, batiam nela porque ela não obedecia, mas é que ela não escutava e por isso não obedecia. Para mim não existe raça, condição, amo e cuido de todos.”

“Só para que você tenha uma ideia, no auge da pandemia, cheguei a ter 200 cães aqui e cuidei de todos, fui castrando as cadelas, doando os filhotes, organizando a situação. Curei duas Covid-19 aqui sozinha, porque ninguém podia vir me ajudar e correr o risco de se contaminar, e eu também não podia abandoná-los”, emendou Sandra.

A protetora falou também sobre os desafios financeiros, da falta de recursos e de apoio, principalmente, do Poder Público: “Não recebemos nada, só promessas. Você sabe, tudo tem um preço, atendimento veterinário, procedimentos cirúrgicos, castrações, medicações, alimentação, enfim, tudo é pago. E foi aí que a dívida foi crescendo. Tudo o que conquistei, usei aqui, agora estou com uma dívida de aproximadamente R$ 25 mil. Também descobri uma doença congênita, uma artrose degenerativa, que tem afetado as cartilagens dos meus joelhos e coluna, provocando muitas dores. Por isso pedi afastamento ao INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], mas o médico negou.”

“Às vezes, as pessoas dizem ‘é, mas você escolheu proteger os animais’, e é verdade, escolhi sim. Sabe, um protetor age muito pela emoção, com amor, a gente se importa, não quer ver animal sofrendo; as vezes, uma cadela com filhotes que foi abandonada, às vezes, gravida. A maioria das pessoas passam e vão embora, mas a gente quer amparar aquelas vidas”, contou Sandra.

Em seguida, a protetora desabafa: “Sabe, muita gente nos procura, acha o nosso contato por celular, pelo facebook, enfim, dão um jeito para chegar até nós para falar que tem cachorrinho abandonado, mas, na hora de ajudar são poucos. Já não tenho mais cara para vender rifas, para pedir. Aqui tem uns 30 cachorros de pessoas que talvez para fazer média ou colocar um tijolinho no céu pediram para deixá-los aqui, pessoas pediram o espaço, porque não queriam levar para casa, porque o marido não queria em casa, mas que iriam ajudar a mantê-los, porém, com o passar do tempo, esquecem deles… e quando você liga, dizem: Ué, ele ainda não morreu? É triste.”

“Aqui eles não ficam trancados em baias, separados sim, mas presos não, porque não cometeram crimes para ficar trancados. Não gostaria de ser forçada a entregá-los, não sei como será a vida deles lá, como vão cuidar, mas se não acontecer algo, não terei outra saída”, concluiu Sandra, que estima ter cuidado de mais de 500 cães em sua trajetória como protetora.

Quem quiser conhecer o Abrigo dos Focinhos ou ajudar financeiramente o Pix é o telefone para contato 17997288111 – Sandra Valéria Curti.