‘Entrave diplomático’ por ataques de Jair Bolsonaro à China atravanca liberação de lote de 10 mil litros de insumos, segundo o governador de SP.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que o Instituto Butantan está prestes a interromper a produção da CoronaVac, vacina produzida em parceria com o laboratório chinês SinoVac, por conta do atraso na liberação de insumos na China. Ele atribui a recentes ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro ao governo chinês para a retenção do produto no país asiático.
João Doria acompanhou a liberação de um milhão de doses da CoronaVac pelo Butantan, na manhã desta quarta-feira, ao Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Com essa remessa, o instituto chegou a 46,1 milhões de vacinas entregues ao programa e concluiu a primeira etapa do contrato com o governo.
O governador afirmou que o Butantan deve concluir a entrega da segunda parte do acordo, de mais 54 milhões de doses, até 30 de setembro, a menos que o atraso nos insumos retidos atualmente na China se prolongue.
Há um lote de 10 mil litros de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), suficiente para a produção de cerca de 18 milhões de doses da CoronaVac, prontos no laboratório SinoVac à espera de liberação do governo chinês, segundo Doria.
— Ainda não temos a liberação desses insumos, o que nos deixa muito preocupados, pois estamos chegando ao final da entrega, na próxima sexta-feira, das doses com os insumos que recebemos 17 dias atrás. Se não recebermos mais insumos, teremos que parar a produção por falta de insumos — disse Doria.
Jair Bolsonaro insinuou, na semana passada, que a China pode ter criado o novo coronavírus em laboratório como parte de uma “guerra química”. A afirmação contraria a Organização Mundial de Saúde (OMS), que afirmou que o vírus provavelmente teve origem animal. Em abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi gravado afirmando que os chineses “inventaram” o coronavírus e que a vacina desenvolvida pelo país asiático contra a doença é menos efetiva que o imunizante da Pfizer.
— Há meses o governo da China manifesta sua insatisfação e sua perplexidade diante dos ataques que são feitos pelo presidente da República, pelos seus filhos, por alguns parlamentares e, mais recentemente, até mesmo pelo ministro da Fazenda do Brasil. Tudo o que não precisamos neste momento é agredir o povo chinês — declarou.
Nesta tarde, João Doria escreveu em sua conta no Twitter que “acabava de conversar” por telefone com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para pedir a liberação dos insumos.
“Me solidarizei e lamentei as declarações desastrosas feitas por membros do governo federal sobre a China. É o país que mais está ajudando a salvar a vida dos brasileiros, já que tanto a CoronaVac como a AstraZeneca dependem de insumos produzidos na China. O governo federal deve um pedido de desculpas ao governo chinês”, tuitou Doria.
Mais cedo, o diretor-presidente do Butantan, Dimas Covas, participou de uma reunião com o chanceler Carlos França e o embaixador brasileiro em Pequim para tratar da liberação e embarque dos 10 mil litros de IFA.
Vacinação de grávidas
A coordenadora-geral do Programa Estadual de Imunização de São Paulo, Regiane de Paula, afirmou que o Ministério da Saúde precisa orientar melhor os estados sobre como proceder na vacinação de gestantes. Na segunda-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou paralisar a imunização do grupo. A pasta investiga a morte de uma mulher grávida após o uso da vacina da AstraZeneca no Rio de Janeiro.
— Nós precisamos de uma nota técnica dizendo qual a vacina a ser usada. Nós temos, sim, condições de usar a vacina da Pfizer no município de São Paulo, mas os outros municípios precisam da vacina do Butantan. Então precisamos que o Ministério nos dê esse norte — afirmou ela.
De Paula disse que o estado de São Paulo vai manter a suspensão da vacinação para gestantes até que o governo federal faça uma orientação técnica sobre o caso, “e não somente através de uma coletiva de imprensa”.
O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que a AstraZeneca é “eficaz e segura”, e que a morte investigada no Rio não justifica a paralisação total da imunização.
— Nós temos que aguardar uma norma técnica do próprio Ministério e da Anvisa (sobre) se um caso raro e isolado justificaria nós não vacinarmos de forma muito mais ampla e célere as grávidas. Nós entendemos que os eventos que podem acontecer em decorrência ao Covid para essas mulheres podem ser infinitamente maiores e em grande escala tanto para a mamãe quanto ao seu bebezinho — disse Gorinchteyn.
A Prefeitura do Rio retomou nesta quarta-feira a vacinação contra a Covid de grávidas e puérperas (mulheres que acabaram de dar à luz) com comorbidades, mas apenas com doses da Pfizer e CoronaVac, por orientação do Ministério da Saúde.
Testagem em massa
Gorinchteyn disse que o “governo do estado precisa se adaptar ao Covid” e sugeriu que o estado possa adotar a testagem em massa da população para prevenir infecções. Sem dar maiores detalhes, ele afirmou que as secretarias de Saúde, Desenvolvimento Regional e Desenvolvimento Econômico estão negociando com “setores e municípios” medidas do tipo.
— (Estamos em tratativas) para que possamos fazer muito mais diagnósticos precoces, identificar quem são aquelas pessoas que têm poucos sintomas ou sem sintomas para que imediatamente elas sejam isoladas, as pessoas ao seu entorno também testadas, para que nós estejamos diminuindo a transmissão na nossa população. A gente sabe que com a vacina a gente diminui internações internações e casos graves, mas não diminui a transmissão — declarou.
O secretário também afirmou que o governo do estado planeja fazer “parcerias”, “um acordo coletivo” assim como são as medidas sanitárias.
*Com informações do oglobo