Além do currículo, desafiando o sistema educacional

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor

Nos corredores barulhentos e coloridos das escolas, há um personagem que muitas vezes passa despercebido, mas cuja influência é imensa: o professor. Este é um retrato de um desses profissionais anônimos, que enfrenta desafios diários em um sistema educacional engessado, mas encontra força e propósito na escuta ativa e na valorização das diferentes perspectivas dos alunos.

Era uma manhã comum em uma escola de ensino fundamental. O sol brilhava timidamente através das janelas, e a energia vibrante das crianças enchia o ar. Na sala de aula, o professor experiente com mais de uma década de serviço exalava expectativa e apreensão. Hoje, ele enfrentaria um desafio conhecido, mas sempre assustador: a necessidade de engajar uma turma diversificada em um ambiente que muitas vezes não parece preparado para acomodar suas necessidades variadas.

Todo professor sabe que seu trabalho não é apenas ensinar conteúdos acadêmicos. Sempre é muito mais do que isso. Em um sistema que frequentemente prioriza padrões rígidos e avaliações quantitativas, esses profissionais se veem em uma luta constante para atender às necessidades individuais de seus alunos. Cada criança na sala de aula carrega consigo um mundo de experiências, desafios e sonhos. Enquanto o currículo prescrito dita o ritmo das aulas, nós professores temos que nos deparar com a dura realidade de que nem todos os alunos seguem o mesmo caminho de aprendizado.

Durante muitos anos, tentamos moldar o ensino para se ajustar às diretrizes do sistema, preparamos as aulas com dedicação, planejamos atividades que atendam às exigências e procuramos adaptar nossas estratégias para cobrir o máximo possível dos tópicos exigidos. No entanto, a pressão para cobrir o conteúdo muitas vezes resulta em uma sensação de frustração. O sistema engessado que somos obrigados a usar, ignora a riqueza das perspectivas e a singularidade de cada aluno.

Mas somos professores, capazes de transformar o mundo através da educação. Temos a chave para desbloquear o potencial de nossos alunos e sabemos que essa chave não é apenas ajustar o currículo, mas ouvir ativamente essas crianças que precisam de atenção. A escuta ativa, pode parecer uma prática secundária, mas em sala de aula ela é o eixo central de uma abordagem pedagógica.

É um desafio, devo confessar, temos que investir tempo e energia para entender verdadeiramente as necessidades e os interesses de cada criança que passa por nossas mãos. Precisamos de abordagens mais personalizadas, criar um ambiente onde os alunos se sintam seguros para compartilhar suas ideias e preocupações. Nós professores temos que fazer questão de que cada voz seja ouvida e respeitada, criando uma cultura de diálogo e colaboração na sala de aula.

Uma das primeiras mudanças visíveis que irá acontecer, é a maneira como conduz as discussões em sala de aula. Em vez de seguir rigidamente um plano de aula, de espaço para que os alunos expressassem suas opiniões e façam perguntas e que sejam perguntas abertas, incentivadoras de debates que promovam atividades onde os alunos compartilhem suas experiências pessoais.

Essa abordagem é transformadora. Em vez de uma sala de aula silenciosa, enfileirada e obediente, você cria um ambiente vibrante, onde os alunos se sintam valorizados e engajados. O entusiasmo das crianças se torna palpável. Elas começaram a se envolver mais profundamente nas atividades e a se interessar por aprender, não apenas porque estavam seguindo um currículo, mas porque sentiam que suas opiniões e experiências eram importantes.

Quem nunca se deparou com um aluno que apresenta dificuldade para acompanhar o ritmo das aulas, problemas de concentração e frequentemente demonstra desinteresse pelas aulas. A partir do momento que esses alunos são ouvidos, conhecemos suas preocupações e entendemos o contexto em que ele vive, descobrimos os desafios pessoais que os afetam e afetam sua capacidade de se concentrar na escola. Com isso em mente, cada professor pode ajustar seus métodos de ensino para fornecer apoio adicional, criando atividades que integrem seus interesses e preocupações.

O resultado é notável. As crianças começam a se destacar nas atividades e a mostrar um entusiasmo renovado pelo aprendizado. A confiança aumenta e, com o tempo, elas passam a se destacar academicamente, e mais importante ainda, os alunos se sentiram respeitados e compreendidos, o que sempre causa um impacto positivo em seu bem-estar geral.

No entanto, os professores que decidem seguir esse caminho enfrentam resistência. A mudança na abordagem pedagógica nem sempre é bem recebida por todos. Alguns colegas professores e gestores estão acostumados com o status quo e acreditam que essa nova abordagem é uma tentativa de desafiar as normas estabelecidas. Então se preparem para enfrentar pressões que irão tentar fazer você voltar ao modelo tradicional, que é mais fácil de monitorar e medir.

Esteja determinado a continuar sua missão, acredite profundamente no poder da escuta e na importância de adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos. E o mais importante, compartilhe suas experiências com colegas, busque apoio de outras pessoas que compartilhavam de sua visão. Com o tempo, encontraremos aliados e defensores que acreditam na importância de uma abordagem mais inclusiva e centrada no aluno.

O impacto da escuta ativa e da valorização das perspectivas dos alunos não se limitam apenas aos resultados acadêmicos. Você testemunhará uma mudança significativa na dinâmica da sala de aula. Os alunos começaram a se apoiar mutuamente, a colaborar mais efetivamente e a demonstrar um respeito mútuo que não existia anteriormente. A sala de aula se torna um espaço onde a diversidade de pensamentos e experiências sempre será celebrada, e cada aluno se sentirá parte de uma comunidade de aprendizagem.

As conquistas de um professor que resolve ir contra o sistema educacional serão reconhecidas e celebradas, não apenas pelos alunos e pais, mas também por alguns colegas e gestores que, eventualmente, começaram a perceber o valor dessa nova abordagem educacional.

Embora o sistema educacional ainda seja um desafio, nós professores precisamos encontrar maneiras de transformar a dinâmica em sala de aula e passar a viver experiências educacionais incríveis.

Veja o poder da escuta ativa e da valorização das diferentes perspectivas na educação em um mundo onde o sistema educacional muitas vezes se concentra em padrões e métricas rígidas, é essencial lembrar que cada aluno é único e traz consigo uma riqueza de experiências e necessidades. Quando os professores adotam uma abordagem que respeita e integra essas diferenças, eles não apenas melhoram o aprendizado dos alunos, mas também criam um ambiente mais inclusivo e enriquecedor.

Ser professor é um trabalho desafiador, mas também profundamente gratificante. Cada conquista, cada momento de superação e cada progresso dos alunos são testemunhas do impacto positivo que a educação pode ter na vida das pessoas. No final das contas, o verdadeiro sucesso na educação não é medido apenas pelos resultados das provas, mas pela capacidade de um professor de inspirar, apoiar e transformar a vida de seus alunos.

O compromisso com a escuta ativa e a valorização das perspectivas dos alunos é um exemplo brilhante de como, mesmo em um sistema engessado, é possível encontrar maneiras de fazer a diferença. Através da dedicação e inovação demonstramos que a educação pode ser um caminho para a transformação, não apenas para os alunos, mas também para o próprio sistema educacional.

Como professor, procuro sempre encontrar minha vocação não apenas em ensinar conteúdos, mas em entender e apoiar cada aluno. Esse texto é um lembrete de que, por trás de cada desafio na educação, há uma oportunidade para crescer e fazer a diferença. No final, é essa paixão e dedicação que definem a verdadeira essência do que significa ser um educador.

Até o próximo texto para todos aqueles que se dedicam a criar um ambiente onde cada voz é valorizada e cada perspectiva é respeitada.