Por Antoninho Rapassi –
Concluí o curso ginasial em Dezembro de 1959 e imediatamente, o passo seguinte seria matricular-me no curso Clássico do Instituto de Educação “Dr. José Manoel Lobo” certo que estava destinado a perseguir os estudos nas áreas de Humanidades. Porém, havia um poderoso fator para mudar o rumo das coisas. Eu estava de olho na presidência do grêmio da Escola Técnica de Comércio “Cruzeiro do Sul”, onde estudavam mais de oitocentos alunos nos cursos noturnos. As matérias básicas desta escola, ministradas por excelentes professores causavam-me arrepios, porque enfatizavam conhecimentos científicos, como os da Matemática, Estatística, Mecanografia, Contabilidade e de outras disciplinas com as quais eu nunca tive nenhuma vocação ou aptidão para estuda-las. Mas, a presidência daquele grêmio passou a ser o meu objeto de desejo, naquele emblemático ano de 1960. Era o ano em que o Brasil assistiria a histórica mudança da capital da República, e na minha cabeça fervilhavam ideias que para serem realizadas valeria a pena perder aquele ano escolar.
Por sorte eu cultivava gostosamente algumas amizades que foram fundamentais à realização dos planos imaginados. Todas as noites na Praça da Matriz eu me encontrava com o Toninho Lourenço, com o seu irmão Walter, com o Agostinho Sartin e o Alicério Roberto. É claro que havia outros, mas os bons amigos que mencionei eram alunos da Escola Técnica, aplicados e inteligentes. As nossas conversas varavam a noite e, muitas vezes se prolongavam pelas madrugadas. Foi assim que tomei corajosamente a decisão de fazer a simples figuração, como se fosse estudante da Escola de Comércio. O meu firme propósito de lançar uma chapa para as eleições no mês de Março, decididamente apoiado por aquele núcleo inicial cresceu em adesões durante os dois meses de férias, período em que formamos uma equipe de trabalho a fim de estabelecer proposituras e formular projetos. E os resultados foram os previstos: iniciadas as aulas e tendo uma plataforma de trabalhos discutida intensamente nas férias, levamos tremenda vantagem demonstrada pelos votos que recebemos. Por trás de todo o nosso trabalho visionário, estava presente a influência contagiante do presidente JK.
Jamais será esquecida a primeira iniciativa que tomei ao assumir a direção do grêmio. Procurei os serviços de um marmorista, pai de um dos meus apoiadores e meu colega nesta escola. Com uma dedicação de monge beneditino, muita capacidade de trabalho e decidido a realizar o delicado projeto que lhe apresentei, foi da seguinte maneira que o convenci: a inauguração de Brasília estava prevista para o dia 21 de Abril de 1960 e sem perder tempo queria que o marmorista fizesse uma placa de granilite, onde as colunas brancas do Palácio da Alvorada em alto relevo sobressaíssem num fundo preto, obedecendo rigorosamente às escalas traçadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Medindo 0,80 x 0,40 cm a placa recebeu a permissão do Diretor da Escola, Professor Cícero Barbosa Lima Júnior para ser incrustrada em uma das paredes do galpão que abrigava os alunos em seus momentos de recreação. Graças à pertinácia do marmorista-artesão, a burilada placa tornou-se orgulhosa realidade. E no histórico dia da inauguração da nova capital da República, às 10:00 horas reunimos estudantes, professores, jornalistas, radialista e outras pessoas para assistirem ao descerramento da placa que simbolizou a nossa homenagem ao notável acontecimento que, do Planalto Central irradiava para o mundo a capacidade criativa do povo brasileiro.
Americana, Abril de 2021