8 de janeiro: ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias admite ter enviado relatório editado para o Congresso 

948
O ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias – Foto: Divulgação/GSI

Em CPI, ex-ministro diz que “o documento não condizia com a verdade”, por isso, teria ajustado e enviado ao Legislativo sem citação a ele.


O general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, disse nesta quinta-feira (22.jun) que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) fez um relatório errado com uma citação sobre ele a respeito dos ataques de 8 de janeiro, quando as sedes do Três Poderes foram atacadas em Brasília e, por essa razão, modificou o documento antes de enviá-lo a uma comissão do Congresso Nacional.

“Não adulterei nem fraudei nenhum documento. Sempre falei no GSI que todo documento que passasse por lá tinha que ser a expressão da verdade. A CCAI [Comissão de Controle das Atividades de Inteligência] solicitou ao GSI o que a Abin tinha produzido sobre os atos. A Abin fez um compilado de mensagens de aplicativos. Lá tinha três partes como ‘dia tempo, acontecido e difusão’. Esse documento tinha ‘ministro do GSI’. Eu não participei de nenhum grupo, não sou difusor. O documento não condizia com a verdade”, declarou o militar.

Segundo o general, o documento foi “acertado e enviado à CCAI”, que é a Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional.

Gonçalves Dias também informou que a Abin fez outro relatório da mesma situação, no entanto, sem a citação ao ministro.

“O documento enviado de forma igual ao MPF [Ministério Público Federal] estava diferente na parte ‘difusão’. Não tinha GSI”.

A fala do militar foi durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que investiga os atos de 8 de janeiro, bem como o 12 de dezembro do ano passado, quando houve tentativa de invasão à sede da Polícia Federal (PF). 

Após a declaração, o presidente da CPI, deputado distrital Chico Vigilante (PT), reagiu. “Essa informação é muito grave. Demonstra que um órgão de Estado fraudou um documento. Precisa que as autoridades apurem a quem interessava essa fraude. Precisa ser investigada. É um órgão de inteligência. Isso é grave”, proclamou. 

Gonçalves Dias também declarou que, sobre os ataques de 8 de janeiro, não recebeu nenhum aviso da Abin sobre “tomada de poder” ou sobre possíveis manifestações mais agressivas. “Nunca participei de nenhum grupo. Não mantive e-mail. Só fiz contato com o diretor-adjunto da Abin”. 

Em outro momento, no entanto, o deputado distrital Daniel de Castro (PP) perguntou se Dias recebeu informes de inteligência no celular privado. O ex-GSI disse que falava apenas com o diretor-adjunto da Abin, Saulo Moura, e recebia “algumas informações” e repassava ao secretário-Executivo. 

Segundo o militar, entre 2 e 5 de janeiro não havia “espiral de violência”, mas ao contrário, havia informação de que o movimento se esvaziava em Brasília. “Sábado dia 7 passei todo o dia em casa. Não recebi nenhum alerta de escalada de anormalidade. E insisto: os alertas não chegavam a mim pelos canais oficiais estabelecidos. Domingo também não recebi nenhum alerta”. 

Sobre a acusação do documento “que não condizia com a verdade”, segundo o general. O ex-ministro não deixou claro se recebeu os alertas da Abin diretamente em seu telefone. 

Até o fechamento desta matéria, a Abin não havia comentado as declarações de Dias.