VOCÊ CONHECE A SUA ESSÊNCIA?

827

Você já assistiu a algum vídeo de Ariano Suassuna na internet? Se não assistiu, eu recomendo. Sabe por quê? O humor inteligente é algo inebriante e Ariano sabia fazer rir com maestria.

Ao assistir diversos vídeos postados no Instagram, comecei a pensar na dicotomia da vida. Digo isso porque as histórias contadas por ele não são invencionices, mas sim relatos do dia a dia de um homem que observava a vida com bastante sagacidade.

Não é de surpreender que um nordestino carregasse o gene humorístico típico, mas confesso que fiquei abismada com a capacidade que ele, um escritor famoso e pertencente à Academia Brasileira de Letras, tinha de contar seus causos. Isso me gerou uma reflexão interessante sobre nossas próprias concepções.

Por que “nossas concepções”? Explico.

Há um tempo, em diálogo com um grande amigo, o Fernandinho, doutorando da Unesp em Literatura, falávamos sobre a importância dada pelas pessoas para a forma de cada um se expressar e do preconceito que determinados comportamentos carregam.

Eu, quem me conhece sabe, não tenho a menor vocação para dicionário ou corretor ortográfico / linguístico ambulante. Tenho para mim que o ponto mais importante é a mensagem ser compreendida, portanto, o processo comunicativo como um todo interessa-me mais que regras e normas.

Nesse sentido, e com muita modéstia, sinto-me próxima desse grande escritor Ariano Suassuna. Não porque eu seja incrível na escrita, mas sim porque adoro o humor e uso esse artifício até nos momentos mais impróprios. Fazer o quê? É o meu jeito. Esse sentimento de proximidade deriva do esperar o inesperado pelos títulos que carrega, pela formação que se tem ou pelo lugar que ocupa. Vou explicar mais adiante.

O auto da compadecida, obra de Ariano lançada em 1955, é atemporal. Retrata a agudeza do brasileiro em sobreviver diante das maiores adversidades. Com um humor real e ácido, mostra as máscaras usadas em posturas sociais politicamente corretas. Quem não leu a obra ou assistiu à versão cinematográfica da obra, está perdendo a oportunidade de rir muito.

Mas, voltando à questão inicial que os vídeos geraram na minha cabeça, Ariano tinha um jeito muito sincero de expressar seus pensamentos. Conta em um vídeo que recusou o alfaiate exclusivo da Academia para ser fiel à costureira que sempre o atendera. Mesmo com toda a fama e notoriedade, mantinha particularidades interessantes, mas, principalmente, a fidelidade à sua essência.

Tudo isso me fez lembrar de outra conversa, com outro grande amigo, o LH. Muitos de vocês, leitores, já devem ter tido aulas com essa sumidade. Com um português irretocável, uma voz suave e um saber indiscutível… ahhh, como é gostoso ouvi-lo falar. Neste dia, após meus elogios a ele, falou-me: “…você tem presença cênica, uma voz potente e é arrebatadora”. Fiquei lisonjeada.

Pouco tempo depois, caiu a minha ficha! Quiçá a sua também tenha caído.

Nosso sucesso está na capacidade que temos em sermos fiéis à nossa essência, em valorizar nossas habilidades e fazer delas trunfos únicos. Você pode (e deve) admirar a beleza do outro, mas não pode querer copiá-la, sob o julgo de parecer falso.

Cada um tem um jeito único de ser. Ariano, com seus muitos títulos, deu vazão à arte de escrever com humor sábio e um encantamento vívido. Fernandinho, um jovem de alma antiga, que esbanja sua originalidade em seus textos profundos. LH, com seu português irrepreensível e uma paz inigualável, ensina a arte de escrever bem a tantos e tantos. E eu. O que temos em comum? O amor pela linguagem, pela escrita e pela palavra. Cada um de um jeito diferente, mas originais às suas essências.

A mim, cabe honrar meu jeito doido, minhas manias e trejeitos, minha maneira de ver e viver. Sou o que sou. Se serei respeitada socialmente por isso, não pertence a mim. E você, é fiel à sua essência?

“A verdadeira universalidade respeita as singularidades locais. Todos entram com sua parte, compondo a vasta sinfonia da cultura. Ela é feita de contrastes, que não são contrários, mas complementares.” (Ariano Suassuna)

Alexandra A.S. Fernandes: Graduada em Letras – Português/Espanhol pela UNIP. Pós-graduada em Metodologia de Ensino das Línguas Portuguesa e Espanhola pela UCAM. Autora do livro – Autismo – Ensinar aprendendo e aprender ensinando. Diretora Social e Acadêmica da ACILBRAS. Funcionária pública e Professora de Análise Linguística do Piconzé Anglo e HF Cursos Jurídicos. Escritora, Terapeuta Integrativa, Astróloga e Artesã.  Redes sociais: Instagram @profa_alexandra e @aora_terapias; Youtube Profa. Alexandra – Tirando dúvidas de português.