Partido aposta em Bolsonaro não apenas nas capitais, prioridades da maioria das legendas, mas também nas cidades menores, de até 200 mil habitantes, onde não há segundo turno.
O ex-presidente Jair Bolsonaro avisou a pessoas de sua confiança que voltará ao Brasil no início de abril, quando sua temporada nos Estados Unidos completará quatro meses. Ao chegar, ele encontrará um plano de ação que vem sendo montado pelo PL para usar a imagem do ex-presidente e da ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, cujo objetivo é triplicar o número de prefeituras comandadas pelo partido ao fim da eleição municipal do ano que vem, saltando das atuais 343 para pelo menos 1 mil.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, quer que Bolsonaro e Michele comecem a viajar no primeiro semestre para arregimentar apoios e fortalecer a legenda para a disputa do ano que vem, que ocorrerá em outubro de 2024. Uma das possibilidades é que o ex-presidente retome as motociatas que marcaram suas passagens por diversas cidades durante a campanha eleitoral do ano passado.
A sigla já encomendou uma pesquisa para ajustar o discurso que o presidente deverá entoar nas viagens pelo Brasil. A ideia é que a excursão bolsonarista comece por Maceió, única capital do Nordeste em que Bolsonaro venceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições do ano passado. Ele e Michele, de acordo com o plano do PL, deverão desempenhar papeis distintos nesse roteiro: Bolsonaro deverá fazer aparições e participar de eventos com grandes públicos, de modo que o partido possa explorar as imagens dessas agendas para reforçar a imagem de que ele continua sendo o grande líder da direita, capaz de transformar aliados em candidatos competitivos. A ex-primeira-dama, que a cada dia vem sendo mais cotada por correligionários para disputar a eleição de 2026, deverá reproduzir o modelo da campanha de 2022, quando foi peça-chave para tentar reverter a rejeição do público feminino ao marido.
Ao menos enquanto o PL ainda não a trata publicamente como um ativo eleitoral, a ela será passada a missão de intensificar o discurso de valores conservadores e atrair mais brasileiras aos quadros do partido.
Líder do partido na Câmara, deputado ligado a Valdemar Costa Neto, Altineu Côrtes (PL-RJ) confirma que o ex-presidente irá fazer uma peregrinação pelo território nacional:
“A ideia é fazer uma verdadeira força-tarefa pelo Brasil, reforçando o papel de Bolsonaro como o grande líder da direita. Os deputados de cada estado vão acompanhar Bolsonaro, impulsionando essas visitas, existe a possibilidade de fazermos novas motociatas, inclusive. A Michelle não é candidata a nada, mas é a nossa liderança feminina, que certamente vai ajudar muito neste trabalho.”
Filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro diz que o PL legenda já começou a tratar de valores para botar o plano de pé.
“A vontade do Valdemar e de todos nós é vê-lo conduzindo esse projeto de eleição de nomes da direita. Em 2020, como era presidente, ele não pôde se envolver tanto nas eleições municipais, inclusive por causa da pandemia. Mas agora o cenário é outro, e o PL já ofereceu recursos para custear esse trabalho com a verba do fundo eleitoral.”
Em avaliações de cenário feitas a pessoa de sua confiança, Valdemar Costa Neto tem dito que Bolsonaro será determinante no sucesso eleitoral do partido não apenas nas capitais, prioridades da maioria das legendas, mas também nas cidades menores, de até 200 mil habitantes, onde não há segundo turno. Para o cacique do PL, uma visita de Bolsonaro a município com essas características já pode ser determinante para garantir a vitória do candidato do partido, que se elege ao atingir um patamar perto de 25% dos votos.
Nas mesmas conversas, entretanto, Costa Neto admite que não consegue precisar se Bolsonaro voltará, de fato, em abril, visto que já definiu outras datas para retornar e voltou atrás.
Joias
Outro ponto para o qual o PL prepara uma estratégia diz respeito ao discurso que o ex-presidente adotará em relação às joias e outros pertences dados como presente ao estado brasileiro e não devolvidos pelo clã Bolsonaro.
A ideia é que o assunto seja tratado com indiferença e, caso surjam novos detalhes, Bolsonaro mesmo irá dizer que apoia investigações sobre o tema, já que não deve nada. Dirá, porém, que as investigações precisam contemplar também os mandatos petistas, com um pente fino. A imagem de um homem simples, que nunca ostentou bens materiais deve ser trabalhada, em contraponto a escândalos de corrupção durante a gestão petista.
*Com informações do O Globo