Versos de paz em tempos de tela

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Poliane Castelhano é jornalista, publicitária e pedagoga. Divino Haicai é o seu primeiro livro. (foto arquivo pessoal)

O livro Divino Haicai da comunicadora votuporanguense Poliane Castelhano que será lançado, amanhã, na Biblioteca Municipal “Castro Alves”, é um convite à reflexão e contemplação da vida fora das redes sociais

A antologia poética consiste em 43 páginas com 29 versos de haicai, que também podem ser ouvidos com o recuso de audiolivro. (foto arquivo pessoal)

@leidiane_vicente

Palavras arrumadas, esteticamente, em versos que conversam com as sensações e dialogam com as subjetividades de cada pessoa, assim pode ser caracterizado uma das formas de fazer poemas, com rimas ou não.

Para a jornalista, publicitária e pedagoga Poliane Gonçalves Castelhano Alves o gênero escolhido, ao compor a primeira obra dela, foi o haicai.

Composto por três versos, esse estilo teve origem no Japão por volta do século XVI e ganhou notoriedade com o mestre Matsuo Bashō. No Brasil, foi incorporado à literatura por autores como Guilherme de Almeida, Paulo Leminski e Millôr Fernandes, que o adaptaram à língua portuguesa.

A história de Poliane com o haicai começou quando ela estava no ensino médio. Segundo a mesma, o livro de autores nacionais foi lhe dado, porém ficou esquecido na estante.

“Alguns anos depois, já adulta e vivenciando experiências não tão positivas, me deparei com o livro em um momento de adversidade. Nele encontrei algum conforto que me gerou grande empatia. Depois dessa experiência de leitura, me veio o desejo de escrever (como na infância) para trazer à tona o que estava dentro do peito, então comecei a esboçar em haicai”, explica a comunicadora sobre a estreia e mergulho na escrita.

Intitulado Divino Haicai, o livro é resultado de composições, desenvolvidas por Poliane, ao longo de 13 anos. Ao final, a coletânea antológica consiste em 43 páginas com 29 versos de haicai.

“A maioria segue pela essência da técnica escolhida, o haicai, que originalmente era focado na natureza. Mas os versos dialogam com alguns sentimentos, momentos e reflexões, baseados em experiências e meditações sobre a minha perspectiva do cotidiano”, explana ela sobre o livro que acaba de lhe dar o título de escritora.

Perguntada quanto a um preferido, Poliana afirma que todos a trazem memórias e reflexões sobre algo novo. Mesmo assim, cita uma amostra do que a faz meditar a respeito de corpo, alma e espírito:

“Às vezes me esqueço

Sem o dom de ser bom

Doente permaneço”

Um minuto de silêncio após o verso, a conversa com a autora continua. Desta vez, ela elucida sobre os locais pertencentes aos pontos inspiracionais, envolvidos pela desenvoltura da estética do haicai.

“Da terra, do céu. Da vida e da morte. Do bem e do mal. Do equilíbrio que todos as coisas possuem, a partir da minha cosmovisão, para que eu seja capaz de contemplar a beleza da criação que revela a profundidade do divino, a partir da simplicidade dos meus olhos”, exprime Poliane.

O livro tem editora própria e independente, mas contou com o talento e produção de Dayane Lemos, projeto gráfico de Kaique Betencourt e catalogação da bibliotecária Márcia Faria Cavalcante.

A obra é inclusiva e pode ser apreciada pela audição. O audiolivro, feito em estúdio com fundo musical e efeitos sonoros, foi realizado por Ronaldo Lemos. Para ouvir, basta acessar o QR Code encontrado dentro do exemplar.

Quem assina a capa é a ilustradora votuporanguense Aline Moreira Bençal, que foi recentemente indicada em duas categorias no FestVídeo 2025. Para o livro, ela apostou em uma identidade visual delicada e harmoniosa, inspirada na natureza brasileira e na atmosfera leve do haicai.

“Aline é uma artista admirável. Além de ser minha amiga de trabalho, a potência criativa da mente dela e as habilidades técnicas que desempenha em diversas manifestações artísticas é indiscutível. Talvez eu precisasse de uma defesa legal se não a chamasse, seria um crime, definitivamente”, diz a jovem escritora, esbanjando elogios à ilustradora.

Todas as facetas de produção da obra foram viabilizadas por meio da Lei Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, com apoio da Prefeitura de Votuporanga através da Secretaria de Cultura e Turismo.

Para além do livro, a publicitária menciona o projeto autoral de realização de oficinas de haicai pelo Cras Leste, contemplando o bairro São Cosme, em Votuporanga, e na cidade Simonsen.

“Nessas oficinas, as crianças e adolescentes produziram seus próprios haicai, aos quais vamos expor no lançamento do livro”, detalha a profissional multifacetada.

O Antologia Poética – Divino Haicai será lançado amanhã, 1º de junho, as 15h, na Biblioteca Municipal “Castro Alves” de Votuporanga, que fica no prédio do Parque da Cultura.

O evento conta com sessão de autógrafos, momentos de interação entre a autora e os leitores e a apresentação do músico votuporanguense Kelvin Arruda. A distribuição dos exemplares será gratuita a todos os presentes.

A 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada em 2024, indica que o país possui cerca de 93,4 milhões de leitores com cinco anos ou mais, conforme a estimativa da população brasileira. O levantamento também mostra uma diminuição de 6,7 milhões de leitores em relação aos últimos quatro anos.

A disputa entre ler livros ou rolar os feeds das redes sociais está causando impacto no hábito de leitura que, por vezes, demanda atenção plena.

“Parece ser cada vez mais difícil para nós desviar os olhos da tela. É um desafio constante para mim, por exemplo, por atuar com mídias digitais profissionalmente. Reconheço seus potenciais positivos e negativos”, diz Poliane sobre essas questões presentes no cotidiano.

E completa acerca da obra autoral:

“Eu penso que o Divino Haicai é uma resposta para esse momento, uma possibilidade de reflexão. Versos simples, objetivos, contemplativos que exaltam a beleza do off-line, da vida como de fato ela é, que podem ser consumidos de forma rápida, mas profunda se lhe dada um pouco mais de crédito. No fim das contas, dirá mais sobre aquele que lê do que propriamente sobre o que eu quis dizer”, reflete ela.

Optar por assistir, a todo tempo livre, vídeos polêmicos, engraçados ou até rápidos tutoriais disseminados pelas redes socias é de grande maioria, mas a leitura é passível de aguçar a imaginação e a criatividade, duas potentes capacidades do ser humano se tornando extintas nos dias atuais.

Serviço

Lançamento do livro “Antologia Poética – Divino Haicai”

Dia: amanhã, 1º de junho, as 15h

Local: Biblioteca Municipal “Castro Alves” – Parque da Cultura

Entrada gratuita