Vereador justifica compra de R$ 250 mil em gibis contra a dengue e gera bate-boca na Câmara 

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Vereador justifica compra de R$ 250 mil em gibis contra a dengue e gera bate-boca na Câmara - Foto: Reprodução

Dr. Leandro (PSD), usou a tribuna para explicar que não se trata somente dos 6,3 mil exemplares com 36 páginas cada, ao custo de R$ 39,70 a unidade, conforme divulgado pelo edital de compra, mas também de material complementar, como treinamento para professores, fichas informativas para a família, animação digital com os personagens da história em quadrinho com disponibilização via QR Code.


Jorge Honorio
jorgehonoriojornalista@gmail.com 

A compra de 6,3 mil gibis pela Prefeitura de Votuporanga/SP, por meio da Secretaria Municipal da Educação, para colocar em prática o projeto ‘Guardiões da Saúde’ de enfrentamento à dengue no município ganhou repercussão e gerou bate-boca entre vereadores na Câmara, durante a 7ª sessão ordinária desta segunda-feira (10.mar). 

A aquisição de 6.300 gibis com 36 páginas cada, ao custo de R$ 39,70 a unidade, totalizando o investimento em R$ 250.110,00, conforme noticiado pelo Diário, em matéria de capa do último sábado (8) com base no Diário Oficial Eletrônico de Votuporanga (edição 2323 de 05 de março de 2025) – levou o vereador Dr. Leandro (PSD) a tribuna para ‘reparar injustiças’. 

Na prática, o parlamentar se referia a um vídeo publicado pela vereadora Débora Romani (PL), nas redes sociais e posteriormente exposto no telão da Casa de Leis, onde ela aparece em uma banca de jornais com a edição do Diário nas mãos, comparando e questionando valores de gibis. A vereadora afirmou que pediria informações da aquisição ao secretário municipal da Educação, Marcelo Batista.

“Eu vou falar sobre uma injustiça que eu vi acontecer, Eu acho que a gente tem que ser justo em todos os momentos, em todos os momentos da vida a justiça sempre cabe. Agora, existe uma frase célebre que diz o seguinte, há três coisas que não voltam atrás, a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. E hoje aqui nessa Casa de leis eu vi a palavra ser pronunciada causando um dano irreparável, ainda que com uma leve correção, mas já fez um estrago lá atrás. Então além, além da palavra pronunciada, sem ter um zelo, sem ter um cuidado de saber o que realmente está acontecendo, sem estudar, trazendo informação falsa para a população de Votuporanga, uma informação que não é verídica para a população de Votuporanga, eu vejo que a pessoa, a nobre vereadora [Débora Romani], perdeu a oportunidade de estudar e conhecer um pouco mais sobre o assunto. E eu falo aqui sobre os gibis. Foi falado, foi mostrado um vídeo aqui nesse telão, que se pagou R$39,00 e alguns centavos por um gibi. Não é verdade, gente! Não foi isso que aconteceu. É muito simples. Bastaria acessar o Portal da Transparência, que foi o que eu fiz quando eu fiquei sabendo disso, que eu também achei um absurdo. E aí eu fui olhar no Portal da Transparência, o que foi licitado. E o objeto é muito simples. A gente vê que é um objeto bem complexo. Olha só. Resumidamente, aqui no edital, eu peguei só a descrição do objeto. Livro de história, não gibi, livro de história em quadrinhos para alunos. Por que livro? Porque tem uma didática envolvida, não é uma historinha para a gente dar risada, não é um gibi. Cada aluno receberá um HQ, livro de histórias em quadrinhos, adaptado à sua faixa etária, contendo informações lúdicas e práticas sobre a prevenção de criadouro do mosquito e os riscos das doenças transmitidas. Além disso, além desses gibis para 6.300, desse livro didático para 6.300 crianças, guias práticos para professores. Tem uma capacitação para os professores da rede municipal que vão trabalhar essa conscientização para nos livrar da dengue, esse problema que nós estamos enfrentando, sentindo na pele todo dia. Então tem um programa pedagógico junto com isso. Não é uma simples revistinha infantil. Cada sala de aula será equipada com guias detalhados para os professores, auxiliando na implementação das atividades didáticas previstas no programa. Estimativa baseada em número de turmas, 440 guias. Fichas informativas para a família. Olha só, não é só o livrinho para o aluno. Olha só, não é só o livrinho para o aluno. Informações também para a família desse aluno. E aqui está. Serão distribuídas fichas para os responsáveis pelos alunos, visando ampliar o impacto das ações preventivas em suas residências. A gente observa que é um trabalho contra a dengue. Um trabalho preventivo, um trabalho educacional contra a dengue. Além disso, material complementar. Inclui animação digital com o mesmo tema e personagens da história em quadrinho. Isso vai ser disponibilizado via QR Code. Então não é mais 1, 2, 3, 6.300, serão quantos cada cidadão quiser assistir, quiser ver e quiser se conscientizar de como combater a dengue. É uma licitação muito complexa. É uma licitação muito complexa. Não estou falando se o preço está justo ou não. Se é caro ou se é barato. Não é essa análise que eu faço. Para isso existe uma equipe de licitação na Prefeitura muito competente, da qual eu já fiz parte no passado, já trabalhei lá desde a administração do prefeito Carlão Pignatari, e eu sei que aquela equipe é uma equipe muito competente. E quando se decide criar um projeto na Prefeitura, isso não é decidido simplesmente assim, eu quero contratar isso. É passado pela mão de vários profissionais que analisam e chegam a um veredito final. Então eu só queria deixar isso claro para todo mundo, não se trata de um gibi e sim de um processo didático muito complexo”, discursou Dr. Leandro.

No entanto, a vereadora Débora Romani não assimilou o golpe e o contra-ataque foi imediato: “Eu só gostaria de dizer que eu, quando eu li no jornal Diário de Votuporanga, que é um jornal conceituado de Votuporanga, eu me coloquei nessa situação e fui verificar o preço desses gibis, porque no jornal estava escrito gibis, certo? Então eu me baseei nisso. Então eu creio que o Diário de Votuporanga também deveria, a Prefeitura e o secretário deveriam exigir uma retratação do Diário de Votuporanga. Porque eu agora, eu me coloquei à disposição dizendo que eu estarei lendo todo o plano que o Marcelo Batista colocou, o secretário de Educação, que onde eu tenho muita consideração e respeito por ele, certo? E que eu estaria trazendo na próxima sessão a resposta do que eu tinha lido aqui, certo? Então, eu creio que o jornal está colocando um fake news e também deveria ser penalizado por isso.”

Prontamente, Dr. Leandro retrucou: “Vereadora, se me permite, o jornal, ele dá uma notícia de imprensa, uma notícia que traz os fatos não com riqueza de detalhes. Nós, aqui nessa Câmara de Leis, nós temos a obrigação de, antes de causarmos o prejuízo, antes de fazermos todo aquele barulho, estudarmos o que se passa. E nós temos que fazer uma análise técnica. O jornal dá notícia e faz isso muito bem-feito. Então, assim, se a Administração vai ou não vai pedir retratação do jornal, eu não sei. Eu acho que nós, vereadores, temos que trabalhar com um pouco mais de consciência, um pouco mais de responsabilidade, antes de soltarmos notícias que não devem ser daquele jeito, que não devem ser faladas daquele jeito. Eu não estou dizendo que o preço é justo ou não, só estou dizendo que, assim, foi uma acusação contra a Administração feita de uma maneira injusta.”

Em seguida, Débora defende: “Não acusei!”. E Dr. Leandro questiona: “Como não vereadora?”. “Eu simplesmente coloquei e estou perguntando e quero esclarecimento”, reiterou a parlamentar.

Enquanto o bate-boca seguia, o vereador Cabo Renato Abdala (PRD), conhecido nos bastidores da Câmara por ser um ‘devorador’ do Diário Oficial Eletrônico entrou no circuito: “E agora, já que foi suscitado esse assunto, faremos um levantamento mais minucioso, de uma forma até mais profunda. Olhando qual foi o preço que foi vendido para outras prefeituras, lá no portal do Tribunal de Contas. Porque, para mim, é um gibi. Porque o gibi tem conteúdo didático também. É um conteúdo com figurinhas, com imagens lúdicas, é isso? Isso, a palavra é essa. Então, assim, na verdade, aquilo que você falou e aquilo que a vereadora falou, é a mesma coisa. É que, popularmente dizendo, se eu fizer um vídeo para a população de outro país falando material lúdico, vão perguntar para mim o que é lúdico. Se eu falar material, um folder, vão perguntar o que é folder. A linguagem para chegar até a população, a maioria da população, é essa, é um gibi.”

Trecho retirado do Diário Oficial Eletrônico de Votuporanga, edição 2323 de 05 de março de 2025 – Foto: Reprodução