Um em cada 4 brasileiros não consegue pagar as contas; 16% vendem bens para quitar dívidas 

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Com orçamento apertado, houve uma redução dos gastos com lazer, roupas e viagens – Foto: Reprodução

Pesquisa mostra que 34% já atrasaram contas de luz e água; 19% deixaram de pagar plano de saúde.


Um em cada quatro brasileiros vive uma dura realidade: no fim do mês, falta dinheiro para pagar todas as contas e sobram dívidas. É o que mostra pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que aponta ainda que, com o orçamento apertado, mais da metade dos entrevistados reduziram as despesas com lazer, deixaram de comprar roupas ou desistiram de viajar.

Além da redução de despesas com lazer e itens de uso pessoal, como roupas e calçados, o orçamento apertado também trouxe mudanças no dia a dia do brasileiro, como parar de comer fora de casa (45%), diminuir gastos com transporte público (43%) e deixar de comprar alguns alimentos (40%).

Quando questionados sobre algumas situações específicas neste ano sobre o orçamento pessoal, 34% dos entrevistados informaram que já atrasaram contas de luz ou água; 19% deixaram de pagar o plano de saúde; e 16% tiveram de vender algum bem para quitar dívidas.

Os invisíveis do Auxílio Brasil

“O estudo mostra os efeitos da situação econômica do país nos hábitos da população. O aumento de preços de produtos como gás de cozinha, alimentos e combustível impacta diretamente no orçamento das famílias e isso reflete na redução do consumo de uma forma mais ampla”, destaca o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo. 

E em um cenário em que é difícil sair do vermelho, poucos poupam, pois 69% da população não conseguem guardar dinheiro. Os poupadores são 29%. 

A pesquisa mostra ainda que, com o orçamento apertado, mais da metade dos entrevistados reduziram as despesas com lazer, deixaram de comprar roupas ou desistiram de viajar. 

Apesar disso, a expectativa da população é chegar ao fim do ano com um pouco mais de folga nas finanças. Do total de entrevistados, 56% acreditam que, até dezembro, estarão com uma situação econômica pessoal melhor ou muito melhor. 

Presidente da CNI, Robson Braga de Andrade lembra que a pandemia de Covid-19 e uma série de outros desafios, como a guerra na Ucrânia, comprometeram a recuperação da economia e a retomada do crescimento no Brasil. 

“A aceleração da inflação levou a um novo ciclo de aumento de juros, o que desestimulou o consumo e os investimentos. Ao menos, estamos diante de um cenário de recuperação do mercado de trabalho, com redução do desemprego e aumento do rendimento da população – o que nos dá uma perspectiva de superação, ainda que gradual, dessa série de dificuldades que as famílias estão enfrentando.” 

Corte de gastos 

Sem conseguir poupar ou sair do negativo, a maioria da população (64%) cortou gastos desde o início do ano e um em cada cinco brasileiros pegou algum empréstimo ou contraiu dívidas nos últimos doze meses. Entre quem reduziu o consumo, 61% demonstram otimismo e dizem ser uma situação temporária. Mas apenas 14% dos brasileiros pretendem aumentar os gastos até o fim do ano. 

Sobre o aumento dos gastos, gás de cozinha lidera o ranking de produtos cujos preços mais subiram nos últimos seis meses na percepção da população. Nesta edição da pesquisa, 68% disseram que o valor do gás está maior contra 56% em abril. 

Em seguida, vem alimentos, conta de luz e combustível. Mais da metade dos brasileiros apontaram que o valor desses itens aumentou no período. A percepção de alta dos preços de itens como arroz e feijão e carne vermelha também cresceu bastante em relação à pesquisa de abril, com aumento de mais de 10 pontos percentuais em julho. 

Diante do aumento dos preços, a maioria da população (68%) pechinchou antes de fazer uma compra este ano e utilizou o cartão de crédito (51%). 

O famoso “comprar fiado” fez parte da realidade de 3 em cada 10 brasileiros este ano, mais que cheque especial, crédito consignado ou empréstimo com outras pessoas, que tiveram menos de 15% de uso cada um entre os entrevistados.

*Com informações do O Globo