Traíra, truta. E querem robalo

890

COLUNA CARLOS BRICKMANN –

Preocupado com a alta dos combustíveis? Pois virá alta maior, já que o petróleo tipo Brent, padrão dos americanos, oscilava em torno de US$ 120 o barril e, no momento em que o caro leitor estiver lendo esta coluna, talvez já esteja a US$ 130. Traduzindo: no início de 2022, já prevendo que haveria um forte aumento do petróleo, o tradicional grupo Goldman&Sachs estimava em dólar a uns US$ 100 o barril até o fim do ano. Aí veio a guerra, vieram as sanções, e hoje o mesmo grupo calcula uns US$ 180 o barril no fim do ano. Com 10% a mais ou a menos, não se surpreenda se chegar a US$ 200.
Mas esta não deve ser sua maior preocupação. O trigo já subiu uns 50% desde o início da guerra, há umas duas semanas. Deve subir mais, pois tanto Rússia quanto Ucrânia estão entre os maiores produtores e exportadores do mundo. O Brasil consome pouco mais de 13 milhões de toneladas por ano, das quais entre cinco e sete milhões vêm do Exterior. Sobe o trigo, sobem pão, macarrão, alimentos básicos. A alta do petróleo faz com que o trigo suba mais, por causa do transporte. E, embora isso dependa de uma série de outros fatores, a alta (ou falta) de fertilizantes, que importamos da Rússia, Belarus e região, também joga para cima não só o preço do trigo, mas de toda a safra.
Pouco? Quem comanda a economia é Bolsonaro. Que já disse que está louco para largar o bastão e se dedicar à pescaria. Os peixes visados sabemos quais são – esses do título. Pior é que largar o bastão é o que ele menos quer.
Hora dos profissionais
No meio da confusão da economia, e com problemas externos, seria a hora de juntar um grupo de grandes profissionais, talvez até formando um governo de união, para evitar que a economia descambe mais e para garantir a toda a população o essencial: três refeições por dia.
Mas o superministro da Economia está mais preocupado em manter-se no cargo do que em exercê-lo. União nacional nem seria difícil: muitos que apoiaram Dilma e Lula hoje apoiam Bolsonaro, e se Lula ganhar se atiram de novo em seus braços. O problema é fazer a divisão – não do governo, mas dos frutos do governo.
Caminhos a escolher – petróleo
E há como trabalhar enfrentando e vencendo dificuldades. Petróleo, por exemplo: o Brasil produz boa parte do que consome, a custo bem mais baixo que o do óleo importado. Produz biodiesel vegetal, que é misturado ao diesel na proporção de 12% (e poderia elevar a mistura a 14%), produz etanol, e mistura 27% à gasolina. Há setores que defendem o uso de gás natural em caminhões, em vez do diesel. Garantir que a Petrobras não seja assaltada também é bom. Estatal ou privada, a Petrobras é um símbolo do Brasil. Não valeria a pena verificar se tudo na empresa funciona como deve?
Caminhos a escolher – fertilizantes
Há duas lendas sobre fertilizantes no Brasil: uma, de que não temos como produzi-los; outra, de que há matéria-prima, mas só em terras indígenas. São lendas. Sergipe tem potássio (a dona é a Vale) e poderia triplicar a produção, mas ninguém investe. Há potássio do Recôncavo Baiano ao Espírito Santo, mas não se pesquisa o potencial das jazidas. Há muito potássio na Amazônia, da confluência do rio Madeira com o Amazonas a até 400 km de distância.
De fósforo, também essencial, temos uma dúzia de pontos de produção, que já respondem por metade do consumo nacional. É estudar como ampliar a produção. Isso dá trabalho, pede investimento. Botemos a culpa nos russos.
Proposta de paz
O Governo israelense propôs à Ucrânia que leve a sério a possibilidade de atender a algumas exigências russas para fazer a paz. Principais pontos: desistir de Donestk e Donbas, de maioria russa, que se converteriam em repúblicas independentes; declarar-se neutro; e comprometer-se a não aderir à OTAN.
Se não aceitar as condições, disseram os israelenses, os russos irão até o fim, e a Ucrânia, cedo ou tarde, será destruída. Não se trata de um plano israelense de paz: dizem altos oficiais que apenas levam mensagens de um lado a outro do conflito. Israel tem boas relações com os EUA, seus aliados, e a Rússia, que garante o regime sírio, mas não se opõe às incursões dos caças israelenses contra alvos iranianos (que os russos também não querem por lá).