Sobriedade já – Sorte: use com moderação…

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Carlinhos Marques

 

 

 

Existem dois comportamentos principais nossos diante das situações: A ação e a reação. Fácil perceber a diferença de um e de outro? Não que exista um certo e um errado, cabem sim os dois, conforme a circunstância, mas como tudo fora do seu tempo, ele pode ser negativo. Existe o momento da ação; existe também o momento da reação.

Acontece que muitas vezes as coisas deixam de acontecer porque acabamos nos deixando levar mais pela reação do que pela ação, claro que a reação não deixa de ser uma ação, no entanto, podemos dizer que seja uma ação atrasada, tardia, que só aconteceu porque circunstâncias que forçaram a ação.

Pensando nisso me veio a lembrança de uma música da época em que eu estava aprendendo a tocar violão. Lembro bem que era uma música fácil, uma harmonia bem simples, só com dois acordes, mas essa música marcou muito, principalmente o refrão, que acabou sendo usado como protesto político, como um hino à “rebeldia social”, vamos dizer assim. O refrão dela diz: “Vem, vamos embora, que esperar não é saber; quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” Percebe que de certa forma é um convite a ação e não esperar para uma possível reação? Não ficar esperando para agir. Basta saber para agir.

Veja que nós normalmente cuidamos da saúde quando estamos doentes; isso é uma reação. Ação seria cuidar da saúde quando não se está doente.

Acompanho muita gente aqui no Novo Sinai, por exemplo, com vontade de parar de fumar. Às vezes até deixam a droga, deixam o álcool, mas não conseguem ficar livres do cigarro. Aí acontecem histórias de que só depois de muitas complicações no pulmão, até, Deus me livre, um câncer na garganta, resolveram parar; isso acaba sendo uma reação, reação à doença.

Quantas pessoas fazendo caminhada por aí, logo depois de um princípio de infarto, ou até de um infarto mesmo, não é?

Não devemos esperar sermos empurrado pelos fatos do presente, mas deixar ser atraídos pelo possível fato futuro.

Então refletindo sobre isso, cheguei à conclusão de que quem se liga mais na reação, do que na ação, acaba sendo uma pessoa que de certa forma acredita muito na sorte.
Sim! Ela usa a sorte como defesa, como escudo contra o elemento surpresa. E aí sabe o que acaba acontecendo? Classificam as coisas que dão certo como sorte e as coisas que deram erradas, como azar e não percebendo a falta de ação no momento certo.

Temos o costume de olhar para algumas pessoas e pensar: “Nossa, como aquela pessoa tem sorte!” principalmente alguém bem sucedida financeiramente, esquece que quanto mais trabalha, mais se age, mais “sorte” você vai ter para demonstrar para aqueles que ficam ali sentados, esperando a sorte chegar!

Queremos justificar o sucesso do outro por pura sorte. E não é, né?

Sinceramente para mim, homens fortes não acreditam tanto assim na sorte! Agora, homens fracos tendem a acreditar mais na sorte.

Os fortes tem mais consciência da tal “causa e efeito”, do tal “se colhe o que se planta”. Temos que parar de ficar esperando a sorte como destino.

Destino não é questão de sorte; é mais questão de escolha. Não é algo que a gente espera, mas algo que se vai em busca. É estar pronto, é estar preparado quando a oportunidade chega.

Mas veja que para estar preparado, você teve que ter a ação de se preparar. Percebe que a ação está aí também?

Lembra aquele ditado “tem coisas certas que acontecem no momento errado?”, já deve ter ouvido isso né? Mas como assim, momento errado? Se é coisa certa, é certa! O momento errado, muito provavelmente é porque eu não me preparei para o momento.

É mais fácil para o nosso amor próprio, para nossa autoestima, ficar caluniando a sorte do que reconhecer nossa omissão diante de uma conduta imprudente.

Lembro que quando criança ainda ouvi uma entrevista de um dos maiores pianistas brasileiros: Arthur Moreira Lima. Eu o via tocando e ficava encantado; eu pensava: “Poxa vida! Que sorte esse cara teve com esse dom” aí, nessa entrevista ele contou que no final de um show, um rapaz chegou para ele e disse: “Seu Arthur, eu daria minha vida para tocar piano como o senhor.” Então ele parou, olhou para o rapaz e respondeu: “Eu dei a minha!” O que isso significa? Significa que para tocar piano como ele, olha, penso que precisa pelo menos de oito a dez horas por dia, sete dias por semana, de estudo; para atingir aquele nível.

É isso! Vai esperar a sorte para aprender a tocar um instrumento ou vai se colocar a aprender?

Quando você imaginar que está te faltando sorte, dobre, ou multiplique, as atitudes. O azar morre de medo de pessoas determinadas.

E outra coisa: sorte não dura! O que você chama de sorte, pode observar, provavelmente é muito passageiro. Não confunda escolhas mal feitas por azar e cuidado com o que você chama de sorte.

Veja que importante isso: Nunca confunda esperar a sorte com ter fé. A fé te faz acreditar que de todo mal Deus pode tirar um bem maior. Então muitas situações que chamaríamos de azar, talvez seja a hora mais propícia para saber o tamanho da sua fé.

Fé sim, você deve usar com abundância; ela sim tem a chave que abre as portas daquilo que a gente chama de impossível.

Percebe então que sorte é uma fantasia? Ela cria sonhos. Nós até devemos sonhar, mas cuidado; às vezes se perde a vida por causa de um sonho.

Deus está no controle! Você não precisa de sorte.

Aliás, faça como São Tomé, que mesmo admitindo ter fé ele disse: “Senhor eu creio, mas aumenta minha fé!”

A sorte use com muita moderação, agora, a fé, use com abundância!

 

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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