SOBRIEDADE JÁ – PARE, OLHE, ESCUTE…

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Por Carlinhos Marques –

Lembro bem de uma placa que existia, acho que ainda existe nos cruzamentos de linhas férreas, que diz assim: “pare, olhe, escute”. Três sugestões de prudência que com certeza salvaram muitas vidas.
Claro que se a placa não estivesse lá, a maioria provavelmente iria parar, afinal de contas do outro lado, o lado contrário, o que vem é grande, pesado, e no caso de colisão o estrago é grande.
A presença da placa reforça a ideia do perigo. Eu imagino que alguns até se incomodam, talvez parar só, já fosse suficiente, agora, parar, olhar e escutar, isso é natural pra quem não é cego nem surdo.
Ok! Eu sempre gosto de comparar a vida como uma grande viagem, a vida é uma viagem. E “nessa longa estrada da vida”, como cantava o saudoso poeta sertanejo Zé Rico, “vou correndo e não posso parar”, existem muitos cruzamentos de risco e uma placa parecida como esta, me parece necessária. Talvez um “pare, olhe, escute e depois, decida”,
Dizem que uma vez numa cidade do interior promoveram um campeonato para saber quem seria capaz de cortar mais lenhas. Então reuniram ali vários lenhadores com seus machados, tudo pronto para a competição. Eles tinham cinco horas para apresentar o resultado de seus trabalhos.
Um senhor, aliás, o mais velho da turma, chamou a atenção porque de vez em quando ele parava, sentava na sombra com o machado, enquanto os outros seguiam ali cortando lenha de forma alucinada. Terminado o tempo, foram fazer a contagem e não é que aquele senhor, o mais velho e que de vez em quando parava supostamente para descansar, tinha cortado mais lenha? Os outros competidores ficaram espantados e foram perguntar: “mas senhor, nós ficamos aqui cinco horas seguidas cortando lenha e você de vez em quando parava para descansar, ficava aí com o machado no colo; como ainda assim conseguiu cortar mais lenha do que nós?” Foi aí que ele respondeu: “Mas quem falou que eu parava para descansar? Eu parava era para amolar o meu machado.”
Aí que tá! Eu imagino que aquele senhor talvez olhasse para os outros competidores, até com certa inveja da juventude deles, da força, da agilidade. Mas com certeza os outros, os mais jovens não olharam para aquele senhor e desejaram sua sabedoria.
Isso é comum. Os mais velhos acabam invejando a saúde e o vigor dos mais novos, enquanto isso os mais novos nem percebem o valor da prudência da sabedoria dos mais velhos.
É que a gente conhece muito bem o que perde, mas dificilmente a gente reconhece o que falta.
E até os mais velhos muitas vezes acabam decidindo muito mais pela necessidade do que pela prudência. Agem somente quando a circunstância exige. Você acha que os mais velhos usam bengala por prudência ou por necessidade? Melhor não ficarmos esperando a necessidade de “nossas bengalas”? Que tal usá-la agora como prudência?
Percebe que diante da placa do “pare, olhe, escute”, da vida, ou diante do semáforo com o sinal vermelho aceso, nos é dado uma opção e não uma ordem?
Gente! Diante do farol vermelho, eu devo passar? Claro! Mas não existe ali uma barreira física que impeça que eu passe; a barreira está na prudência da escolha.
E prudência muitas vezes é uma atitude de coragem.
Toda a ousadia deve passar pelo filtro da prudência.
E mais uma vez para mostrar como os escritos da Bíblia são extremamente atuais, ela diz assim: “Seja simples como as pombas, mas prudentes como as serpentes!”
Você já viu uma cobra se preparando para dar o bote? Impressionante como ela espera… Como espera o “sinal verde” da circunstância, como ela parece estar ali parada, olhando e escutando…
E aí, num mundo com pressa eu sei que muitas vezes fica difícil parar para “amolar o machado”. Por isso que eu gosto muito daquela música que começa descrevendo a postura de quem já teve pressa, mas hoje anda devagar; hoje para mais, para “amolar os seus machados”.

“Ando devagar porque já tive pressa”. Penso que é difícil fazer com pressa e com prudência, alguma coisa bem feita ao mesmo tempo.
Respeite com convicção os “sinais vermelhos”.
O olhe, da placa da linha do trem, nos sugere um binóculo: aquele que mostra um perigo eminente, mas que está distante a olho nu, e que eu não percebo, ele traz lucidez e evita riscos desnecessários.
E a frase da placa termina com uma das maiores dificuldades: o escute! Uma criança com três ou quatro anos de idade já sabe falar; muitos já sabem falar até outros idiomas, mas muitos morrem com cem anos ou mais e ainda não aprenderam a ouvir.
O saber escutar, já é quase que uma resposta para quem te fala!
Além disso tudo, penso que o saber escutar seja o ápice de uma oração perfeita, porque a oração perfeita não é quando Deus me ouve, mas quando ouço a Deus!
Saber ouvir talvez seja tão difícil porque vem junto com o saber se calar; ouvir a canção do outro, mergulhar no mundo do outro, nos dilemas do outro, ouvir o silêncio dos outros…
As pessoas fazem curso de oratória; que tal fazer um curso de “escutatória”?
Infelizmente eu acho que se abrissem uma escola com o curso de “escutatória” ela viesse a falência nos primeiros meses de funcionamento.
E para encerrar, vou deixar essa dica:
Escute o que te dizem, mas separe o que você acredita daquilo que lhe disseram, e só depois de separar, coloque em prática aquilo que te dizem!

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai,
que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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