SOBRIEDADE JÁ: PAIS E FILHOS NÃO SÃO IGUAIS…

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Uma pergunta que já ouvi várias vezes e que até me esforço ao máximo para ter uma resposta para os pais que estão decepcionados com o comportamento dos filhos, eles perguntam:

Onde foi que eu errei?

Percebe que nessa pergunta já existe uma certa sentença condenatória dos pais contra si mesmos, admitindo um suposto erro, e se perguntam entre si, entre o casal, muitas vezes perguntam para si mesmos: “onde foi que eu errei?”

Lógico que eu não vou ter aqui a petulância de uma resposta exata onde os pais erram. Pais erram porque são humanos e seres humanos erram.

Existe um raciocínio que pode ajudar a gente nessa resposta, diz assim: “Os inteligentes aprendem com seus próprios erros”. Eu prefiro este ditado um pouco mais amplo, de uma forma mais completa: “O inteligente aprende com seus próprios erros, mas o sábio é aquele que consegue aprender com o erro dos outros.”

Então é bem provável que esteja faltando mais pais sábios; pais que aprendam com o erro de outros pais.

Logo no começo do Novo Sinai me chamou a atenção uma conversa que eu tive com um casal que tinha o filho acolhido por nós e também se fez essa pergunta: “onde foi que erramos?”, o pai disse:

“Sabe Carlinhos, eu sempre quis ser o melhor amigo do meu filho.” De certa forma, me pareceu ali uma virtude daquele pai. Mas me lembro bem a resposta que logo dei a ele, pode ser um erro sim, quando os pais querem ser simplesmente amigos dos filhos.

Veja na nossa própria história de vida:

Quando entramos, por exemplo, na escola, com uns cinco aninhos fazemos nosso primeiro grupo de amigos. São os amiguinhos de classe.      Logo depois mudamos de escola, mudamos de classe, automaticamente muda o grupo de amigos. Arrumamos o primeiro namorado, namorada, o que acontece? Os amigos da namorada, do namorado, acabam se tornando também nossos amigos; mudaram novamente nosso grupo, agregaram mais pessoas. A gente arruma um emprego, entra na faculdade, enfim, a gente muda de cidade, sei lá, até o final da nossa vida, o nosso grupo de amigos é extremamente cíclico.

Depois vocês ouçam uma música do Oswaldo Montenegro que se chama “A Lista”: as primeiras frases dela diz: “Faça uma lista de grandes amigos, quem você mais via há dez anos atrás, quantos você ainda vê todo dia, quantos você já não encontra mais”. Só para ter uma ideia desse lado cíclico das nossas amizades; é fácil de perceber isso…

Acontece que os amigos mudam, agora os pais serão sempre os mesmos.

Então, qual é o risco de um pai dizer: “Eu quero ser o melhor amigo do meu filho?”

Ele corre o risco de ser amigo e deixar de ser pai!

Veja aí relação entre o necessário e o suficiente.

Para ser pai é necessário ser amigo: para ser um bom pai, para ser um pai presente, é inevitável que você seja amigo de seu filho.

Mas para ser pai não é suficiente ser amigo.

Entre amigos não existe, por exemplo, hierarquia; já com relação a pais e filhos deve existir hierarquia. Amigos não mandam em amigos; pais tem que ter autoridade sobre os filhos. Amigos não tem autoridade sobre amigos, as responsabilidades entre amigos são diferentes da de um pai sobre os filhos. Percebe a diferença?

Pais e filhos não são iguais! São seres humanos, merecem respeito, mas não são iguais. Por exemplo, pegue duas laranja, uma verde ali no pé e outra já bem madura, pronta para ser colhida; pegue as duas, olhe para as duas e pergunte: “O que é isso aqui?” A verde é laranja. A madura, o que você vai responder? Também é laranja! Mas não são iguais. E os pais muitas vezes acham que ajudam os filhos quando os colocam em pé de igualdade.            Veja existe um limite de idade na programação da TV, de um filme, etc. Quando os pais permitem que filhos assistam de uma certa forma eles passam a mensagem para os filhos: “Olha só, nós já somos iguais.”

E quando um igual nos corrige, dificilmente a gente aceita!

Normalmente aceitamos a correção de quem admiramos, de quem a gente imagina que está, pelo menos no momento sobre aquele assunto, dominando mais tal assunto, portanto quando o filho olha para o pai e acha que são iguais, ele tem o direito de discordar, e de repente não obedecer e aí criar uma personalidade ligada a sua ideia de momento.  É natural que se obedeça e principalmente que se siga o exemplo de quem se admira.

E outro detalhe. Dificilmente admiramos aquilo que é igual a nós.

Percebe que o diferente a gente admira, a gente gosta mais, o igual é mais rotina mais monótono. Então estou reforçando isso porque, quando os filhos olham para os pais em pé de igualdade, dificilmente vão obedecer, dificilmente vão seguir exemplo.

Sabemos que filhos não nascem com manual de instruções, e até penso ser uma injustiça com os pais, porque para ser um médico você precisa estudar sete, oito anos, depois ficar a vida toda se reciclando, se preparando; um professor precisa também se preparar muito; também um padre; um pastor; um engenheiro para construir um edifício precisa estudar, calcular, medir e tal… Todos para exercerem estas funções precisam se preparar; e os pais precisam do que para serem pais?

Aí que está… O problema é que as pessoas imaginam que para ser pai ou mãe, basta ter um filho. Baita erro, seria a mesma coisa imaginar que ter um piano em casa, te faça um pianista. Particularmente eu conheço muita gente com um piano em casa criando teia de aranha e nunca foi um pianista. Infelizmente muitos pais tem os filhos, mas não são pais.

Penso que hoje as dificuldades que os pais tem em contrariar seus filhos tem causado muita insegurança, a falta de coragem em dizer não quando é não.

Com certeza nossa geração, é a geração dos pais mais permissíveis até agora, mas também é a geração de pais mais inseguros. Vivem repetindo: “onde foi que eu errei; onde foi que eu errei?”

Li uma vez uma frase super impactante que dizia assim: “Só existem filhos vazios porque não existem pais transbordando.”

Talvez o vazio dos filhos de hoje seja exatamente a falta do que transborda dos pais. A falta daquilo que exala dos pais; o exemplo.

É o exemplo que arrasta. As palavras podem até convencer, mas filhos precisam ser arrastados pelos exemplos, e o medo exagerado do autoritarismo faz desaparecer a autoridade.

Certa vez numa palestra em uma escola, tinham pais, alunos e professores, eu ouvi dois comentários que ficaram gravados:

Um pai que disse assim aos professores, até com um ar todo bem intencionado: “O que eu posso fazer para ajudar vocês aqui na educação de meu filho?” Como é? Veja que aquele pai estava dizendo que queria ajudar a escola na educação do filho. Na verdade, a escola é para ensinar, a educação é dos pais, obrigação dos pais.

“Onde foi que eu errei?” Um dos erros talvez seja de terceirizar a educação dos seus filhos. Mas não terminou aí. No meio dessa mesma conversa a diretora respondeu algumas coisas e deixou escapar que certo dia um aluno havia feito uma travessura, algo grave e que ela, não ligou para os pais do aluno porque não queria incomodá-los.”

Como assim? Me desculpe, mas se você não quiser ser incomodado, não seja pai. Toda a responsabilidade assumida gera automaticamente um incômodo.

Talvez alguns professores estejam lendo este texto; talvez você poupe os pais de seus alunos para não incomodar os pais, não faça isso! Ligue, conte o que realmente está acontecendo.

E você pai, não pense que vai ajudar a escola a educar seu filho.

Você vai educar seu filho. A escola vai ensinar.

Pais, eduquem seus filhos para que no futuro você tenha, não para arrancar um sorriso agora.

E o mais importante, somos todos filhos de Deus, e os pais tem filhos emprestados por Deus para serem cuidados, serem educados.

E Jesus deixou bem claro: “Pra quem muito foi dado, muito será cobrado!” E para você foi dado um outro ser, uma outra imagem e semelhança de Deus, e essa imagem e semelhança de Deus te foi dada temporariamente para que você cuide, e até possa chamar momentaneamente de: Meu Filho!