SOBRIEDADE JÁ: O QUE VOCÊ COLOCA NO LUGAR DAQUILO QUE NÃO QUER MAIS?

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Nas nossas primeiras aulas de física aprendemos que dois corpos nunca ocupam o mesmo lugar no espaço.

Isso é muito fácil de se deduzir né?

Onde tem um carro estacionado, outro não pode estacionar naquela vaga de forma alguma e por aí vai.

Mas pensando nessa lei da física, comecei a questionar e cheguei à conclusão: não existem lugares vazios, os vazios sempre são, e serão ocupados. Não tenho aqui nenhuma pretensão de uma aula de física, mas quero criar com você um consenso de que espaços são preenchidos, na grande maioria das vezes, “nossos espaços” são ocupados de acordo com nossas escolhas. Coisas e pessoas que ocupam seus espaços, muito provavelmente você colocou lá, ou deixou que ficasse.

E aí me soa estranho uma afirmação comum que você já ouviu e provavelmente até já fez: Como aquela pessoa é vazia… Como alguém pode ser vazio se todo vazio é preenchido?

Na verdade, pessoas que chamamos de vazias, provavelmente são aquelas preenchidas de algo que você não concorda, ou que de certa forma não gosta.

Quem acompanha meus textos aqui, minhas falas, já percebeu que tenho uma dificuldade grande com o modismo, com essa suposta liberdade, com os desejos a qualquer preço, a tal da ideia de que os fins justificam os meios.

Esse modismo infelizmente, tem de forma sutil incutido nas pessoas a sensação do direito de se desfazer de coisas, de sentimentos, e até se desfazer de pessoas, quando elas supostamente interferem negativamente em seus projetos. Se essa “interferência negativa” é uma pessoa velha, asilo, se é criança, creches e orfanato, e pasmem, se ainda não nasceram, aborto, baseadas na ideia de que se algo ou alguém me atrapalha, eu descarto.

Então, baseado no começo desse nosso papo, o problema é: o que vai ocupar o lugar daquilo que descartei.

Vou abrir um parêntese aqui, e trazer um pouco da minha experiência com pessoas no vício em drogas, álcool etc. A própria medicina já concluiu que a droga entra na pessoa através do sistema compensatório do cérebro, sempre falta alguma coisa, e a droga vem “compensar” ocupando a lacuna da carência. A vida nas drogas, vem sempre depois de uma droga de vida, então concluindo esse parêntese, podemos dizer que sobriedade é saber preencher os vazios, por isso afirmo categoricamente que está cheio de pessoas que nunca usaram drogas, mas não são sóbrias, porque mesmo que não seja com drogas, ocupam mal seus vazios.

Mas, vamos lá!

Com certeza eu, você, já descartamos muita coisa, mas o que colocamos no lugar? Vazio com certeza não ficou, a nossa natureza, como a natureza, recusa o vazio, na ausência da música o silêncio preenche, ou no suposto vazio do silêncio, a música toca, na ausência de alguém, entra outro alguém, ou a saudade, no caso da saudade nem pede licença.

O que você tem colocado no seu suposto vazio? Tem deixado aberto, entra quem quer? O tal do “deixa a vida me levar, vida leva eu…”

Sabe que me veio agora uma curiosidade que gostaria de perguntar para os ateus:

Quem vocês colocam no lugar de Deus? Sim, já que vocês tiraram Deus de suas histórias, o que entrou no lugar?

Não se ofenda que eu disse tirou, pois tirou sim… É uma decisão sua.

Tem uma definição interessante na teologia católica que diz: o homem é o único ser, capaz de Deus.

Que quer dizer?

Que somos os únicos capazes de reconhecer a Deus. Seu cachorrinho, seu gatinho, sua plantinha do jardim, também foram criadas por Deus, porém não sabem da existência divina, o homem sim, inclusive sente naturalmente a necessidade de Deus. Então repito: E os ateus?

Penso que dentro deles sim existe uma bolha, criando um vácuo infinito. Pena que eles não sabem que infinito é exatamente o tamanho de Deus, e colocam a si próprio no espaço do divino, se revestem de tanta auto suficiência e arrogância, que tiram o “D” e o “S” da palavra Deus, deixando só o Eu no meio desamparado.

Uma vez ouvi uma frase interessante, que diz existir muitos jovens vazios, porque os adultos estão transbordando.

Penso que muitos adultos estão transbordando sim, mas transbordando de si próprios, de arrogância, egoísmo, e esse transbordar, que é quase um vômito, joga nos mais jovens essas sensações de vazio e aí começam a dizer que amam a tudo, quando na verdade, pasmem amam também “o vazio” do outro, porque lá, o egoísmo faz crescer bem mais rápido suas fantasias.

Você não tem um vazio dentro de você, você tem coisas que não são suas, nunca imagine preencher plenamente só com coisas ou pessoas, preencher plenamente se deduz que seja um inteiro, e inteiro só Deus.

Se encha de Deus e se sinta cheio do infinito.

Você irá perceber que não é um coração vazio que tem espaço pra tudo, mas sim um coração cheio, cheio de amor, te fará perceber que assim cheio, cabe todas as pessoas que precisam de você.

Não espere passar uma vida inteira pra perceber que você viveu só a metade, não deixe a sensação de vazios, te preencher, você não tem vazios, pode ser que tenha sim, espaços mal ocupados.

Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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