SOBRIEDADE JÁ: “NÓIS CAPOTA, MAS NÃO BRECA…”

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai

Numa viagem de volta pra casa, um carro importado bem mais caro que o meu, me passou, e me chamou atenção um adesivo, no vidro traseiro dele: “Deus é Fiel.” Essa frase de certa forma mostra a fidelidade do proprietário, sua relação com o Divino, acontece que minutos depois eu encostei em um carro bem mais lento, bem velho, se não me engano um Passat daqueles 1978, que eu precisava ultrapassar, e ele também tinha um adesivo: “Nois Capota mais não Breca…”

Sinceramente fiquei um tempo pensando sobre essas duas afirmações, uma de alguém teoricamente mais bem sucedido financeiramente e outro alguém que talvez ainda busque uma realização nessa área.

Dentro desse raciocínio fica claro o engano que pode existir de que pessoas bem vestidas que frequentam restaurante mais caros, tem bons carros, tendem a serem pessoas mais vaidosas, veja que essa frase do Passat desmente isso, e mostra muitas pessoas capotando justamente por não querer brecar, já vi pessoas bem sucedidas extremamente humildes, e vi pessoas por exemplo chegando aqui no Novo Sinai somente com a roupa do corpo, mas vestido de uma arrogância de se assustar, e a vaidade impede a mínima disposição a mudanças, se acham o que não são, e querem que os outros concordem com isso.

Isso é vaidade, um os principais elementos de descontrole de uma vida, e a vida é um hiato entre o nascimento e a morte, e somos capazes de controlar muito mais do que imaginamos, somos capazes de controlar muitas coisas que fazem diferenças de fato.

Muitas vezes olhamos para o outro e imaginamos: Poxa como essa pessoa tem sorte, veja só, passou no vestibular, passou num concurso, é bem sucedido nos seus empreendimentos, isso se a gente olhar com demora, mas na hora de olhar o que fez a pessoa alcançar essas vitórias passamos rápido, e não levamos em conta, as noites que aquele aluno de medicina ficou sem dormir estudando, aquele chefe que deixou muitas vezes a família para horas a mais na empresa.

É só começar a dormir o dia todo, que sua sorte acaba…

Lembro de ter ouvido do pianista Arthur Moreira Lima, ao terminar um concerto, foi interpelado por um fã que disse: eu daria minha vida pra tocar como senhor, ele respondeu: eu dei a minha. Percebe que nossas conquistas estão diretamente relacionadas com o tanto de vida que estamos dispostos a investir.

A vida é muito curta, e depois dos 40 fica mais rápido ainda, e curta demais para que se perca tempo numa existência medíocre, com medo de brecar, de se mudar a rota, e não se assuste quando digo medíocre, sim, medíocre da média, do meio, e esse meio assusta, porque pode ser sim o morno que Jesus disse.

A gente precisa ter a coragem de conhecer a si, identificar os momentos de frear, de acelerar, de mudar a rota, Sócrates dizia assim: “Conhece a ti mesmo.” Saber quem somos é fundamental, nos conhecer sem exceção, a consciência é a chave de todas as transformações, e Jesus que foi também o maior filosofo que existiu nos disse: “Conheça a verdade e a verdade vos libertará.”

Respostas claras, sinceras e objetivas, pra mim mesmo: o que eu quero? Onde isso vai me levar? Quem sou eu? Isso me torna mais feliz ou mais aceito? Isso eu quero? Ou isso eu preciso?

Acho linda a afirmação de que o homem é um ser perfeito, mas não é pronto, caminhamos para a perfeição, a origem da palavra perfeito do latim já diz: feito até o fim.

Participo de uma equipe que ministra um retiro por todo Brasil, chamado Agapeterapia, e temos uma camiseta que divulga esse evento com uma frase sensacional: “Desculpe o transtorno estou em obra.”, temos áreas prontas, outras que precisam de melhoras, e outras que precisam ser criadas, então é construir-me, fazer-me.

Freud autor da psicanalise morreu fazendo essa pergunta que pode parecer estranha: “Porque as pessoas buscam tanto a infelicidade e quando a encontra ficam surpresas como se fosse um acidente.”

Ano após ano repetimos os mesmos erros, é a tal da insanidade, que é procurar resultados diferentes fazendo sempre as mesmas coisas, continuar na mesma velocidade, ou medo de brecar.

Com isso os sintomas de infelicidade disfarçada de insônia, ansiedade, depressão, angústia, fracasso profissional, chegam e ficamos surpresos, o que houve com a minha vida? Houve a nossa ação ou nossa omissão na estrada da vida. Um grande líder indiano, Gandhi dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”, quero um mundo mais humano, vou ser eu mais humano com os outros, quero um trânsito melhor? Serei eu um motorista melhor, quero mais honestidade, serei eu uma pessoa mais honesta, devolvo o troco que me deram a mais, não paro na vaga de idoso ou deficiente. Nós, brasileiros que vivemos perplexos com a corrupção no nosso pais, vamos ser aqueles que não furam fila, que não pedem atestados para serem apresentados na empresa segunda-feira, enfim ser a transformação que queremos ver no mundo.

Que tal então parar de se espelhar no mundo e ser espelho para o mundo.

Não se acostume com o fracasso, com a tristeza, e nem se assuste nem acostume-se com a felicidade, desafie-se, seja qual for a sua idade, e um conselho, reze, reze muito, mas faça o que eu chamo de oração perfeita, que não é aquela que Deus ouve o seu pedido, mas aquela que você ouve o que Deus te pede, faça ser verdade a frase que você repete no Pai Nosso, seja feita a Vossa vontade, e sobre essa vontade divina trace seus planos de vida.

Por Carlinhos Marques

Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”

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