Um mestre estava com seu grupo, dando seus conselhos e de repente sugeriu para que todos saíssem da sala e fizessem uma caminhada por alguns instantes na redondeza de onde se encontravam…
Acontece que antes de saírem, o mestre distribuiu uma sacola para cada um com a orientação: “Quero que vocês coloquem dentro destas sacolas a maior quantidade de pedras que encontrarem no caminho.” Claro que olharam uns para os outros e acharam meio estranho, então o mestre completou: “Se preparem, no momento que chegarem de volta, vocês ficarão muito felizes e também muito tristes.” Veja que ele não disse “vocês ficarão felizes ou tristes”; ele foi bem claro: “vocês ficarão muito felizes e muito tristes.”
Saíram todos, sem entender muito bem o propósito do mestre, mas começaram a andar e pegar pedras. No meio do caminho já começou o questionamento; sempre tem aqueles que discordam de tudo, que questionam tudo, e pior, tentam influenciar os outros com sua opinião pessimista, no caso desestimulando aqueles que já haviam começado a pegar mais pedras. Penso até que com uma certa ironia, “os mais espertinhos” estavam ali com as menores pedras e com as sacolas mais vazias.
Chegou a hora então, em que todos voltaram para a sala, reencontraram o mestre que os lembrou, que seria agora então o momento em que eles ficariam muito felizes e muito tristes. Ele pediu que todos abrissem as sacolas e olhassem as pedras que haviam pegado. Para a surpresa de todos, as pedras haviam se transformado em diamantes.
Foi uma felicidade geral, claro, pois estavam ali agora com as pedras transformadas em diamantes; se cumpriu a primeira parte que o mestre disse; eles ficaram extremamente felizes. Mas acontece que logo começaram a se cobrar: “Poxa, por que eu não peguei mais pedras?” Uns estavam com suas sacolas vazias; foi a hora então em que ficaram extremamente tristes por não terem tido a ousadia de pegarem mais pedras; acharam que “as pedras” era algo demasiadamente pesado para se carregar e preferiram fazer daquela volta, só um passeio, leve, sem o peso das pedras.
Pois é! Pegando carona nessa estória, quero trazer a essência do nosso bate-papo de hoje.
Numa passagem bíblica do livro de Mateus, Jesus fala da porta estreita e da porta larga, onde Ele nos sugere a entrar pela porta estreita, dizem ser a que leva para vida.
Penso que a gente não consegue passar um dia, talvez uma hora, sem ter que fazer uma escolha, uma opção em que porta entrar.
E não faltam opções de portas largas a nossa frente. Aparentemente mais viável, obviamente mais fácil de se entrar, mais cômodo e principalmente nos dias de hoje, muito mais frequentado, mais povoado. Penso que além de muito mais frequentado, os que estão ali passando por esta porta larga, chamam, insistem para que os outros que ainda não se decidiram em qual porta entrar, venham para ela.
A gente é desestimulado a optar pela porta estreita, por outros motivos, é porque normalmente ela está vazia. Parece até que essa tal porta estreita dá passagem para um lugar desabitado, sombrio, enquanto na frente da porta larga formam-se filas, aglomerações para entrar.
Pois é, e sem contar que a nossa tendência em desconfiar de tudo nos faz imaginar que Jesus ao nos dizer sobre a porta estreita, é porque Ele gosta de complicar as coisas, gosta de dificultar as coisas. Ficamos imaginando por que criou a porta estreita; não seria muito mais simples se só existisse a portas largas?
Não! Essa é uma prova; uma prova de amor expressada no livre arbítrio.
Precisamos entender que porta estreita não é obstáculo; ela é uma opção.
Um homem de fé, de fé verdadeira, não vê como uma dificuldade, mas sim uma certeza de estar entrando pelo caminho correto.
Precisamos ter coragem de rejeitar, tudo aquilo que não cabe com a gente dentro da moldura da porta estreita. Toda nossa bagagem, tudo aquilo que dificulta passar por esse lugar mais apertado.
Mas quando a nossa fé vence a dúvida e o medo de entrarmos pela porta estreita, damos o passo para a sala de estar da vida.
Mas precisamos entender que mesmo dentro desta sala de estar, outras portas irão existir neste cômodo, e é preciso sabedoria ao se decidir em qual entrar de novo, não existe uma porta única, definitiva; nós vamos tendo que abrir e ir adentrando portas e portas, salas e salas adentro.
E a vida tende a ser mais generosa, menos complicada, com menos surpresas a cada porta estreita adentrada, ela retribui a quem se arrisca a entrar por elas, privilegia quem descobre os segredos por trás das tais portas estreitas.
Acontece que o inverso também é verdadeiro. A vida acaba punindo e sendo mais dura e severa quando não se opta pela porta certa, quando se escolhe a mais cômoda, a mais larga, a mais frequentada.
Você sempre terá uma porta a sua frente, e o interessante é que nunca será a mesma. Se fosse assim a vida ficaria estagnada, monótona; estaríamos sempre entrando no mesmo cômodo.
Imagino que você, assim como eu, já se enganou algumas vezes com a porta escolhida, sem saber inclusive que se para abri-la, deveria puxar ou empurrar; veja que a decisão começa na escolha da porta, mas ela continua diante da forma que decidimos passar por essa porta. Porque diante de uma porta que abre para dentro, se eu puxar, ela vai se fechar mais.
Definitivamente a minha impressão é que o acesso que a porta larga dá, é em geral um enorme vazio, parecido com a decepção daquelas pessoas lá do começo do nosso papo, com poucas ou nenhuma pedra na sacola, e o arrependimento do sem volta.
Parece até que logo ao entrar, ouvimos a porta larga se batendo com força em nossas costas, nos prendendo nesse vazio quase sempre com muita dificuldade para voltarmos.
Então se você já entrou por algumas portas largas e provavelmente se deu mal, jogue agora as chaves fora.
As dificuldades, que são as pedras pesadas na sua sacola, e a porta estreita a se entrar, serão as dificuldades que se transformarão em joias, em diamantes e te recompensarão no final da caminhada.
Por Carlinhos Marques
Presidente Fundador da Comunidade Terapêutica Novo Sinai, que acolhe dependentes químicos desde 2005 de forma voluntária e gratuita, idealizador do projeto “Sobriedade Já”
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