SOBRIEDADE JÁ 

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Carlinhos Marques - Presidente Fundador do INSTITUTO NOVO SINAI - Foto: Reprodução

ESCOLA NÃO É LAR, MAS LAR DEVE SER UMA ESCOLA

Dias atrás, depois de uma palestra, um pai me disse com um ar de orgulho: “Eu considero esta escola o segundo lar do meu filho.”

Eu entendi o carinho, o reconhecimento, o cuidado. Mas uma pergunta cutucou por dentro: a escola é o segundo lar, mas será que o lar dele está sendo a primeira escola do filho? 

Tem família que terceiriza tanto que a escola vira o primeiro, o segundo e, se bobear, até o terceiro lar. E eu sei, a vida corre, pai e mãe trabalham, a rotina mastiga tempo, energia e paciência. Mas existe uma verdade teimosa: caráter não nasce em sala de aula; nasce na sala de casa.

Hoje existe até “escola em tempo integral”, que, queira ou não, ocupa ainda mais o espaço onde antes morava a formação familiar. A escola ensina muita coisa, mas quem escreve valores é o exemplo, muito mais que a lousa, o giz, o tablet ou o livro.

A escola pode até ser um segundo lar. Mas o lar precisa, a qualquer custo, ser a primeira escola. Porque quando o lar ensina, a escola respira, e finalmente pode cumprir aquilo para o qual sempre foi chamada a ser, escola.

“Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele.” (Provérbios 22,6)

JOAO BATISTA E HERODES PERDERAM A CABEÇA 

Você já ouviu aquele ditado: “Fulano perdeu a cabeça!” 

Geralmente usamos quando alguém age por impulso e paga caro depois. 

Pois bem, na Bíblia encontramos dois personagens que literalmente e simbolicamente perderam a cabeça na mesma história: João Batista e Herodes. 

Mas, curiosamente, o primeiro a perder foi Herodes, e não foi a cabeça física, mas a cabeça moral. Movido por impulso, embriaguez e vaidade, ofereceu a Herodíades o que ela quisesse, e ela pediu a cabeça de João num prato.

E aqui entra a parte incômoda: quando a gente age sem pensar, quando o impulso grita mais alto que a razão, a gente perde a cabeça e às vezes coloca a cabeça dos outros em risco também. E nem preciso dizer o quanto o álcool ajuda pessoas a “perderem a cabeça”, né?

Herodes naquela festa não estava exatamente sóbrio. E quando a gente não está sóbrio seja de bebida, de raiva, de orgulho ou de carências promete demais, fala demais, entrega demais. E depois, quando a sobriedade volta, a paz já foi embora. 

Cuidado: perder a cabeça por um instante pode custar uma vida inteira. 

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação.” (Marcos 14,38)

IMPOSSÍVEL ENSINAR QUEM ACHA QUE JÁ SABE

Engraçado, a gente teme as mentiras, mas esquece que as convicções as vezes são bem mais perigosas. Porque a mentira, um dia, cai. Mas a convicção, ah, essa é arrogante: veste capa de certeza, bate no peito e diz: “Eu tô certo!”

E como ensinar alguém que já decidiu que sabe? Impossível.  

É tentar encher um copo que a pessoa jura que está cheio mesmo estando vazio. 

Travamos a vida porque não aceitamos ouvir, aprender, rever, reaprender. A verdade é que grande parte do nosso atraso espiritual está nessa incapacidade de admitir: “Talvez eu esteja errado.”

E ironicamente, nesse caso até Deus só consegue ensinar quem tem coragem de “desaprender”.

A sabedoria não mora na certeza, mora na humildade de perguntar: “E se eu estiver errado?”

Essa pequena pergunta abre janelas por onde Deus sopra um entendimento novo. 

“Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado.” (Lucas 14,11)

IMPOSSÍVEL HUMILHAR UM HUMILDE 

Vou te contar uma verdade simples: ninguém consegue humilhar um humilde. A humildade verdadeira abre portas que nem a competência, nem o diploma, nem o dinheiro conseguem abrir.

A gente vive com medo de ser humilhado. Mas quem é realmente humilde não teme isso, porque seu valor não está na plateia, mas na consciência tranquila.
Jesus disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.”

E existe um detalhe precioso: ser humilde com superiores é quase obrigação; ser humilde com amigos é cortesia; agora, ser humilde com quem está abaixo, isso sim é nobre. Isso sim é raro. Isso sim parece com Cristo. 

Talento até abre portas, mas apenas a humildade consegue mantê-las abertas.

Como Freud disse certa vez: “As pessoas seriam muito melhores se não se achassem tão melhores.”

É engraçado, quando alguém tenta humilhar um humilde, acaba revelando apenas a própria pobreza de espírito.

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” (Mateus 5,3)

A VAIDADE DA SANTIDADE 

Há uma armadilha tão antiga quanto sutil: a vaidade da santidade.

Sim, existe gente que tenta ser tão santa, que se perde justamente na vaidade de parecer santa.

Buscar virtudes, viver com retidão, ter intimidade com Deus, tudo isso é louvável. O problema começa quando a santidade deixa de ser caminho e vira vitrine. A pessoa ora para ser vista, ajuda para ser aplaudida, serve para ser comentada, tudo muito bonito por fora, mas vazio por dentro.

A vaidade religiosa é traiçoeira: ela transforma devoção em espetáculo e prática espiritual em performance. E, o pior, ela julga.

Quem se acha santo demais acaba olhando de cima quem ainda tropeça no caminho.

A verdadeira santidade é silenciosa. Não precisa de plateia, não precisa de anúncio, não precisa de brilho. 

Jesus já avisou: a mão esquerda não precisa saber o que a direita faz. 

A vaidade da santidade é só mais uma forma refinada de orgulho.
E orgulho disfarçado de devoção sempre acaba longe de Deus. 

“Guardai-vos de praticar vossas obras de justiça diante dos homens para serdes vistos por eles.” (Mateus 6,1)

Por: Carlinhos Marques

Presidente Fundador Instituto Novo Sinai, idealizador projeto “Sobriedade Já” 

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