NO LUTO TAMBÉM LUTO
A palavra “luto” é uma dessas belezas ambíguas da língua portuguesa: escrita igual, significado oposto. No luto substantivo, pesa, aperta, escurece. É o silêncio que se instala quando alguém parte. É o eco que fica onde antes havia voz.
Mas no verbo, “luto” é movimento. É força. É a escolha de permanecer respirando mesmo quando o peito parece pequeno demais. O luto aceita o inevitável; a luta enfrenta o evitável dentro de nós.
Quem vive o luto substantivo precisa, com o tempo e com cuidado, reencontrar o verbo lutar. Não para esquecer, mas para continuar. Para deixar que a vida volte aos poucos, como luz tímida entrando pela janela.
Porque superar o luto é, também, uma luta. E toda luta vencida devolve um brilho que a ausência parecia ter apagado.
“O Senhor enxugará toda lágrima de seus olhos.” (Apocalipse 21,4)
VITIMISMO OU TESTEMUNHO DE FÉ, VOCÊ ESCOLHE
Imagine duas pessoas atravessando a mesma dor, a mesma queda, a mesma perda, o mesmo nó na garganta. Uma escolhe ser vítima: deita-se no chão emocional, esperneia, monta acampamento na própria tragédia e quase deixa um aviso dizendo: “Favor não atrapalhar, estou sofrendo”.
A outra, vivendo a mesma tempestade, escolhe ser testemunha de fé. A diferença nunca esteve no tamanho do problema, mas no personagem que cada um decide interpretar dentro da sua história.
Tem gente que tropeça e transforma o chão em destino final. Outros tropeçam e fazem do tropeço um degrau, e do degrau, um salto. Deus não observa apenas o tombo; Ele observa o que você decide fazer depois dele.
O vitimismo é confortável, macio, quase sedutor. Ele sussurra: “Coitado… desiste”. Já o testemunho de fé exige coragem, exige pé no chão firme quando tudo ao redor balança. É escolher que a dor não será o título da sua história apenas um capítulo atravessado com Deus.
O vitimista aponta para o problema. A testemunha aponta para Deus. Um, busca plateia.
O outro busca propósito. Um repete: “Olha o que fizeram comigo”. O outro proclama: “Olha o que Deus fez em mim”.
“O Senhor é minha luz e minha salvação; a quem temerei?” (Salmo 26,1)
QUE ELE ESTEJA PRESENTE, MESMO SEM APARECER NA FOTO
A vida às vezes parece um álbum de fotos mal reveladas. A gente olha para um instante congelado e acredita que entendeu o todo, quando viu apenas uma esquina da verdade. Nem todo aparente mal vem do mal… e nem todo aparente bem vem do Bem.
Não é complicado, medita comigo, Jesus foi levado ao deserto por Deus. Na foto, o deserto parece abandono, mas no propósito, era preparação, fortalecimento, alinhamento interior. Depois, foi levado ao alto do monte pelo demônio. Na foto, a altura parecia glória, mas no propósito, era cilada, daquelas que brilham por fora e quebram por dentro.
Por isso, cuidado ao interpretar a vida olhando só a moldura. Há desertos que fortalecem mais que jardins. Há alturas que derrubam mais que vales. Há sorrisos perigosos e lágrimas libertadoras.
E no fim, o mais importante nem sempre é onde você está,
Mas Quem está com você, mesmo que Ele não tenha aparecido na foto.
“Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mateus 28,20)
POR QUE O PECADO DO OUTRO PARECE MAIOR QUE O NOSSO?
Temos um talento especial para enxergar o erro do outro com lupa e o nosso apenas com piscar de olhos. A régua moral do ser humano é torta desde a fabricação: o defeito do outro parece sempre gigante, o nosso sempre “detalhezinho”.
Em mais de vinte anos convivendo com dependentes químicos, aprendi algo precioso: muitos que chegam até nós não são fracos, são fortes o bastante para admitir a própria fraqueza. Estão lutando. Lutando contra o vício. Lutando para se reconstruir. Enquanto isso, há muita gente “sóbria” tropeçando não em álcool ou drogas, mas nos vícios invisíveis: orgulho, julgamento, comparação, fofoca.
Sobriedade e abstinência são coisas diferentes. Tem gente aparentemente “certinha” que peca diariamente no silêncio do coração. E é fácil achar o pecado do outro maior… basta não olhar no espelho com sinceridade.
“Não julgueis, para não serdes julgados.” (Mateus 7,1)
O LIVRE-ARBÍTRIO E A INCOERÊNCIA HUMANA
O livre-arbítrio nos deu o dom de escolher e, junto com ele, a capacidade de ser incoerente. Somos o único ser que come sem fome, bebe sem sede, faz sexo sem estar no cio, (agora vão me cancelar), e tragicamente, pode desistir da própria vida, é o único que se suicida.
Passamos anos perdendo saúde para ganhar dinheiro e depois gastamos dinheiro tentando recuperar a saúde. E, mesmo sabendo disso, continuamos repetindo o roteiro. A incoerência humana é quase uma arte: sofisticada, teimosa, persistente.
Acontece que médicos contam que pacientes terminais nunca pedem mais tempo para trabalhar mais, brigar mais, humilhar mais, acumular mais. Eles pedem tempo para abraçar. Para perdoar. Enfim, para ser coerentes.
A vida é simples, o ser humano é que complica. Cada incoerência individual, somada à do outro, transforma o mundo numa pequena tempestade emocional coletiva. Mas ainda assim, Deus insiste em acreditar na nossa capacidade de recomeçar.
“Instrui-me no caminho da tua verdade.” (Salmo 25,5)
Por: Carlinhos Marques
Presidente Fundador Instituto Novo Sinai, idealizador projeto “Sobriedade Já”
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