O MUNDO PRECISA DE MAIS AMADORES
Costumo brincar que o Novo Sinai só permanece firme até hoje porque foi sempre conduzido por amadores. Mas calma: não falo de gente despreparada. Refiro-me aos amadores no sentido mais puro da palavra: aqueles que amam.
Em um mundo obcecado por diplomas e currículos impecáveis, é curioso notar que são os que amam que realmente mudam as coisas. O profissionalismo é necessário, claro. Mas quando falta amor, sobra apenas vazio, porque técnica sem afeto vira máquina.
Lembro-me de uma cena marcante da vida de Madre Teresa de Calcutá: enquanto ela cuidava de leprosos, um político comentou: “Madre, eu não faria isso por dinheiro nenhum.” Ela, erguendo os olhos, respondeu: “Filho, por dinheiro eu também não faria.”
Esse é o segredo. Cursos formam profissionais, eleições escolhem líderes, mas Deus continua chamando os amadores. Porque, no fim, é o amor que dá sabor ao serviço. Sem ele, o currículo é só papel, e a obra se perde na frieza.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.” (1Coríntios 13,1)
COLAVA NA ESCOLA E HOJE COLA NA VIDA
Tem gente que nunca abandonou os velhos hábitos da escola. Antes colava nas provas; hoje continua colando na vida: repete opiniões da internet, frases prontas de “gurus” e discursos enlatados.
Mas viver não é copiar do colega. A vida não tem professor distraído. Se você não estudar, e estudar aqui significa buscar a verdade, refletir, questionar, o risco de repetir de ano é grande.
Quem cola comportamento vive um roteiro emprestado, e às vezes até cópia errado, porque não enxerga toda a resposta, a vida de cada um é única. Nossa existência não aprova quem apenas imita, mas quem aprende, arrisca, rabisca o caderno com erros e acertos.
O mais bonito da vida é que ela aceita rasuras, recomeços e até folhas amassadas. Mas não aceita a covardia de não tentar. E você? Ainda anda de olho na resposta do colega, confiando mais no palpite dele que no caminho que Deus escreveu para você?
“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que possais discernir a vontade de Deus.” (Romanos 12,2)
JOIO AMASSADO VIRA CASCA, TRIGO VIRA PÃO
Esses dias, vi uma foto de um ramo de joio e outro de trigo. Confesso: fiquei impressionado com a semelhança. São quase idênticos, a ponto de enganar até olhos atentos.
Na parábola, Jesus alertou: não arranquem o joio antes do tempo, para não correr o risco de arrancar o trigo junto. É a vida: sempre haverá joio espalhado, e às vezes bem disfarçado, embalado como trigo. O problema é quando o joio se veste de trigo e ganha espaço.
E como distinguir um do outro? Observe a reação nas dificuldades. É na pressão que a essência aparece. O trigo, quando amassado, se transforma em farinha e vira pão. Já o joio, quando amassado, continua casca sem sustento, sem vida, sem fruto.
As provações, no fundo, revelam quem somos. Talvez Deus permita que sejamos “amassados” exatamente para que a essência venha à tona. E no final, não é a aparência que conta, mas o fruto que nasce do coração.
“Pelos seus frutos os reconhecereis. Pode-se acaso colher uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mateus 7,16)
FALAR O IDIOMA CERTO
Certa vez perguntaram ao Padre Vieira, ou ao Padre Anchieta, não me lembro bem, qual era o segredo da boa convivência dele com os índios, gente que nunca tinha tido contato com a civilização europeia. A resposta foi simples e genial: “Eu falo a língua deles.”
Não se tratava de aprender o idioma nativo, mas de usar a linguagem universal do respeito, da empatia, da igualdade. Falar a língua do outro é entrar no território do coração.
Talvez esse seja o drama de muitos pais hoje: não conseguem a atenção ou a admiração dos filhos porque não falam a língua certa. E não é gíria, não é modismo. A língua indispensável de um pai e de uma mãe é o exemplo. Esse, sim, é ouvido e traduzido em qualquer tempo.
E vale também para professores, líderes, amigos: toda relação floresce quando a comunicação não é apenas de boca, mas de vida. Porque o idioma mais convincente continua sendo o do testemunho.
“Sede meus imitadores, como eu também sou de Cristo.” (1Coríntios 11,1)
NO DESERTO, SÓ DE PASSAGEM
Se fôssemos educados para o sofrimento, e não apenas para o prazer, evitaríamos muitas lágrimas. Não estou dizendo sobre um curso de como chorar menos, mas consciência: sofrimentos existem, mas passam. A sabedoria está em se preparar para a travessia.
O problema é a ilusão das redes sociais: comparamos os bastidores da nossa vida ao palco iluminado do outro, e o deserto fica ainda mais árido. É como carregar mochila de pedra em pleno sol.
Mas aqui vai a verdade: o deserto existe, o calor é real, a sede também. Só que o deserto não é casa, é estrada. Não é destino, é passagem.
Portanto, não monte sua tenda na areia. Respire fundo e continue caminhando. Cada passo é um pedaço de deserto vencido. Porque todo deserto, por mais longo, tem horizonte — e horizonte sempre é saída.
“Eis que eu vou abrir um caminho no deserto, e rios no ermo.” (Isaías 43,19)
Por: Carlinhos Marques
Presidente Fundador Instituto Novo Sinai, idealizador projeto “Sobriedade Já”
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