Vereadora afirmou que nunca expôs nenhum colega da Casa e se comprometeu a ser mais cuidadosa com palavras e atitudes: “E reafirmo, como figuras públicas, não temos nada a esconder da população. Nosso trabalho precisa sempre ser sempre guiado pela transparência e pelo respeito e pelo compromisso com o bem comum.”
Jorge Honorio
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A 24ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Votuporanga/SP, desta segunda-feira (21.jul), marcou o retorno do Recesso Branco e sem projetos pautados previamente para votação, os holofotes na Casa de Leis se voltaram para à denúncia protocolada pelo vereador Marcão Braz (PP) na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar contra Débora Romani (PL), por, segundo o texto, infringir o Código de Ética e Decoro Parlamentar com “gravações clandestinas de áudio e vídeo em seu aparelho celular nas dependências da Câmara.”
Conforme noticiado pelo Diário, após a 2ª sessão extraordinária da Casa de Leis, realizada no dia 7 de julho, o clima belicoso envolvendo a vereadora, que se declarou ‘independente’, e a tropa de choque do governo Jorge Seba (PSD)/Luiz Torrinha (PL) se tornou insustentável.
Na oportunidade, vale relembrar, após atritos com colegas, sendo o principal o embate com o vereador Sargento Marcos Moreno (PL), a parlamentar teve denúncia embasada na conduta, segundo Marcão Braz no texto protocolado, tomada naquela sessão, quando os trabalhos foram suspensos por cinco minutos para que os vereadores pudessem consensuar no tocante ao projeto de autoria do Poder Executiva, visando a desafetação de área institucional para bem dominical, objetivando sua alienação, especificamente de uma área de 10.054,30m² para construção de uma escola estadual no bairro Pacaembu.
“Venho, respeitosamente, apresentar formal representação contra a Vereadora Débora Romani pelos fatos a seguir narrados: A representada tem adotado, de forma sistemática e reiterada, a prática de realizar gravações clandestinas de áudio e vídeo com seu aparelho celular, sem a devida autorização dos presentes. Tal conduta tem ocorrido em diversos ambientes da Casa Legislativa, incluindo: corredores da Câmara Municipal; reuniões abertas; reuniões fechadas e durante as sessões plenárias”, afirmou trecho da denúncia.
“Especificamente na Sessão Extraordinária ocorrida no dia 07/07/2025, quando houve suspensão dos trabalhos por 5 (cinco) minutos para esclarecimentos entre os vereadores sobre projeto em votação, a representada, de forma dissimulada e sem conhecimento dos demais parlamentares, passou a gravar/filmar com seu celular as conversas mantidas entre os vereadores. Esta prática tem se tornado corriqueira por parte da representada, configurando um padrão de comportamento inadequado e contrário aos princípios éticos que devem nortear o exercício do mandato parlamentar”, emendou.
De lá para cá, em Recesso Branco o processo que, se aceito, poderia culminar, em no prazo de até 90 dias, em punições variadas, como desde arquivamento, censura verbal/escrita, suspensão temporária, ou até mesmo à pena máxima de cassação do mandato, ficou no aguardo da primeira sessão ordinária de retorno para destravamento dos trabalhos.
Nesta segunda-feira, ao usar a palavra na tribuna, visivelmente incomodada, a vereadora adotou um tom pacifista para se desculpar com os colegas de Câmara, enaltecendo a figura e dirigindo-se um a um: “Hoje eu venho a essa tribuna com humildade e respeito pedir desculpas ao vereador Marcão Braz. Caso em algum momento eu tenha sido invasiva nesta casa, gerando desconforto aos nobres colegas ao registrar nossas tão importantes reuniões. Sou uma senhora de 63 anos, vinda de uma família humilde e constituí minha vida através do empreendedorismo. Já tive comércio, restaurante, metalúrgica e infelizmente não tive a oportunidade de fazer uma faculdade. Sou mãe de dois filhos que mesmo com empregos estáveis também não conseguiram cursar o ensino superior. Quando olho aqui para esta Câmara, eu sinto orgulho de estar ao lado de pessoas com trajetórias tão ricas”, pontuou Débora Romani.
“Com sabedoria, a experiência de vocês, acumulada ao longo de anos de mandato, traz a esta Câmara algo que nenhum livro ensina, maturidade política. Equilíbrio nas decisões e firmeza nos momentos mais difíceis. São vocês, com esta bagagem construída com os pés no chão, que formam a base sólida de apoio para os demais vereadores, especialmente para nós que estamos iniciando. Cada atitude, cada posicionamento de vocês carrega uma história, uma lição, um exemplo. E eu, gente, eu só tenho isso aqui, um celular. Nunca fui de política. Não sou estudada. Minha campanha. Eu fiz com este mesmo celular nas ruas. Aliás, é um Xiaomi com pouquíssima memória, que para registrar um vídeo, eu preciso apagar o outro. Aqui na Câmara, principalmente nas comissões, eu faço anotações, registros, o que está sendo falado, para eu poder estudar depois com calma. Os termos usados pelos advogados da Casa, o Regimento, as Leis. Tudo é muito novo para mim. Por isso, mais uma vez eu peço desculpas, não apenas ao vereador Marcão Braz, mas a todos os vereadores que porventura tenham sido invadidos ou incomodados em sua intimidade. Nunca falei mal de nenhum dos senhores, nunca divulguei vídeos de nenhuma reunião ou encontro interno. E reafirmo, como figuras públicas, não temos nada a esconder da população. Nosso trabalho precisa sempre ser sempre guiado pela transparência e pelo respeito e pelo compromisso com o bem comum”, continuou a vereadora.
“A partir de hoje, comprometo-me a ser muito mais cuidadosa com as minhas palavras e atitudes. Às vezes, a vontade de fazer o bem atropela as formas e prejudica o trabalho. E quem perde com isso é justamente quem mais precisa de nós, a população de Votuporanga”, concluiu.
Em seguida, entre os anúncios da sessão, a leitura do ofício de retirada da representação de Marcão Braz para “reanálise e melhor estudo”, segundo consta no documento.
Contudo, a retirada da representação mantém a vereadora na alça de mira dos vereadores, podendo ser reapresentada a qualquer momento, ou seja, a qualquer ato considerado de ‘desagrado’. O episódio deve obrigar Débora Romani a repensar o modo expositivo de condução do mandato, sob risco de abrir um precedente perigoso, podendo ameaçar a existência do próprio mandato legislativo na Câmara Municipal de Votuporanga.