Sinal forte, conexões reais

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Alberto Martins Cesário, professor e escritor - Foto: Reprodução

Alberto Martins Cesário, professor e escritor
Instagram (@alberto.prof)

Em um mundo onde tudo parece se conectar sem fio, onde informações são transmitidas em milésimos de segundo, é fácil imaginar o professor como um sinal de Wi-Fi. Um sinal que, por vezes, é forte e estável, mas que, em outras ocasiões, enfrenta interferências e obstáculos. Se você me perguntasse, anos atrás, o que mais me preocupa no ofício de ensinar, eu responderia: “Prender a atenção dos alunos.” A verdade é que, no cenário educacional atual, essa tarefa é tão desafiadora quanto encontrar um sinal forte em meio a um aglomerado de dados.

Quando entrei na sala de aula no começo desta semana, confesso que minha empolgação era palpável. Eu tinha certeza de que o conhecimento que eu carregava poderia iluminar mentes e despertar a curiosidade. Era como o sinal de Wi-Fi mais potente que você pode imaginar, com uma cobertura que prometia abranger cada canto daquela sala. Porém, no decorrer da semana, logo percebi que o sinal poderia ser afetado por diversas interferências e que, muitas vezes, eu mesmo era um dos maiores motivos desta oscilação no sinal.

Com os anos, aprendi que a atenção das crianças é um bem precioso, e sua capacidade de se distrair é infinita. A primeira vez que percebi isso foi em uma aula de história. Estava explicando sobre o comércio e os fenícios, cheio de entusiasmo, quando percebi que meus alunos pareciam mais interessados nas mensagens que recebiam no celular do que nas ideias do quanto os fenícios foram importantes para a expansão do comércio que eu tentava transmitir. O que antes era um discurso entusiasmado se transformou em um eco distante.

Percebo que a geração de hoje, imersa em telas e com um acesso constante à informação, tem um modo de aprendizado que desafia qualquer professor. O ritmo acelerado da vida moderna é como aquele sinal Wi-Fi que oscila, você tenta se conectar, mas as distrações estão sempre presentes. Os alunos estão acostumados a consumir conteúdo em alta velocidade, e a ideia de esperar para aprender algo novo soa de forma estranha e, por vezes, entediante.

Em um momento de reflexão, pensei: “Como posso ser o sinal de Wi-Fi que todos desejam se conectar?” E, assim, comecei a buscar maneiras de tornar minhas aulas mais dinâmicas e envolventes. Desde o uso de tecnologias interativas a jogos educativos, cada nova tentativa era como instalar um novo repetidor para expandir o sinal. Mas mesmo assim, muitas vezes me sentia frustrado ao ver o olhar de desinteresse em algumas faces.

Mas, como em qualquer jornada, há momentos de conquista, uma vez decidi fazer uma atividade ao ar livre com meus alunos. Em vez de estar preso a quatro paredes, levamos a aula para um lugar diferente, estudávamos notícia e os meios de comunicação, e fomos visitar uma rádio. A energia deles era palpável. Olhares curiosos, interessados, participativos e uma alegria incontestável, consegui captar a atenção de todos, não apenas porque estávamos fora da sala de aula, mas porque criei um ambiente onde eles se sentiam livres para explorar.

Estávamos discutindo sobre a importância da divulgação da notícia e a seriedade de verificar fontes confiáveis. Em vez de apenas ler sobre o assunto, os alunos se tornaram radialistas, editores e repórteres. A interação com o mundo da comunicação fez com que eles se conectassem de uma forma que nunca vi antes. Foi como se o sinal de Wi-Fi tivesse sido ampliado, e todos pudessem acessar uma nova dimensão do aprendizado. O entusiasmo no ar era contagiante, e cada resposta que vinham me dar parecia um sinal de que a conexão havia sido estabelecida.

Entretanto, mesmo os momentos de conexão são seguidos de desafios. Em outra aula, decidi abordar temas mais complexos, como a leitura e interpretação de mapas. A intenção era provocar reflexão, mas percebi que alguns alunos estavam desconfortáveis. O sinal de conexão estava presente, mas as interferências emocionais tornaram-se um obstáculo. A empatia, um componente fundamental da inteligência emocional, se tornou uma ferramenta necessária para navegar por essa situação.

Promover um debate aberto, permitindo que os alunos expressassem suas opiniões e conhecimentos prévios sobre o assunto. A partir dessa interação, criei um espaço seguro para que eles pudessem se sentir à vontade. E, assim, em meio a um mar de ideias e emoções, estabelecemos uma conexão mais profunda. A aula, que antes parecia um desafio, se transformou em uma experiência rica e significativa.

Com o passar do tempo, notei que os alunos começaram a se engajar mais nas atividades. Eles estavam mais dispostos a participar e a compartilhar suas ideias. Essa mudança de comportamento foi um verdadeiro alívio. Era como se o sinal de Wi-Fi, que antes os deixava desconectados, agora tivesse se tornado forte e confiável.

Em cada pequena conquista, seja em um debate acalorado ou em uma atividade em grupo, fui lembrado de que o papel do professor é muito mais do que transmitir informações. É também sobre formar conexões humanas. Cada sorriso, cada momento de entendimento, cada olhar curioso que vejo me lembra que, mesmo quando o sinal parece fraco, sempre há uma maneira de aumentar a força da conexão.

No entanto, o desafio persiste. As interferências são constantes e muitas vezes imprevisíveis. O que pode ser uma distração em um dia pode se transformar em uma motivação poderosa em outro. Por isso, a adaptação se tornou uma parte vital da minha metodologia. Aprendi a estar atento às mudanças de humor, às novas tendências e, acima de tudo, às necessidades dos meus alunos.

E assim, a jornada do professor é repleta de altos e baixos. Como um sinal de Wi-Fi, às vezes conseguimos fazer uma conexão forte e duradoura, outras vezes, nos deparamos com barreiras que parecem intransponíveis. Porém, cada desafio é uma oportunidade de aprender e crescer, tanto para os alunos quanto para nós, professores.

No final das contas, ser professor é como ser um engenheiro de redes: precisamos estar sempre atentos às interferências, prontos para ajustar a antena e ampliar o sinal. E, por mais que o mundo lá fora esteja mudando rapidamente, a essência do ensino, que particularmente acredito ser a conexão humana, permanece inalterada. Cada dia em sala de aula é uma nova aventura, e, apesar das dificuldades, estou aqui, preparado para conectar, inspirar e aprender junto com meus alunos.

No fim das contas, se me perguntarem o que significa ser um professor na era digital, minha resposta será simples, é ser o sinal de Wi-Fi que nunca desiste, sempre buscando novas maneiras de se conectar e engajar, mesmo em meio às tempestades da modernidade. Porque, assim como a educação, a conexão é uma jornada contínua e eu não trocaria isso por nada neste mundo.

Até a próxima semana navegando em alta velocidade.

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