Dom Paulo Mendes Peixoto –
Diante da claridade e da consciência que uma pessoa pode ter das coisas, ela consegue encontrar possibilidade para caminhar por novos rumos e fazer uma verdadeira transformação nas suas atitudes e modo próprio de viver. A escuridão consegue fechar as portas para o brilho da luz e tudo se torna difícil para quem quer abrir novos horizontes na perseguição e construção de seus objetivos.
A Palavra de Deus é uma luz para quem vai ao seu encontro e a coloca em prática. Ela não dá tanto valor às aparências, como a situação social, econômica, política ou religiosa da pessoa, mas leva em conta o seu interior e a formalidade contida no seu proceder. Palavra que se apresenta como um mistério que está por detrás das aparências e consegue provocar transformação de vida.
Jesus se apresenta como luz do mundo e deseja que todos os seus verdadeiros seguidores também brilhem. Para isto eles devem ser desacomodados e atuantes, com o testemunho de fidelidade no seguimento, tanto na bondade, na justiça e na verdade, diante da comunidade. Não basta fugir das trevas e dos erros de infidelidade, mas ser construtor do dom da vida no Reino de Deus.
A Campanha da Fraternidade de 2020 quando fala da vida como dom divino, ela quer provocar na sociedade uma grande reviravolta na forma como esse dom está sendo tratado em nosso país. É relevante o número de pessoas que não são enxergadas pela enorme maioria do povo brasileiro. Existe uma cegueira cultural institucionalizada, causadora de marginalização e violência.
Parece ser muito difícil para um cego guiar outro cego. Olhando para o Brasil, há uma forte impressão de que muitos cegos estão à frente de grandes instituições e não conseguem ver os estragos feitos com sua má administração. Infelizmente isso é uma realidade, principalmente quando grande parte do povo fica fora dos projetos geradores de vida, dignidade social e cidadania.
Devemos concordar que o universo da exclusão mata a vida, mata a sociedade. Não tenho dificuldade de dizer que os males que afetam o mundo são consequências evidentes da desigualdade e desproporção nas oportunidades. O “coronavirus” não seria um alerta sobre a necessidade de reviravolta na condução do mundo! Não é hora de ficar com os olhos vedados e não enxergar o que está por vir.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.