Por que sofrer se a gente pode ser feliz?

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Denize Gonçalves

 

Um homem vivia sob o forte calor escaldante de um deserto, amargurado pela falta de água e pela aridez da solidão. Todos os dias ele voltava os olhos para o céu e clamava a misericórdia de Deus, a fim de que Ele o tirasse daquela triste e dura realidade. Tempos depois, seu pedido foi concedido. De passagem por aquele deserto, um casal estava a passeio e, ouvindo o clamor daquele homem, convidaram-no a ir para onde moravam, que lá teria ambiente ameno, água abundante e a presença de pessoas amigas. O homem aceitou o convite. Os dias foram se passando e, no entanto, não se adaptara, por nada, à nova vida. Queria voltar para o seu deserto.

Na sua opinião, por que ele queria voltar: porque, simplesmente, não se adaptara à nova vida, ou, porque reclamar era a melhor maneira de se ver como coitadinho, uma vítima dos sofrimentos da vida? Vale lembrar que, em sã consciência, ninguém quer se sentir coitado…

Este sentimento de querer permanecer no mesmo lugar, faltando o necessário para uma vida mais confortável e protegida é, simplesmente, para não sair da zona de conforto, e isto é muito mais comum do que podemos imaginar.

O primeiro passo para identificarmos a velhice em nós é quando começamos a dizer a seguinte frase: não vejo a hora  de voltar pra minha casa. Fincar raízes em nossa casa e não pensar que um dia sairemos dela, de um jeito ou de outro, é um grande prejuízo para a nossa vida que nos acarretará  sofrimentos  e a  quem precisar cuidar de nós.

Por que sair da nossa casa para ir morar com um filho ou uma filha é tão assustador e repugnante assim? O que carregamos conosco que nos dificulta tanto a ideia  de dependermos morar com um desses?

Então, pensemos. Um dia, se preciso for morarmos na casa dos nossos filhos, vamos ter que nos adaptar ao novo ambiente, às regras daquela casa e não eles às nossas. Se eles são econômicos com água e energia elétrica e nós, não; se eles têm hábitos de oração e nós, não; se eles se alimentam com comida saudável e nós, não; se eles são gratos a tudo e a todos e nós, não, teremos que nos adaptar à nova vida, mesmo se tudo for ao contrário dos exemplos citados acima, caso contrário, geraremos, naquele ambiente, um transtorno por causa dos conflitos de personalidades e princípios morais. Ora, nós não queremos que as pessoas respeitem os nossos hábitos quando elas vão em nossa casa?! Ou, não?!

“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver”, disse Mahatma Gandhi (1869-1948), líder pacifista indiano, principal personalidade da independência da Índia, então colônia britânica. Logo, concluímos que é preciso que nos preparemos para envelhecer a fim de facilitarmos a convivência nesta fase da vida, tanto para nós, quanto para aqueles que, de acordo com as suas possibilidades, se disporão a cuidar de nós em caso de necessidade.

E meditemos sempre em torno do tema: por que sofrer se a gente pode ser feliz?

 

  • Denize Gonçalves – Psicanálise Clínica-Psicopedagogia – É colaboradora deste Diário

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