Polícia Federal inicia investigação sobre declaração de Bolsonaro associando vacinas ao risco de contrair Aids

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Foto: Reprodução

STF determinou abertura de inquérito no dia 3 de dezembro, e no dia 23 de fevereiro a PF instaurou a apuração. Delegada do caso vai pedir cooperação internacional, já que Bolsonaro citou supostas fontes externas.


A Polícia Federal iniciou a investigação sobre a declaração do presidente Jair Bolsonaro (PL), que no ano passado associou a vacinação contra Covid a um risco de desenvolver Aids. Essa relação, que não existe, foi feita por Bolsonaro em uma transmissão nas redes sociais, no ano passado.

O inquérito foi aberto no dia 3 de dezembro por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A Polícia Federal instaurou a apuração no dia 23 de fevereiro.

A delegada responsável pelo caso, Lorena Nascimento, afirmou que vai pedir colaboração internacional nas investigações. Isso porque Bolsonaro citou dados que atribuiu a organismos de outros países. Segundo a delegada, será preciso que a Coordenação-Geral de Cooperação Internacional tome as seguintes ações:

  • checar no Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido se o país teria divulgado em seus sites oficiais a informação de que “os totalmente vacinados […] estão desenvolvendo a síndrome de imonudeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto”;
  • conferir no Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid), dos Estados Unidos, a existência de um suposto estudo citado por Bolsonaro. O presidente mencionou uma suposta publicação de profissionais do instituto segundo a qual a maioria das mortes da gripe espanhola teria acontecido devido a uma pneumonia bacteriana secundária, e que a proliferação dessa bactéria ocorreu pelo uso de máscaras. As autoridades sanitárias deixaram claro ao longo dos dois últimos anos que as máscaras, na verdade, previnem doenças.

De acordo com a delegada, Bolsonaro é investigado nesse inquérito pelos crimes de epidemia, de infração de medida sanitária preventiva e de incitação ao crime.

A PF vai analisar ainda a confiabilidade de sites eletrônicos que serviram de base para as informações replicadas pelo presidente da República na live.

Transmissão na internet

A notícia falsa foi divulgada pelo presidente em uma live nas redes sociais no dia 22 de outubro, e desmentida pelo Fato ou Fake, por especialistas e por outras plataformas de checagem nas horas seguintes. A live de Bolsonaro foi retirada do ar por Facebook, YouTube e Instagram.

Na transmissão, Bolsonaro disse que relatórios oficiais do Reino Unido teriam sugerido que pessoas totalmente vacinadas contra a Covid estariam desenvolvendo Aids “muito mais rápido que o previsto”. A afirmação é falsa, e não há qualquer relatório oficial que faça essa associação.

Na semana seguinte, o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, reafirmou que as vacinas usadas no Brasil são seguras, e que nenhuma delas aumenta a “propensão de ter outras doenças”.

O inquérito foi aberto por Moraes, que criticou a Procuradoria-Geral da República que informou ter aberto apuração interna.

O ministro do STF afirmou que não caberia à Procuradoria-Geral da República abrir apuração interna já que o STF foi provocado a partir de uma notícia-crime contra o presidente e afastar a supervisão judicial.

Segundo o ministro, é preciso apurar a relação entre essa fake news e a atuação de uma suposta organização criminosa investigada pelo Supremo e que envolve aliados do presidente Bolsonaro.

*Informações/g1